Dentro de campo, a camisa não pesa, nas palavras do técnico Cristóvão Borges. Nas cabines de imprensa improvisadas no Beira Rio, em Porto Alegre, em função da reforma do estádio para a Copa do Mundo de 2014, jornalistas gaúchos perguntavam: quem é esse garoto com o número 25? Auremir, de 20 anos, mostrou que Jonas, ex-Coritiba, que deve chegar nesta segunda-feira para assinar com o Vasco, não terá vida fácil se pretender ser o titular da lateral direita. Volante de origem, o jogador contratado ao Náutico, foi uma das melhores opções de jogada dos cruz-maltinos no empate em 0 a 0 com o Internacional, na noite de sábado (veja vídeo acima). Acertou 34 de 37 passes, com seis desarmes e uma roubada de bola.
O pernambucano não chamou atenção apenas com a redonda nos pés. Após o apito que determinou o fim do primeiro tempo, ele seguiu em direção ao estreante da noite, o uruguaio Forlán, melhor jogador do Mundial de 2010. Acanhado fora de campo, pouco acostumado aos microfones, deixou a vergonha de lado para pedir a camisa que o craque usou em seus primeiros 45 minutos em campo no Brasil. Um troféu que pretende guardar com carinho.
- Eu que pedi a camisa quando a bola parou. É um jogador de alto nível, conhecido mundialmente, então foi um prazer trocar a camisa com ele e ter essa lembrança. Foi muito difícil de marcar, porque é um atleta de muita qualidade, mas tentei dar o meu melhor.
Indagado se presentearia alguém com o uniforme vermelho de número 7, ele se apressou em avisar que essa ninguém tira de suas mãos.
- Essa vou guardar, não é? É a primeira camisa dele aqui, justamente por isso vou guardar, não dou de presente para ninguém. Vou juntar todas as camisas de jogadores do nível dele.
Apesar do desejo de colecionar camisas de craques, Auremir ainda é iniciante. Ao responder quantas camisas já conseguiu para o seu "estoque", riu:
- Tenho a minha, da apresentação no Vasco! Agora tenho essa aqui. Vou colocar lado a lado. E depois vou pegar uma do Juninho Pernambucano.
Auremir é fã do "Reizinho" por ser "pernambucano e guerreiro", como disse em seu primeiro dia com a Cruz de Malta no peito. Ele começou na base do Sport de Recife, mas teve de abandonar a bola há três anos por conta de uma fatalidade. Passou a se dedicar à mãe e à irmã depois que seu pai faleceu, vítima de um AVC (acidente vascular cerebral) - o número 25 é uma homenagem a ele, o dia do aniversário. Em 2010, contudo, resolveu voltar diante de um convite para treinar no Náutico. De lá, só saiu para assinar com o clube da Colina até o fim de 2015.
Auremir não se assusta com chegada de Jonas
Por essas e outras, a chegada de um concorrente para a posição parece coisa pouca para o garoto que sonha ter "20% do sucesso de Juninho" no clube. Jonas é aguardado nesta segunda-feira em São Januário para exames e assinatura do contrato, também até o fim de 2015.
- É uma experiência nova, o Vasco é uma grande equipe, estou procurando aproveitar, vou buscar meu espaço sempre, independentemente dos outros jogadores que estiverem na posição. Cabe ao professor escolher quem está melhor no momento.
No que depender de Cristóvão Borges, a "briga" está autorizada. Depois da partida com o Inter, o técnico deixou claro que não privilegiará Jonas apenas por ter sido um reforço no qual o Vasco teve de investir para contratar - o clube pagou R$ 1,5 milhão por 50% dos direitos sobre o lateral. Elogiou Auremir e avisou: jogará quem estiver melhor.
- A camisa não está pesando para ele, chegou e jogou. Aqui não tem essa de titular, não. Aqui joga quem está bem, todo mundo disputa posição. Por isso a gente continua forte. Essa disputa é importante, saudável, para que todo mundo possa crescer. O espaço é pouco para muita gente boa. Então tem de ter briga, trabalho, e quem estiver melhor vai jogar.