Por 12 anos, o então lateral-esquerdo Rubens Junior teve de conciliar a carreira de jogador com seu hobby: tocar música eletrônica. Por onde passou, levou e atualizou seus equipamentos, tocou para amigos e, para desgosto de técnicos e dirigentes, ganhou fama de baladeiro. Em 2007, Rubens, à época com 33 anos, pendurou as chuteiras após uma passagem sem muito destaque pelo Vasco. A partir daí, a brincadeira ficou séria e o hobby virou profissão.
No ano passado, ele tocava para amigos em Maresias, no litoral de São Paulo, quando um dos convidados o chamou para se apresentar em uma casa noturna local.
- Sempre tive equipamento em casa, mas era uma coisa muito particular. Nunca imaginei tocar em uma casa noturna para todo mundo. Aos 14 anos, antes de fazer teste em time de futebol, tocava na ADPM (clube de Taubaté), mas nunca pensei em tornar isso uma coisa profissional - disse o lateral, que em campo orgulha-se do seu maior título: a Taça Libertadores de 1999 pelo Palmeiras.
A experiência agradou. O DJ Rubens Junior, especializado em house e progressive house, possui equipamento estilizado com a marca “RJunior” e até um CD lançado com a participação da cantora Janies, sua cunhada. Além de casas noturnas do Vale do Paraíba, tem se arriscado na noite paulistana, com pelo menos um evento por semana agendado.
Revelado pelo Palmeiras em 1995, Rubens acredita que sua carreira foi curta justamente devido ao seu gosto pela noite.
- Se você não se cuidar, a noite te atrapalha. Jogador tem de ter muito cuidado. Depois da primeira vez que você sai, fica marcado. Aí, a partir da segunda vez, as pessoas passam a enxergar fantasmas, te ver em lugares que você não foi. Paguei pelo preço de muita coisa que não fiz. Isso me atrapalhou muito.
De toda sua carreira, Rubens Junior só se arrepende de uma decisão: deixar o Porto-POR em 2002, um ano antes de o Dragão iniciar a campanha que culminaria no título da Liga dos Campeões da Europa.
- Um dos maiores arrependimentos na minha vida foi ter saído de lá. O Atlético-MG me queria por empréstimo, e o Mourinho (José Mourinho, então técnico do Porto) me disse para ficar porque contava comigo e que iríamos ganhar tudo no próximo ano. Falei que não estava jogando no Porto, que a relação estava desgastada e queria voltar. Um ano depois, foi difícil acompanhar tudo de longe - lamenta.
Solteiro no exterior, aos 26 anos, Rubens Junior acredita que tenha faltado experiência para tomar a melhor decisão.
- Talvez tenha faltado discernimento. Na época, ninguém sabia quem era Mourinho. O Porto é muito conservador, e eu era muito imaturo para saber – disse o ex-atleta, que recebeu o GLOBOESPORTE.COM em sua casa, em Taubaté, a 130 km de São Paulo, no Vale do Paraíba, onde possui um espaço para recepcionar amigos e se apresentar.
Durante sua passagem pelo clube português, Rubens entrou em rota de colisão com a diretoria por diversas vezes. Em uma delas, afirma que a fama de baladeiro mais uma vez atrapalhou.
- Cheguei para treinar no domingo de manhã, quarta-feira tinha Porto e Real Madrid, entrei no vestiário e um diretor gritou: "Senhor Rubens, reunião". O Deco me perguntou o que eu havia feito, e eu não tinha feito nada, havia ficado em casa. Fui até a sala de reunião e estavam o Mourinho, o presidente e toda a diretoria. Eles me diziam: “Você não respeita o Porto, não respeita a cidade”. E eu não tinha feito nada. Aí o presidente me disse: “Você bateu o carro às 5h da manhã, eu tenho fotos”. E para explicar que eu tinha emprestado o carro para um amigo? Só o Mourinho acreditou - lembra.
A fama fez com que ele começasse a mudar seus hábitos. Ou melhor, ele tentou mudar.
- Treinava de manhã e ficava o dia todo em casa, às vezes tocava alguma coisa, ia ao shopping. O descanso fazia parte do treino, mas o problema era quando chamava os amigos. Aí o descanso ia embora.
Do Porto, levou a amizade do meia do Fluminense, Deco, hoje parceiro em um site de cadastro de jogadores e em um projeto para a criação de uma empresa de marketing.
Campeão da América
Antes de ser vendido ao Porto, Rubens Junior ainda atuou no Palmeiras campeão da Libertadores de 1999. O lateral havia se destacado em 1998 pelo Coritiba, mas, como a temporada europeia começava no meio do ano, decidiu jogar os primeiros seis meses de 1999 no Verdão, que detinha os seus direitos.
- Felipão me chamou e disse: “Vem pra cá que eu vou te dar um título”. Na hora, pensei que era só pra me ter no time, mas quando fomos campeões, a primeira pessoa que ele viu fui eu, e me disse: “Eu te falei”. Isso me marcou muito, nunca achei que ele fosse lembrar - disse o ex-lateral, que teve a oportunidade de jogar contra Corinthians nas quartas de final e contra o River Plate-ARG, nas semis, com a expulsão do titular Júnior.
E se engana quem pensa que Felipão adotava linha dura com os atletas. Se na Copa do Mundo de 2002 ele leu "A Arte da Guerra" e recentemente levou o capitão do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) para uma palestra antes da final da Copa do Brasil, o ritual era menor em 99.
- Tinha um padre palmeirense que ele levava sempre, mas não era como hoje. Ele tem esse jeito durão, mas é com os outros, de fora. Quando eu estava começando, via os "cobras" chegando meio virados ao treino, depois de uma noitada, e o Felipão deixava o cara dormindo. Às vezes, surgia alguém na maca machucado do dia para a noite. Eu pensava: “Ele se machucou onde, na escada de casa?”. Ele (Felipão) sabia que se colocasse o cara para treinar era ruim pra todo mundo. Por outro lado, ele tinha o jogador na mão, porque esse cara pensava: “Pô, o Felipão me tirou do treino, então eu tenho que correr e jogar bola no domingo, senão ele me engole”.
Além de Palmeiras, Coritiba, Porto, Atlético-MG e Vasco, Rubens Junior atuou por Taubaté, Bragantino, Atlético-PR e Corinthians, onde disputou a Libertadores de 2006, no elenco que reunia Tevez, Mascherano e Nilmar.
- Time por time, o nosso era melhor que este atual que ganhou a Libertadores-2012. Mas o clima não era muito bom, era muita conversa paralela. Muitos falavam do Ricardinho ter voltado, outros questionavam o Marcelinho. Era muita gente que não falava com o outro, mesmo passando em frente - disse.
Mas o futebol virou lembrança para Rubens. Seus ataques, agora, são nas pickups de DJ. E sua referência, antes Roberto Carlos (o lateral, não o cantor), passou a ser David Guetta.