Eurico: ‘Não tem nome, no Vasco, para me derrubar na urna. Ganho de qualquer um'

Domingo, 15/07/2012 - 11:01

10 de julho de 2012. Acontece o que milhares de vascaínos esperavam: Eurico Miranda, ex-presidente administrativo do Vasco e presidente do Conselho de Beneméritos do clube, recebe o editor do OLHO VIVO e, numa entrevista exclusiva que reproduziremos em três partes, por ter sido concedida, pelo ex-dirigente, em duas horas consecutivas de conversa, no seu escritório do centro da cidade, na qual o nosso entrevistado "abre o verbo", como nos seus dias de gala, e fala sobre o Vasco, além do futebol brasileiro.

" Luiz Orlando: eu não dou entrevista a qualquer um. Falo um pouquinho, de vez em quando, porque você sabe que eu sou Presidente do Conselho de Beneméritos do Vasco, mas só aceitei conceder essa entrevista porque era para você. Li o último Olho Vivo e não sei como você permite que o Piragibe conceda entrevista sobre um tema como este; a política do Vasco. Ele não existe."

Mas, espere aí, Eurico: ele é um conselheiro do clube e como tal tem o direito de se manifestar e de apresentar as denúncias que achar conveniente. Porém, vamos direto ao que interessa: sua entrevista receberá o espaço relativo ao tamanho que você queira lhe dar. Se você só quiser falar numa frase, ela terá o espaço de uma frase. Se você quiser responder à todas as perguntas que tenho, ela terá quantas edições forem necessárias.

" É claro que eu vou falar! Num dia que não é o mais propício porque, primeiro, estou vindo de um exame, no coração, e, segundo, porque eu estou "pau da vida" com o que aconteceu, ontem, envolvendo esse Fla X Flu e contra o qual eu briguei durante 20 anos para acabar com isso. Bastou eu sair de cena, pra tudo voltar. Abriram um espaço enorme para esses cem anos do Fla X Flu e colocaram o Vasco para o segundo plano, numa condição de coadjuvante quando o Vasco é ator principal. Ele já havia sido rebaixado e, agora, sai da condição de locomotiva para ser vagão. O VASCO TEM QUE PUXAR E NÃO SER PUXADO. PODE, ATÉ, HAVER DUAS, TRÊS OU QUATRO LOCOMOTIVAS, MAS O VASCO TEM QUE SER UMA DELAS.

SOBRE ARREPENDIMENTOS

“O Eurico, você não se arrepende de ter colocado a logomarca do SBT, na camisa do Vasco, numa final de uma competição que é de exclusividade, no televisamento, da REDE GLOBO?

Não me arrependo. Diante do que eles fizeram, com relação àquele jogo, passando uma imagem de que eu era um sangüinário e que tinha expulso os feridos do campo, não poderia fazer outra coisa. No princípio da paralização, tudo estava uma beleza. O atendimento era muito melhor ate que fosse chegando a hora da novela. Logo que eu entrei, no gramado, fui dizendo que o jogo não interessava mas, sim, os feridos. Até helicóptero baixou, no campo. Depois que as autoridades deram condição de jogo, aí eu queria jogar para não perder por 1 X 0. Fizeram uma montagem e puseram algo que ocorrera no minuto número dois, transpondo para o minuto número 60. No primeiro quadro, havia o atendimento aos feridos e no segundo quadro, a invasão de gente que não tinha motivo algum para estar ali. Aí, na edição, inverteram, como se o Vasco estivesse colocando gente para fora sem atender os feridos, objetivando, com isso, a realização do jogo."

Mas, e a queda da grade protetora que fica entre as arquibancadas e a pista de São Januário?

" Houve a queda, mas a colocação da grade protetora, no Vasco, era perfeita. Se nós tivéssemos colocado a mão francesa, a grade não cederia e o pessoal ficaria preso, entre ela e a multidão que veio caindo pelas arquibancadas. Estava tudo normal; não houve superlotação. Ocorre que saiu uma briga, na Força Jovem, isto motivou um corre-corre. Aí, as pessoas se apavoraram e o restante é aquilo que todos sabem (jogo Vasco X São Caetano, em São Januário, final da Copa João Havelange). Ainda bem que a grade cedeu."

Você não se arrepende de ter eliminado grande benemérito?

" Não eliminei ninguém. Quem eliminou foi o Conselho Deliberativo e nem eu poderia pedir tal coisa. Isto foi na época do Calçada e eu votei a favor das eliminações do João de Almeida e do Itamar de Carvalho. Acontece que eles, junto com outros, foram signatários de uma ação que bloqueou nossas contas bancárias as minhas e as do Calçada -, numa ação assinada por uma pessoa que nem é do Vasco, o Biscaia (advogado e político). Aí foram todos eliminados. Os beneméritos só poderiiam sofrer esta eliminação por intermédio do Conselho. Quando assumi a Presidência do Conselho de Beneméritos, comutei a pena de todos eles."

Você não se arrepende de ter proibido os jogadores de falar com a imprensa?

Se eu proibi os jogadores de falar com os jornalistas, proibi de maneira correta e voltaria a proibi-los. Jogador e treinador quando dão entrevistas para a imprensa, só criam problemas. Este relacionamento entre os profissionais de futebol e os jornalistas tem que ser regulamentado. No exterior, isto não é permitido da maneira como se faz, aqui. Quando queremos regulamentar, aí, dizem que estamos tirando a liberdade. Não se pode confundir liberdade com licenciosidade."

Você não se arrepende de ter expulso o Roberto Dinamite da Tribuna de Honra?

Não expulsei o Roberto Dinamite da Tribuna de Honra. Eu estava, na minha sala, e tiraram o Roberto da Tribuna sem que eu soubesse. Havia uma ordem anterior, dada por mim, segundo a qual só entrariam, na Tribuna, os meus convidados. Bastava o Roberto pedir um convite à presidência e entraria. Quem tomava conta, quis saber se ele, Roberto, tinha sido convidado e foi o Calçada quem o chamou para ficar no camarote dele, tanto é que o levou para lá. No final, disseram que foi o Eurico quem expulsou o Dinamite da Tribuna e ele, então, fora se abrigar no camarote do Antônio Soares Calçada."

Você não se arrepende de ter parodiado um rei de França e ter dito que o Vasco era você?

" Não me arrependo porque, na verdade, não disse isso. Entenda o que aconteceu: eu tinha que "meter o pé na porta", abrir o meu espaço e o espaço do Vasco; contrariar o sistema porque este sistema só privilegia a dupla Fia Flu. Então, fui assumindo tudo e o que não nos era permitido, passou a ser."

Você não se arrepende de ter tirado a chapa da última eleição, quando esta chapa faria a minoria, ou seja, ocuparia as 30 cadeiras que, hoje, são ocupadas pela Cruzada Vascaína?

" Eu não quis participar do processo eleitoral, que era viciado. Criaram esse VASCO É MEU com muitas irregularidades. Gente que não tinha um ano, como sócio, passou a ser remido. Esse VASCO É MEU foi trazido pelo Olavo Monteiro de Carvalho e é altamente prejudicial ao clube. Esse pessoal foi expulso do Botafogo e de outros clubes e veio se abrigar no Vasco. Faça uma pesquisa nacional e pergunte a torcedores de diversos clubes, quem eles gostariam de ter como dirigente na defesa de seu clube do coração e veja se o resultado não será Eurico Miranda. Em todos os lugares nos quais eu chego, sou reverenciado. Por mais que eles façam, não conseguirão desassociar minha imagem do Vasco porque está gravada "a ferro e fogo". Não há como me apagar. EU SAÍ PORQUE QUIS. TIVE QUE EXTIRPAR UM TUMOR DE ALTA MALIGNIDADE, NA BEXIGA, TIREI E, GRAÇAS A DEUS, ELE NÃO RESCIDIVOU. NINGUÉM ME TIROU DO VASCO. EU SAÍ. E TEM MAIS: NÃO TEM NOME, NO VASCO, PARA ME DERRUBAR, NA URNA. GANHO DE QUALQUER UM E PODEM SE JUNTAR PORQUE EU GANHO DELES TODOS, COMO JÁ SE JUNTARAM E EU GANHEI."



Fonte: Jornal Olho Vivo – Ano I – Nº 3 – pág. 15 e 16