Ex-Vasco, Russo diz que não foi à Copa de 98 por causa da bebida

Terça-feira, 10/07/2012 - 15:29

Fama, dinheiro e muitas festas. Estes são ingredientes que compõem um mistura explosiva para a carreira de vários jogadores de futebol. Casos como o do Imperador Adriano e mais recentemente de Jobson, ex-Botafogo, que viram o talento se perder por motivos extracampo, não são raros no mundo da bola. Em Pernambuco, um dos exemplos mais conhecidos é o do lateral-direito Russo. Conhecido pela habilidade e qualidade ofensiva, o jogador revela que só não disputou a Copa do Mundo de 98 porque se esqueceu de pedir a “saideira”.

Convocado por Zagallo para os torneios preparatórios antes do Mundial da França, Russo, que após um ótimo início de carreira no Sport, despontava como um dos melhores laterais do país, acabou sucumbindo ao alcoolismo. Em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM/PE, o jogador reconheceu que este foi o fator determinante para sua queda de rendimento nos gramados.

- As noitadas regadas a muita bebida e prostituição me atrapalharam bastante. Tudo aconteceu muito rápido na minha vida e, como era jovem, as más influências me levaram para o caminho das farras. Saía com jogadores que bebiam, fumavam e cheiravam (cocaína). Nunca me envolvi com drogas, mas cheguei a treinar bêbado algumas vezes. Com isso, meu desempenho em campo foi caindo. Você pode ser o Pelé, mas se não estiver bem fisicamente, não tem jeito, vai sentir o corpo pesar.

Como a maioria dos jogadores, Ricardo Florêncio Soares, o Russo, teve uma origem humilde. A ascensão meteórica no futebol começou aos 18 anos, quando, num “golpe de sorte” foi parar no Sport. O então desconhecido garoto da periferia do Recife, que ganhou o apelido na juventude por causa dos cabelos amarelos, iria estrear justamente em um clássico contra o Santa Cruz.

- Estava jogando futebol na favela e fui chamado para fazer um teste no Sport. Pouco tempo depois que assinei o meu primeiro contrato, tive a oportunidade de fazer um coletivo no time profissional. Na época, o titular da lateral-direita era o Givaldo, que estava machucado. Daí o Hélio dos Anjos colocou o Rogério, improvisado, mas ele sentiu a perna no treino e deu lugar a Dário, que também se lesionou no treinamento. Passaram ao meu lado e disseram: “Menino você tem estrela”. Fui para o jogo contra o Santa Cruz e não saí mais.

Seleção Brasileira

Do Sport, Russo foi para o Vitória-BA, onde foi chamado pela primeira vez para vestir a camisa da seleção brasileira.

- Lembro que estava chegando para treinar e alguns jornalistas vieram me dizer que eu havia sido convocado para a Seleção Brasileira. Não acreditei e na hora até brinquei com a situação. Só acreditei que era verdade quando vi o meu nome no Jornal Nacional. Foi uma sensação indescritível, porque o sonho de todo jogador é, um dia, chegar à Seleção.

Em 2003, depois de um grande Campeonato Carioca pelo Vasco, o lateral-direito se transferiu para o Spartak Moscou. Foi no frio do Leste Europeu, que o jogador começou a perceber que deveria se afastar do álcool para poder continuar jogando futebol.

- Na Rússia, a ficha começou a cair do mal que estava fazendo para a minha vida. Tinha três anos de contrato com o Spartak, mas não me adaptei. Havia saído do calor do Rio de Janeiro para jogar com -15 graus. Ainda aguentei um ano lá, mas pedi para voltar. Acredito que se não tivesse problemas fora do campo, até hoje, com 36 anos, ainda estaria na Europa.

Depois da má experiência no futebol do exterior, Russo voltou para Pernambuco, onde jogou novamente pelo Sport, em 2005, pelo Central-PE e Santa Cruz. No retorno, entretanto, não conseguiu ter o mesmo brilho de quando deixou a terra natal.

- Fiquei devendo bastante, na minha segunda passagem pelo Sport. Depois, no Central, consegui jogar bem e fui pra o Santa Cruz. Porém, traí a confiança de todos, voltei para o álcool e fui dispensado. Eu não tinha limites. Só parava quando não conseguia mais me levantar.

Da época em que estava no auge do futebol, Russo carrega uma grande amizade: o meio-campo Chiquinho, parceiro do início de carreira no Sport, Vitória e depois seleção brasileira, que sempre tentou tirar o amigo do caminho das bebidas.

- O Chiquinho é um irmão para mim. Sempre me deu bons conselhos, me carregava das festas para casa e foi a ponte para que eu me tornasse um novo homem. Foi ele quem me apresentou, ainda nas categorias de base, à mulher que hoje é minha esposa. Ela foi fundamental para que eu largasse o vício e me tornasse uma pessoa ligada à família.

Ariana Florêncio explica como foi difícil convencer o marido, com quem está casada há seis anos, a se recuperar.

- Foi muito complicado para mim. Passei por poucas e boas, mas tudo valeu à pena. Hoje, ele é um ótimo pai e marido e quem o conhecia antes, percebe a mudança. Estou muito feliz com tudo o que está acontecendo nesta nova etapa da nossa vida.

Russo, que está sem clube (o último foi o Brasil de Pelotas), afirma que ainda não pendurou as chuteiras. O jogador também revelou o desejo de seguir no meio do futebol depois que se aposentar.

- Ainda não chegou a hora de parar. Enquanto tiver pernas, vou procurar jogar bola. O futebol é maravilhoso e penso em, no futuro, ser auxiliar técnico ou quem sabe treinador.



Fonte: GloboEsporte.com