Todas as vezes que eu assisto a um jogo disputado em gramados da Europa, como a decisão recente da Eurocopa, vencida pelo combinado Barça/Real, com show de bola e distribuição de chocolate pelos espanhóis, meu olhar foca as arquibancadas do estádio.
O Estádio Olímpico de Kiev, na Ucrânia, com seus lugares marcados, dividiu ao meio os fanáticos torcedores das duas equipes, sem a necessidade de um pelotão de policiais fardados para impedir que bandeiras e desordeiros se engalfinhem por qualquer razão.
Ou sem razão.
Nossos estádios, aos poucos, aos poucos, viram arenas.
Nos tempos dos dedos de César, as arenas eram construídas para isolar os leões e os gladiadores do público.
A proteção era para o espectador.
Nos campos de futebol do lado de cá do além-mar , a proteção se inverte, é para os contendores, juízes e quem mais estiver dentro das quatro linhas do campo e arredores.
Lembro que em 1967, pegue a calculadora e some quantos aninhos faz. Contou?
Pois é, faz muuuuuito tempo.
O Vasco entrou em campo para disputar a primeira partida de um quadrangular disputado em Cádiz, Troféu Ramon Carranza, contra o Real Madrid.
Os times perfilados, de frente para a tribuna de honra do estádio, ouviram os hinos nacionais, na cerimonia de praxe, que precede todos os jogos internacionais.
Foi então, que meus olhos constataram algo inacreditável.
-Brito! Você já viu que o estádio não tem alambrado?
-Já! E daí?
-Edaí? E se este povo todo resolver invadir o campo? Morre todo mundo.
-Ih, Valdir. Tu tá por fora. Aqui ninguém invade campo de futebol.
No dia seguinte, jogamos contra o Penharol. Como sempre, jogo envolvendo sul-americanos, o pau comeu no final. E entre os feridos não foi registrada a presença de torcedores.
Estes estavam sentadinhos na arquibancada, apupando os incivilizados brasileiros e hermanos uruguaios.
De lá pra cá. Pouca coisa mudou. Aqui nestas plagas, os alambrados continuam necessários.
As arenas, que ainda são em menor número, pelo menos tem um muro alto que desacorçoa torcedor a pular para o campo.
Inté quando?
Fonte: Blog Na Boca do Gol - Valdir Appel