Aldemir Gomes tem 19 anos e já é vice-campeão brasileiro dos 200 m rasos, atrás apenas do principal atleta do país na prova. Flamenguista, o jovem carioca subiu ao pódio do Troféu Brasil de atletismo com camisa e bandeira do arquirrival dos gramados, o Vasco. Com o discurso de profissionalismo afinado, ele se firma como revelação do esporte e vai a Londres como uma das esperanças do revezamento 4x100 m do país, um dos mais fortes do mundo.
“Sou Flamengo, mas comecei no Vasco. Meu apreço pelo Vasco é enorme, o atletismo do clube é a minha paixão. Mas no futebol eu sou Flamengo”, explicou Aldemir Gomes, que ficou um centésimo atrás de Bruno Lins na briga pelo ouro no Troféu Brasil.
O flamenguista que sempre foi federado pelo Vasco passou por um hiato na carreira no ano passado, quando defendeu um time de Campinas. Ele voltaria para o Rio de Janeiro para um projeto da Universidade Gama Filho, mas a ideia não deslanchou, e ele e a técnica tiveram de voltar ao antigo clube para seguirem na briga.
A parceria rendeu. No último fim de semana, Aldemir conseguiu pontos importantes para o Vasco no Troféu Brasil com o vice nos 200 m. “Pô, vem um moleque de 19 anos dar um trabalhão desses? Estou com 25, não estou velho, mas a perna já cansa”, disse Bruno Lins, após a prova, aos risos. A segunda colocação ainda valeu a Aldemir uma vaga olímpica individual.
Ele já havia feito o índice para os 200 m, mas precisava vencer uma disputa direta com Diego Cavalcanti e Sandro Viana para saber quem ficaria com as duas vagas restantes do país (a primeira já era de Bruno Lins). Aldemir terminou com o segundo melhor tempo do trio, seguido por Diego Cavalcanti (Sandro Viana só competirá no revezamento).
Uma conquista e tanto para um garoto que até um ano atrás sequer competia com atletas de primeiro nível. Quando conquistou o índice pela primeira vez, neste ano, surpreendeu a todos no atletismo. Repetiu o feito mais duas vezes e ganhou o status de “revelação”.
“É assim porque ele está aparecendo agora, mas nós sempre soubemos. Quando ele apareceu no nosso projeto, já víamos que ele levava jeito. Ele é um jovem tranquilo, que segue o nosso planejamento, tem atenção, foco”, descreve a técnica Vânia Valentino, que o acompanha desde a infância dura.
Aldemir perdeu o pai e a mãe logo cedo, em um intervalo de dois meses. Órfão, foi morar com a avó e com a ajuda dos tios na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. Foi levado ao atletismo no estádio Célio de Barros, no complexo do Maracanã, por um primo que já praticava o esporte.
Desde cedo, ele se identificou com diferentes provas, mas começou a treinar mais forte no salto em distância. Quando teve uma lesão grave no tornozelo, adquiriu um trauma da prova e foi se arriscar na velocidade. Mais alto que a média dos seus rivais, ele se encaixa em um novo perfil de esportista, que usa as passadas largas para melhorar seu desempenho.
“Além do trauma, ele saiu do salto em distância porque estava crescendo muito. Na velocidade ele sabe usar isso a favor. Ele está melhorando cada vez mais”, avalia a treinadora Vânia.
Fonte: UOL