Na última semana, após perder para a Ponte Preta dentro de casa, o técnico do Botafogo, Oswaldo de Oliveira, desabafou contra a torcida, dizendo que, no Rio, o Glorioso joga sem pressão da torcida, diferentemente dos clubes de outros estados, que sempre têm a torcida como aliado determinante para o time da casa. A declaração, no entanto, não cabe apenas para o Alvinegro, mas sim, para todos grandes cariocas.
O Botafogo tem uma média de 6.900 torcedores presentes em seus três jogos no Engenhão, o que significa menos de 15% da capacidade do estádio. É bem verdade que isso não é de hoje, tanto que uma cervejaria transformou parte da arquibancada em uma imensa placa de publicidade.
Outros números comprovam que o problema é mais amplo. O Fluminense recebeu nos seus primeiros jogos deste brasileiro apenas 5.200 pessoas por jogo, com média de apenas 2.200 pagantes. Já o Vasco elevou sua média após o jogo com o Cruzeiro (que teve 18 mil pagantes), mas mesmo assim não passa de 6.500 pessoas presentes por jogo em São Januário.
Por último, o Flamengo, apesar de não estar em seu melhor momento, consegue manter média de 14 mil torcedores presentes em suas partidas. Ainda assim, a maior torcida do Brasil está apenas em oitavo lugar entre todos os participantes da competição quando o assunto é público pagante – atrás de Sport, Corinthians, Grêmio, Atlético-MG, Internacional, Bahia e até do Náutico. Neste ranking, o Vasco é o 13º, o Botafogo aparece em 16º e o Fluminense, 18º, superando apenas Portuguesa e Atlético-GO.
A média carioca hoje está em 6.619 torcedores por jogo, 4 mil a menos que a média dos quatro grandes paulistas. No ranking dos nove estados que têm clubes na Série A, o Rio de Janeiro está em sétimo lugar, à frente apenas de Santa Catarina e Goiás.
Com números tão baixos, o Rio contribui negativamente para que o campeonato entre para a história. A média global de presença nas seis primeiras rodadas é a segunda pior neste período da competição desde a criação do sistema de pontos corridos: 10.244 torcedores por jogo.
O problema da falta de torcida nos estádios do Rio de Janeiro não vem de hoje e não se restringe ao Campeonato Brasileiro. O estadual deste ano teve a pior participação de público dos últimos cinco anos – inclusive em jogos decisivos. A equipe da Super Rádio Tupi foi ouvir dirigentes, jogadores e treinadores para tentar entender o que acontece com a torcida carioca.
O futebol internacional mostra que a bilheteria é uma importante fonte de renda para os clubes. O bicampeão alemão Borussia Dortmund teve média de mais de 80 mil torcedores durante a última temporada, arrecadando quase 100 milhões de euros.
Como se não bastasse a baixa média de público, os profissionais do futebol carioca vem reclamando da postura da torcida nas arquibancadas. Em comparação com os adeptos de outros países, há um grau de exigência muito maior: é preciso vencer e jogar bem sempre. Quando um dos dois não acontece, não tarda muito virem as vaias.
Confira abaixo o que os jogadores e o técnico do Vasco falaram sobre o assunto.
Por que o carioca não vai mais aos estádios?
Felipe: Deve ser o estilo do Campeonato. Pode ser por não haver um pacote de venda de todos os ingressos. Normalmente o torcedor pensa “está no início do campeonato” e acaba não ficando muito motivado. Encher o estádio mesmo, só do meio para o final, se estivermos lá em cima, e espero que estejamos. Isso faz parte da cultura do nosso futebol.
Eder Luis: De torcedor você pode esperar qualquer coisa, por conta da emoção. A torcida não deixa de apostar no time de uma hora para outra. Eu, recentemente, tive a felicidade de fazer o gol do título (hoje, tem sido vaiado). Quando nada dá certo, o torcedor vê o time perdendo em casa e deixando de ser líder, aí vêm as conseqüências.
Cristóvão Borges: Acho que está dentro da normalidade. Acho que as primeiras partidas nunca têm um público muito grande. Tivemos diante do Cruzeiro um público muito bom, foi uma pena que nós tenhamos perdido. Precisamos ter uma maior regularidade, pois aí não teremos queixa, porque aí a torcida vai vir.
Alecsandro: Para nós, jogadores, é ruim jogar dez da noite. Imagine para o torcedor, que no outro dia tem que trabalhar e não pode levar seu filho, pois é muito tarde. Agora que estamos jogando de domingo a domingo, o torcedor vai uma vez por semana, mas quando começa a maratona quarta-domingo, é difícil. A condição financeira do brasileiro não é muito alta e, em alguns lugares, o ingresso é muito caro. O estádio acaba ficando vazio e isso é muito ruim para o futebol.
Rodolfo: A gente precisa do apoio da torcida. Tem que ser a nossa camisa 12 em qualquer situação, perdendo ou ganhando. Eles têm que saber que estamos correndo, se dedicando, não existe ninguém de sacanagem. É melhor pensar um pouco, pois um aplauso vale que uma vaia, que pode acabar tirando um jogador de uma partida.
Agora, o que vocês pensam da torcida carioca em relação às de outros estados?
Eder Luis: Quando seu patrão está no seu pé, te exigindo, você fica um pouco perdido, quer resolver rápido. Imagina um estádio cheio cobrando do time? A gente quer acelerar o jogo e aí, ao pegar uma equipe inteligente como a do Cruzeiro, em 90% das vezes você terá uma derrota, isso é certo. Mas isso não vai mudar, o torcedor quer ver vitória e o time bem, vamos procurar isso. Sabemos que dentro de casa é importante vencer, mas precisamos do apoio da torcida nos momentos difíceis.
Felipe: Há uma carência muito grande de convívio com os jogadores, talvez seja isso. O Vasco é um time grande, a cobrança já vem de berço. O importante é a torcida estar os 90 minutos do nosso lado para a gente superar as dificuldades.
Cristóvão: O Vasco não vai aos outros estádios toda hora, então quando a gente chega, as pessoas ficam muito mais felizes, por ser mais raro. Aqui (no Rio) não, a gente está em contato com a torcida daqui todo dia.
Fonte: Superesportes