Segundona de PE tem 3 ex-vascaínos: Leonardo, Chiquinho e Landu

Quarta-feira, 27/06/2012 - 12:18

Clubes sem poder aquisitivo, campos desestruturados e veteranos que fariam inveja a qualquer campeonato de showbol. Esse é o cenário da Série A2 do Campeonato Pernambucano, que terá início nesta quarta-feira, com 15 participantes lutando para alcançar as duas vagas para a elite do futebol estadual. Por incrível que possa parecer, o grande destaque da competição será o Íbis, que após dois anos volta a disputar uma competição oficial de olho no acesso e também em recuperar o título de pior time do mundo.

O feito certamente é contraditório, mas entre os dirigentes do Pássaro Preto é considerado plano de marketing tanto subir como ser massacrado. Porém, para entrar em campo, o Íbis teve que inovar na hora de montar seu elenco. Sem campo próprio e dinheiro para formar o grupo, o presidente do clube, Ozir Ramos, teve que recorrer a atletas de final de semana.

Mas se nos estádios os espetáculos são comprometidos pela falta de estrutura, nas arquibancadas as apaixonadas torcidas do interior prometem fazer uma grande festa, que se estenderá do litoral ao Sertão. Afinal de contas, o torneio é a esperança de dias melhores em 2013. Para isso, alguns clubes apostaram em jogadores que fizeram sucesso no passado como o atacante Leonardo, de 38 anos, e o meio-campo Chiquinho, com 37 anos, ambos com passagens pelo Vasco.

Fora de campo também há rostos conhecidos. Mirandinha, ex-Corinthians, é o treinador do Afogadense.

Leonardo espera jogar ainda por mais dois anos
Leonardo espera jogar ainda por mais dois anos
Chiquinho brilhou no Sport e no Vasco ao lado de Juninho Pernambucano
Chiquinho brilhou no Sport e no Vasco ao lado de Juninho Pernambucano
Landu foi campeão Pernambucano em 2011 com o Santa Cruz
Landu foi campeão Pernambucano em 2011 com o Santa Cruz


No pior time do mundo, estreantes e anônimos buscam espaço

A intenção dos dirigentes do Íbis é fazer com que o clube esteja na Série A1 no período em que Pernambuco receberá a Copa das Confederações e Copa do Mundo. Uma tentativa de alavancar a marca por todo mundo.

Para isso, o Pássaro Preto montou um elenco peculiar. Muitos não se dedicam apenas ao futebol. A maioria se divide entre os treinos da equipe e suas profissões. Formado por advogados, contadores, padeiros - e até atletas profissionais - o grupo costuma treinar separadamente, uma vez que é quase impossível conciliar os horários dos jogadores. Para o goleiro e advogado Raphael Passos, as dificuldades não conseguirão tirar o brilho da equipe.

- Estou aqui para tentar ter sucesso como jogador, assim como na minha carreira de advogado. O esforço é muito grande, mas vamos fazer de tudo para que possa valer a pena.

Além dos horários, o técnico Marcos Costa possui outro adversário: a falta de local para treinar. Sem campo próprio, o Pássaro Preto é obrigado a recorrer à praia de Boa Viagem para poder condicionar a equipe. Porém, apesar dos obstáculos, o comandante garante que o Íbis entrará na competição pensando no título.

- Vamos jogar de igual para igual. Estamos disputando uma segunda divisão, onde todo mundo tem dificuldades. Então, posso dizer que podemos não ter uma boa estrutura, mas vamos lutar muito pelo acesso.

Para o presidente do clube, o pior adversário não será nenhuma equipe e sim, o bolso. Sem verba para manter o elenco, Ozir Ramos admite que não conseguirá bancar uma folha de pagamento. De acordo com o mandatário, ainda existe amor à camisa no futebol.

- Nosso grande problema é financeiro. Nossos jogadores não terão salários, só poderemos pagar uma ajuda de custo. Tentamos elaborar uma situação que diferencia o pagamento por vitórias e empates.

Para montar o elenco, o clube contou até com a crise financeira vivida pela Europa. Ao menos é o que garante o atacante Collin, que antes de acertar sua chagada ao Íbis estava no futebol grego.

- Antes de vir para o Íbis eu estava na Grécia, mas por conta dessa crise na Europa muitos clubes estão passando por grandes dificuldades. Aí, estava passando férias em Paulista, recebi uma proposta e decidi ficar aqui.

Sertão faz do passado o passaporte para o futuro

Mas a Série A2 do Pernambucano não vive só de folclore e casos inusitados. No que depender do Afogadense, o Sertão ganhará mais um representante na competição principal do ano que vem. Para conseguir o acesso, a equipe de Afogados da Ingazeira, cidade do Sertão do Pajeú, que fica a 378km do Recife, investe em nomes experientes, como o atacante Leonardo, que brilhou com as cores do Sport, Vasco, Corinthians e Palmeiras, na década de 90.

O comando técnico da equipe fica por conta de ex-atacante Mirandinha, que também desfilou por vários clubes de ponta nos tempos de atleta. Determinado a voltar à elite do futebol estadual, Mirandinha aposta no clima quente do Sertão do Pajeú e na qualidade técnica do seu elenco para garantir o acesso.

- Aqui é um sol para cada pessoa. Já treinei o Araripina, que também fica no Sertão, mas aqui é muito mais quente. Creio que isso dificultará a vida dos outros clubes. Além disso, temos uma equipe qualificada, com bons jogadores e vamos entrar forte.

Ídolo da torcida do Sport e acostumado a enfrentar grandes clubes, o atacante Leonardo chega ao Calango com a esperança de disputar no ano que vem seu último Pernambucano contra Sport, Náutico e Santa Cruz. A idade, no entanto, não tirou a habilidade do atacante, que ainda sonha em atuar contra os grandes clubes de Pernambuco

- Tenho mais uns dois anos jogando futebol e quero voltar a disputar um Campeonato Pernambucano. A minha única chance é subindo com o Afogadense e vou fazer de tudo para conseguir isso. Sei que não tenho mais a mesma mobilidade de antes, mas quero dar muitas alegrias para essa terra que me aceitou de braços abertos.

Terra do frevo investe em craque do showbol

Acostumada a arrastar multidões no período carnavalesco, Olinda tenta conquistar a inédita vaga na primeira divisão do Estadual com o clube que carrega o nome da cidade. E para não perder o passo, e equipe será comandada pelo experiente Nereu Pinheiro, conhecido por revelar vários craques no futebol pernambucano. Dentre eles, o meio-campo Chiquinho, que se destacou com a camisa do Sport nos anos 90 e chegou a defender clubes como o Vasco e o Botafogo, mas que já tinha abandonado a carreira há três anos.

No entanto, após uma partida de showbol, o treinador decidiu convidar o atleta para retornar aos gramados, que aceitou o convite por gratidão ao seu descobridor.

- Fazia muito tempo que eu não jogava. Já tinha encerrado a carreira, mas o Nereu acabou me chamando para defender o Olinda e não tinha como falar não. Foi ele que me tirou da favela e me levou para o futebol. Além disso, sou morador de Olinda há 32 anos e terei orgulho em ver esse time na primeira divisão.

Além dele, Nereu Pinheiro também conseguiu “garimpar” o volante Alexandre Oliveira, que teve boas passagens pelo Santa Cruz e o lateral-esquerdo Xavier, que também viveu no Tricolor do Arruda sua melhor fase na carreira e chegou a defender o Palmeiras. Com tantos atletas experientes, a esperança do treinador é que o Olinda consiga surpreender na competição.

- Temos uma equipe experiente e com garra. Consegui convencer o Chiquinho a nos ajudar e creio vamos conseguir. Já batemos na trave duas vezes e está na hora de fazer esse gol. Não me considero favorito, porque favoritismo é uma palavra muito forte, mas temos boas chances.

Vitória investe no profissionalismo para voltar à elite

Dentre os participantes também existem clubes que fazem do profissionalismo a arma para alçar voos mais altos. Um bom exemplo disso é o Vitória, que após ser rebaixado na temporada passada buscou inovar na preparação para retornar à elite.

Forte no futebol feminino, o Vitória busca conquistar seu espaço também entre os homens. Além de apostar em nomes conhecidos pelos torcedores pernambucanos, como o atacante Landu, o clube investiu forte na profissionalização do seu departamento de futebol para melhorar o desempenho da equipe.

Para isso, realizou uma inédita parceria com a Universidade Federal de Pernambuco que tem como objetivo traçar um perfil fisiológico de todos os jogadores. Na prática, os atletas são submetidos a exames cardiológicos onde fica evidenciado quais os impactos causados pelos treinamentos em cada setor, o que permite ao departamento de fisiologia do clube traçar um plano de treino diferenciado para cada posição.

Otimista, o presidente do Vitória, Paulo Roberto, deposita todas as suas fichas na melhoria da estrutura do clube, para que a cidade possa voltar a figurar na elite do futebol estadual.

- Não tenho dúvidas que essa parceria com a Universidade Federal renderá bons frutos. Com ela, nós poderemos ficar sabendo de tudo que ocorre com nossos atletas, desde a condição física até o melhor treino para cada um. Isso representa um ganho, que será visto também nas categorias de base.

Campeão pernambucano em 2011, quando vestia as cores do Santa Cruz, o atacante Landu acredita que sua experiência poderá ajudar ao Tricolor das Tabocas a levantar o troféu da competição.

- Tenho uma boa experiência e posso ajudar muito com o meu futebol. Sou um jogador rápido e certamente vamos fazer uma grande competição. Pode apostar que o Vitória vai subir

Se na parte clínica o Tricolor das Tabocas fez um projeto pioneiro, o mesmo não se pode falar da formação do elenco. Sem muitos recursos, o Vitória teve que recorrer à mistura entre atletas desconhecidos e veteranos buscando retornar aos holofotes. A receita, por sinal, tornou-se uma tendência entre os participantes. É o caso da Cabense, que trouxe o meio-campo Rosembrick como grande “estrela” do time.

Estreantes e clubes tradicionais tentam um lugar ao sol

Quem também tenta voltar aos seus dias de “gloria” é o Sete de Setembro. Considerada um dos mais tradicionais clubes do interior de Pernambuco, o representante da cidade de Garanhuns tenta voltar à elite após dois anos de “escuridão”.

Menos famoso, mas tão determinado quanto o Jaguar, que estreia em competições oficiais tentando levar a cidade de Jaboatão dos Guararapes para a rota dos principais eventos esportivos da região. Otimista, o treinador da equipe, Lourival Silva, acredita que o fato da sua equipe ser formada por jogadores desconhecidos não tirará as chances do clube surpreender os mais tradicionais.

- É um desafio grande fazer um bom campeonato na Série A2 logo no ano de estreia do clube. Fizemos o elenco de maneira rápida, mas tenho confiança nesses jogadores, porque alguns já trabalharam comigo em outros clubes e sei que são bons profissionais. Vamos enfrentar equipes qualificadas, mas a expectativa é de fazer um bom trabalho.

A lista do certame ainda possui Timbaúba, Chã Grande, Ferroviário do Cabo, Pesqueira, Centro Limoeirense, Carpina e Atlético Pernambucano e Ipojuca.

Fonte: GloboEsporte.com