O conceito do 4-2-3-1 “torto”, já criticado em comentários neste blog, redes sociais e em outros locais na internet, é simples e remete ao Brasil de Dunga até o Mundial de 2010.
Naquela seleção, Elano era o meia pela direita. Mas bem recuado, quase alinhado ao volante Felipe Melo do lado oposto. Setor esquerdo que tinha Robinho bem avançado, quase como um atacante se juntando à Luís Fabiano. Mas ambos guardando suas posições pelos flancos. A dupla formava com Kaká uma espécie de “diagonal” na linha de três meias.
O desenho era confundido com o 4-3-1-2, mas Jorginho, auxiliar de Dunga e responsável pelo trabalho tático na comissão técnica, confirmou em entrevista ao jornalista Mauro Beting que o sistema brasileiro era o mesmo da campeã Espanha, da vice Holanda e da Alemanha, terceira colocada. Só que com esta “peculiaridade”.
Ou seja, o “torto” pode ser atribuído ao blogueiro e questionado. “Assimétrico” até ficaria mais adequado, mas geometria não é o forte do brasileiro médio e o jornalismo deve ser simples (sem ser simplório) para se fazer entender. Mas o 4-2-3-1, não. É informação, não análise.
O Santos de Muricy Ramalho foi o primeiro a repetir o formato, até pela presença de Elano e as características de Neymar, bem semelhantes às de Robinho. O segundo foi Scolari, colocando João Vítor aberto à direita com funções mais defensivas e avançando Luan ou Maikon Leite ou o reforço Mazinho pela esquerda.
Na vitória por 3 a 1 sobre o Vasco em São Januário que alçou o Cruzeiro à liderança do Brasileiro, Celso Roth foi mais um a utilizar o esquema. Talvez mais por estratégia em função do adversário que por convicção.
O treinador gaúcho carrega a pecha de cauteloso, retranqueiro e adepto ao meio-campo lotado de volantes que só marcam. Rótulo um tanto exagerado, folclórico. Mas que reflete uma metodologia de trabalho sempre voltada mais para anular as virtudes do oponente do que potencializar as da própria equipe. Roth deixa isso muito claro até em suas entrevistas, sempre ressaltando a marcação e usando repetidas vezes a palavra “cautela”.
Diante de um Vasco no 4-3-3 com Felipe na lateral-esquerda, mesmo com a ausência do gripado Juninho, Roth abriu William Magrão à direita para marcá-lo, bem próximo dos volantes Leandro Guerreiro e Charles. O zagueiro Léo foi adaptado à lateral na vaga do lesionado Diego Renan para vigiar Diego Souza. Do lado oposto, Fabinho ficava mais espetado, mas com a missão de voltar acompanhando Fágner para não sobrecarregar Everton.
Bola roubada, o plano ofensivo era claro e óbvio: transição rápida, com Montillo acionando Wellington Paulista. Na saída errada de um Vasco sem imaginação, o contragolpe veloz que terminou no gol do meia argentino, arco e flecha certeira no rebote do centro de Léo para o camisa nove.
Cristóvão Borges tentou compensar a falta de criação no meio-campo com Diego Souza procurando o centro, mas desistiu e o time cruzmaltino voltou do intervalo com Felipe de volta ao meio-campo e Thiago Feltri substituindo Fellipe Bastos e retornando à lateral.
Mas o Cruzeiro seguia marcando bem e preparando a estocada decisiva. Ela veio previsível na forma, mas surpreendente na execução: assistência de Montillo, conclusão espetacular por cobertura de um Wellington Paulista inspirado, que deixara minutos antes sentado no chão com um drible ninguém menos que Dedé, ainda hesitante na volta ao time após contusão.
O duelo pelo topo na tabela só não se decidiu porque Fabio errou na saída do gol e deu o rebote bem aproveitado por Rodolfo que renasceu as esperanças do Vasco, com Carlos Alberto na vaga de Eder Luís e pressionando mais na fibra que na ordem.
Roth tratou de anular as armas do oponente. Para marcar Fágner, bem avançado para aproveitar corredor deixado por Carlos Alberto que buscava o centro, trocou o extenuado Fabinho por Souza. Tinga entrou à direita no lugar de Magrão para bloquear Feltri. Anselmo Ramon substituiu Wellington Paulista, também cansado, para recuperar a vitalidade na frente para os contra-ataques. O 4-2-3-1 virou 4-4-1-1 com os meias pelos lados mais contidos bloqueando laterais que apoiavam como alas.
Na prática, a resposta foi imediata: contragolpe, passe de Tinga, gol de Anselmo Ramon na quarta finalização no alvo e liderança conquistada com o quarto triunfo consecutivo. Pouco adiantou os 55% de posse de bola e a entrada de William Barbio, que substituiu Diego Souza e só irritou a torcida.
O Vasco fora batido pela receita de Roth: cautela, 4-2-3-1 “torto” para negar espaços aos talentos adversários, bola para o talentoso camisa dez acionar o atacante único ou decidir sozinho. Simples, até pobre, mas eficiente.
Fonte: Blog Olho Tático - GloboEsporte.com