Presidente do Vasco entre 1969 e 1979, Agathyrno Silva Gomes até hoje não digeriu o fracasso que a passagem de Tostão representou para o time de São Januário. Quarenta anos após a milionária contratação do craque, o ex-dirigente revelou sequer possuir uma foto dele nas paredes de casa. Obrigado a lidar com o péssimo investimento, ele acusa o jogador de má-vontade em retribuir os esforços de seu último clube. O valor da transferência foi impressionante para a época - o equivalente, hoje, a R$ 17,5 milhões, então possibilitado por um empréstimo de um banco português.
- Você compra uma jóia e depois não pode usar. E ainda fica endividado. É como no Direito Civil, quando você compra algo com defeito, você devolve. Mas não havia jeito, e nós pagamos tudo até o fim. Nessa parte, ele foi ingrato com a gente - recordou Silva Gomes em entrevista ao "SporTV News".
Revelado nas categorias de base do Cruzeiro, Tostão ganharia o status de ídolo na década de 60. Em 1966, com 19 anos, mostrou toda a genialidade em campo ao levar a Raposa à conquista do Campeonato Brasileiro daquele ano, com direito à épica goleada por 5 a 0 sobre o Santos de Pelé, então bicampeão da Taça Libertadores e do Mundial de Clubes. Entre 65 e 69, foram cinco títulos do Campeonatos Mineiro.
No embalo com a camisa celeste, Tostão chegou à Seleção Brasileira. Em 1970, outro grande feito. Ao lado de Carlos Alberto Torres, Jairzinho, Pelé e companhia ergueu a terceira taça do Brasil na Copa do Mundo do México.
Dois anos depois, em abril de 1972, foi a vez do Vasco anunciar a todos a emblemática contratação de Tostão. Após um desentendimento com a diretoria cruzeirense, o atacante foi levado ao centro de um leilão sem precedentes, mas acabou optando por permanecer no futebol brasileiro e acertar com o clube carioca.
De Minas para o Rio, Tostão foi apresentado com a camisa cruzmaltina em meio a uma multidão. A promissora relação entre clube e jogador, porém, chegou ao fim em menos de um ano depois. Sua passagem pela equipe, com a qual disputou 44 jogos e marcou sete gols, foi marcada por desentendimentos com outros jogadores e integrantes da diretoria.
- Sempre teve alguns com inveja, isso é comum, porque ele teve uma recepção que ninguém teve - relembra Gomes Silva.
O ex-presidente, contudo, pouco pode fazer para estimular Tostão a brilhar com a camisa do Vasco. Desde a década de 60, o jogador lidava com um problema no olho esquerdo, causado por uma antiga bolada. Com a retina deslocada, ele decidiu se consultar por contra própria nos Estados Unidos e acabou descobrindo que jogar futebol colocava em risco sua visão.
Em fevereiro de 1972, Tostão decidiu deixar não apenas o Vasco, mas o futebol. Ele tinha 26 anos de idade. O ex-clube ainda tentou processá-lo, junto com o Cruzeiro, alegando má-fé de ambos na onerosa transferência.
- Quando nós propusemos que ele fizesse a despedida pelo Brasil todo, porque ele era um nome do Brasil todo, ele se negou, disse que não queria, que tinha o (problema) na vista. Eu falei "Tostão, não faça isso que você está vendo o que o Vasco vai arcar com essa despesa toda, é brincadeira" - disse.
Em seu livro, intitulado "Tostão", o ex-jogador conta que ficou decepcionado com a péssima qualidade da equipe e com a falta de profissionalismo dos atletas, que saíam para pagode quase todas as noites. Ele também afirma que fez todos os exames médicos no olho antes da transferência e chama os dirigentes vascaínos de desonestos. Procurado pela reportagem do SporTV, ele não quis dar entrevista.