Aos 37 anos, Juninho Pernambucano faz um sacrifício diário de conciliar performance e forma física para em campo não frustrar o torcedor do Vasco que esperou dez anos pela sua volta. E mais: o meia tem a preocupação com os herdeiros dos vascaínos que no fim dos anos 90 batiam ponto no Maracanã e em São Januário para ver suas jogadas e gols de falta. Prestes a renovar até dezembro, o Reizinho revela que pode não parar em dezembro, como anunciara. Se estiver se sentindo bem, já avisa que estenderá seu compromisso até meados de 2013.
Este mês, Juninho completa um ano do seu retorno ao clube que o projetou. Quando voltou, foi-lhe oferecido um contrato de um ano e meio. Mas o meia optou por “tiros curtos”, como gosta de dizer. Além dos torcedores que o viram jogar, os filhos dessa geração criaram expectativa em também ver de perto o ídolo do pai. Foi pensando assim que o craque mergulhou em uma dieta rigorosa, por conta própria procurou auxílio na medicina ortomolecular e, passados 12 meses, se considera melhor do que no semestre passado.
Nesta entrevista, o capitão do Vasco fala, entre outras coisas, que ainda tem prazer em treinar e jogar futebol. Por isso vem adiando a aposentadoria.
Poucos jogadores chegam aos 37 anos sem lesões e suportando 90 minutos...
São poucos. O esforço é muito grande. Na verdade, é assim: o cara até mais ou menos os 30, 31 anos, é como se ele estivesse plantando. Eu acho que ele constrói uma base. Até os 30, 31 anos, a única lesão grave que eu tive foi uma lesão no púbis, em que eu fui operado e sempre fica uma sequela. Então, a partir dali, eu sempre me acostumei a fazer trabalhos preventivos e extras. Mas eu acho que o que me deu sorte foi ter construído até os 31 anos uma carreira bem profissional, e isso aí me ajuda hoje.
Mas só isso bastou?
Mas é lógico que não é só isso. Tem um treinamento que as pessoas não estão vendo o que é: eu faço as três refeições todos os dias, café da manhã, almoço e janta. Isso é sagrado para mim. Jogando ou não. Quando tem treino de manhã, eu acordo às 6h e tomo café. Mas, independentemente de treino de manhã, eu tomo café. No dia do jogo, véspera, todos os dias. Se eu for dormir às 3h, eu vou levantar cedo para tomar café da manhã. Me acostumei a fazer as três refeições equilibradas. Não exagero nas outras coisas.
E a dosagem na rotina dos treinos?
Faço bons treinamentos, fortes no começo da semana e quando vai chegando na véspera dos jogos, eu diminuo o ritmo dos treinos, que é uma coisa passada pela comissão, que é ideal para mim. Por exemplo, eu treinei ontem e treinei hoje. Forte, foram os treinos mais fortes da semana. Segunda foi folga e terça foi recuperação. Então, amanhã (esta sexta) eu não devo ir a campo. Fico na sala de musculação para me recuperar a jogar. Então, o que é mais difícil para mim é voltar a estar em boas condições entre um jogo e outro.
E quando há rodada no meio de semana?
Quando tem jogo a cada três, quatro dias, eu sinto mais. É como se eu voltasse para o jogo sem não ter recuperado cem por cento. Agora, eu também faço massagem para recuperar. Pelo menos duas vezes por semana, ou no clube ou fora, particular. Porque é uma coisa que me ajuda muito a recuperar, elimina muito a toxina.
E a alimentação?
Faz dez anos que eu cortei refrigerante. Isso eu nunca tinha divulgado. Light, nada. Cortei da minha vida. Eu tomo muita água. Todas as minhas refeições eu faço com água. Menos no café da manhã que eu tomo suco. Eu não tomo refrigerante nenhum, nem antes nem depois dos jogos. Eu era um cara que tomava muito. Quando cheguei no Lyon, as refeições eram feitas só com águia. Eu estranhei no início, mas depois fui vendo que fazia bem para mim. Então, eu sequei muito por causa isso, eu acho. Eu tentava, mas não conseguia. Eu tomava refrigerante todos os dias. Só não tomava no café da manhã. Aliás, café da manhã foi outro hábito que aprendi lá também, no Lyon. Eu fui vendo como o meu corpo reagia a tudo, só melhora. E com os anos, me fez crescer como atleta. Agora estou tentando cortar o açúcar, já diminuí bastante.
E vem valendo apena?
E também faço isso porque gosto ainda de jogar futebol. Gosto de jogar, gosto de treinar. Este sacrifício ainda vale a pena para mim. Alimentação, hidratação fazem muito ao atleta. Eu gosto de saber, de conversar com a nutricionista. Saber isso aqui é bom, isso aqui não é. Mesmo que uma comida não me dê prazer, eu sabendo que ela faz para mim eu vou lá e como. Faço ortomolecular também. Faz um ano. Fiz quando eu voltei para o Brasil. Estou me sentindo muito bem, está me ajudando muito na recuperação. É um exame de sangue detalhado e no fim me ajuda muito.
E qual os seus planos para a carreira? Renova até o fim do ano, e depois?
Meu contrato termina agora dia 4 de julho. Se eu não estivesse jogando bem, eu ia parar. O que vai definir o momento em que eu vou parar são duas coisas: a minha performance aliada a minha condição física. Se um ou outro começar a destoar muito, acho que é o momento de parar. Se eu conseguir jogar bem, mas sofrer muito para jogar, fisicamente meu corpo não responder mais, eu vejo que também é o momento. Mas se fisicamente eu em sentir legal, mas não fizer bons jogos, eu paro.
Por isso a opção de fazer contratos de seis meses?
Por isso faço esta opção. Acho que fazendo contato de tiro curto, me dá condição da fazer uma análise, me preparar melhor psicologicamente. Agora eu cheguei e todo mundo está vendo que tenho condição de continuar.
Então cabe aqui uma pergunta: se em dezembro você achar que está em condições de jogar o meio de 2013, você faz um novo contrato?
Se eu não estiver bem, eu paro! Se eu estiver bem, me sentindo bem nestes dois aspectos, aí eu acho que continuo, sim. Mais seis meses. A intenção vai ser sempre essa, a cada vez. Quando eu voltei, na verdade, o Vasco me ofereceu um ano e meio de contrato. Ele estaria vencendo em dezembro agora. Eu que preferi fazer assim, para ver como realmente eu estava, foram dez anos fora. Havia um receio da minha parte, como já expliquei várias vezes. Confiava muito em mim, mas preferi me resguardar porque tinha uma história no clube. Eu sabia que era um risco, voltar e estar todo mundo naquela expectativa. É uma outra geração de torcida. Muitas crianças nunca me viram jogar, foram os pais que falaram e eu precisava jogar tudo aquilo que eles esperavam.
E qual o balanço deste um ano de Vasco?
O balanço foi super positivo. Eu sabia também que era a minha última chance de voltar. Eu vinha jogando bem no Catar, então estava confiante.
Compare 2011 com 2012...
Este está melhor. Eu me apresentei junto com todo mundo, fiz pré-temporada. Ano passado, o time acabou de ser campeão da Copa do Brasil, de um jeito ou de outro, o treinador queria arrumar uma vaga para mim no time. E aí ele é obrigado a tirar jogador que estava jogando. E depois entra a questão de entrosamento. Hoje eu me sinto totalmente entrosado. Eu falo questão de campo, de entender os jogadores que estão do meu lado, o movimento que eles fazem. Hoje eu jogo com eles sem olhar. O entrosamento hoje é real. Antes, eu me esforçava para me entrosar com eles. Ano passado, havia aquela base campeã da Copa do Brasil que eu nem sei se eles precisavam da minha volta.
Fonte: O Dia online