Não é só o Vasco que tem problemas para cuidar das suas categorias de base entre os grandes do Rio. Com alto investimento na reforma de “Carandiru”, apelido antigo e pouco carinhoso do CT de Xerém, o local ganhou melhorias para os garotos tricolores. O Botafogo, desde 2009, fez reformas importantes, assim como o Flamengo mostra avanços no Ninho do Urubu. Mas o Ministério Público não abre mão da uniformização para todos os clube do Termo de Ajustamento de Conduta que o Vasco está há mais de um ano para assinar. Há falhas quanto a cuidados médicos, garantia de convivência com familiares e acolhimento dos meninos de outros estados.
— Percebemos que os outros clubes se apavoraram com o que aconteceu no Vasco (a morte do menino Wendel). Assustou até patrocinadores, porque prejudica a imagem. Quando fomos ao Fluminense e ao Botafogo, vimos que já esperavam nossa visita — lembrou Afonso Henrique, promotor do MP-RJ.
O TAC, que está sendo cobrado de todos os clubes, pede como parâmetro de acolhimento em divisões de bases o mínimo também solicitado em abrigos para “crianças em risco” — que vivem na rua, abandonadas pela família ou violentadas sexualmente —, conforme determinação do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente e do Conselho Nacional de Assistência Social.
Em Marechal Hermes, um único quarto abriga cerca de 20 garotos e tem capacidade para até 30. Na “cartilha” elaborada pelo MP, o ideal são quatro meninos por quarto e, no caso de lotação máxima, seis. O cômodo deve ter também armário e guarda-roupa individual e metragem mínima de 2,25 metros quadrados por ocupante. No Ninho do Urubu, os jovens atletas não contam armário apropriado do clube para guardar roupas.
Faltam a dirigentes e advogados dos clubes os conhecimentos básicos do que pede o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei Pelé. Cada time precisa garantir não só “alojamento e instalações esportivas adequados, sobretudo em matéria de alimentação, higiene, segurança e salubridade”, como também educação, transporte e convivência familiar. Conviver com a família, no caso, significa custear viagens ou do jovem atleta para reencontrar seus parentes ou dos parentes para visitarem o menino.
— Os clubes dizem: “Mas onde está escrito isso?” — lembra um dos promotores responsáveis pelas visitas.
De fato, a legislação não é clara a respeito da obrigação do clube de pagar viagens para a família, mas o MP quer assegurar isso através do TAC. Nas conversas com os meninos, ouviu queixas de saudade dos familiares e outros tipos de reclamação.
— Um menino nos contou que não tinha sequer um momento de privacidade na vida. Dormia, acordava e fazia refeições ao lado de 20 pessoas. Na hora do banho, também não havia divisória. Precisamos lembrar que eles não estão confinados. Eles vivem ali, é a casa deles — lembrou Afonso Henrique.
Fonte: Extra