Corações infantis despedaçados pelo “novo” Vasco
Desde a criação do Departamento de Infanto Juvenil (DIJ) em 1941 e o surgimento da frase que norteia a nação cruzmaltina em todos os cantos do planeta – “Enquanto houver um coração infantil o Vasco será imortal” – o clube se esmerou em dar atenção a suas crianças e jovens.
O desenvolvimento de ações visando o bem estar do novel atleta vascaíno foi iniciado com a oportunização deste integrar-se e participar de todo o tipo de esporte no clube de forma recreativa, chegando ao processo natural de seleção para que houvesse a defesa das cores vascaínas nos mais diversos esportes.
A formação de atletas em vários esportes trouxe para o clube nomes inquestionáveis no futebol, remo, basquete, atletismo, natação, ginástica, lutas, outros esportes de quadra e salão, terrestres e aquáticos.
Foi nítido o crescimento do clube no futebol, com a formação, desde a infância ou adolescência de talentos nas mais variadas posições: Carlos Alberto Cavalheiro, Mazarópi, Carlos Germano, Hélton, Pimentel, Bruno Carvalho, Allan, Brito, Gaúcho, Orlando Peçanha, Henrique, Coronel, Lira, Mazinho, Felipe, Cássio, Maranhão, Helinho, Dudu, Serginho, Leandro Ávila, França, Souza, Ernâni, Geovani, William, Yan, Morais, Ipojucan, Vasconcelos, Bismarck, Pedrinho, Phillippe Coutinho, Luís Fumanchu, Wilsinho, Mário Tilico, Edmundo, Alex Teixeira, Roberto Dinamite, Romário, Sorato, Valdir, Jardel, Alan Kardec, Jansen, Marquinho, Gian. Estes são apenas alguns exemplos de crianças ou jovens imberbes que chegaram ao clube para através da formação vascaína virem a se tornar jogadores importantes em sua história, ou com passagem pela seleção brasileira, ou ainda referências no cenário esportivo nacional e internacional.
Em 2004, o Vasco inovou e foi inaugurado o Colégio Vasco da Gama. Era o clube fazendo mais ainda por suas crianças e jovens. O Vasco formaria, desde então, não apenas atletas, mas cidadãos.
Após a troca de poder os novos “gestores” passaram a se importar cada vez menos com algo que fora premissa no passado. Muito foi alertado e denunciado, mas o dar de ombros norteou o chamado por Roberto Dinamite “novo” Vasco.
O processo foi iniciado pelo abandono do Colégio Vasco da Gama, o desdém em relação às promessas vindas da base, preteridas muitas vezes por atletas já fatiados e sem nenhuma referência que os pusesse na condição desfrutada desde então.
O clube perdeu atletas por desídia ou insensibilidade, não desenvolveu o potencial de outros prontos para estourar e aumentou a irresponsabilidade no tratamento com a sua base, dando a ela condições precárias de transporte, alimentação, treinamento e capacitação como um todo. São os jovens talentos cercados hoje por profissionais incompetentes, colegas incapazes e uma estrutura quase de várzea, no que tange às condições básicas para se trabalhar e crescer na almejada profissão de atleta de futebol.
Aos amigos do “presidente” nada? TUDO! E à base vascaína? Nada, nada, nada.
Os resultados na categoria de juniores são vergonhosos, vexatórios, inéditos e inaceitáveis. Mas a direção tenta disfarçar a evidente incapacidade dos profissionais contratados, pois a relação de amizade de Roberto Dinamite com Galdino e cia. impede que se faça uma análise séria do Vasco e de seu péssimo momento na formação de atletas, por sinal estes, sem culpa alguma pelo cerco que lhes é compelido estar, onde despontam irresponsabilidade e inaptidão por parte de quem deveria dar condições ou ensinar.
Roberto Dinamite confunde o Vasco com a ALERJ, imaginando poder fazer do clube um cabide de empregos para amigos, sem maiores consequências. O resultado está claro para todos, mas parece pouco importar para ele e seus objetivos pessoais, qual sejam, a manutenção de uma grande corrente em seu benefício e em detrimento do clube e de sua base.
Chegamos, então, naquilo em que se transformou o Vasco, enquanto referência para todo o Brasil, quanto a sua base. Exposto em jornais, rádios e programas de TV é hoje o clube o exemplo de como não se fazer, exemplo de desídia, exemplo de desdém, exemplo de descomprometimento, exemplo de ilegalidade, exemplo de omissão, mas principalmente retrato da total alienação a tudo isso.
O Vasco e sua base hoje são sinônimo de tragédia, de pusilanimidade, de descaso, do clube para com seus jovens valores.
A denúncia de que não havia porque alimentar um atleta ávido por passar num teste, de que o próprio clube fechava os olhos quanto à condição de estadia dos muitos meninos aptos, pelo próprio Vasco, a tentar fazer parte de suas hostes nos referidos testes e ainda a inclassificável atitude de expor jovens vorazes por uma chance a péssimo transporte e nenhuma proteção médica, apesar da distância e isolamento do local onde o clube treina, está longe, MAS MUITO LONGE, de dar ao caricato “presidente” do clube a condição deste afirmar ter sido o episódio mera fatalidade.
Em seu discurso inqualificável, dado em pequena entrevista após o jogo do Vasco na Bahia, só faltou a Roberto dizer que está fazendo tudo para que não ocorram outras mortes o que o absolveria de futuros “acasos” ou “fatalidades”.
Não se tem ainda a certeza de quais serão as consequências para o Vasco em todo este episódio, mas sabe-se de antemão estar marcada a história do clube por um momento em que a antítese dela foi deflagrada, para tristeza e revolta de todos que transformaram esta instituição centenária num modelo de inclusão e formação tanto de atletas quanto de homens, hoje retrato da indolência, inconsequência e negligência com suas crianças e jovens, aspirantes a envergar o manto cruzmaltino, mas vítimas de toda a sordidez alheia que engloba tal tarefa, desde a busca por um prato de comida até um mínimo aparato médico num momento de fragilidade, desconforto ou dor fatal.
Casaca!
Fonte: Casaca