O atraso de dois meses de salários e algumas premiações gerou uma crise interna no Vasco. Na última quinta-feira, a diretoria se reuniu para achar soluções e tentar cumprir a promessa de pagar ao menos o mês de março nesta sexta-feira – abril venceu no último dia 20 de maio. A expectativa não se confirmou e o Cruzmaltino planeja quitar o que deve apenas na próxima semana. O incômodo do presidente Roberto Dinamite é indisfarçável. Por algumas vezes, durante o encontro, o mandatário deu socos na mesa e evidenciou a dificuldade financeira do clube para arcar com os seus compromissos.
Se os jogadores demonstram diariamente as insatisfações nas entrevistas, a diretoria se defende enquanto busca auxílio com conselheiros influentes e patrocinadores, além da possibilidade de empréstimos. No discurso, ataques as gestões anteriores, principalmente a do ex-presidente Eurico Miranda. A dívida do clube – em torno de R$ 380 milhões, segundo a administração – é o principal ponto de apoio dos dirigentes.
“Sabíamos que o Vasco levaria tempo para colocar a casa em ordem. Tivemos um resultado operacional positivo de R$ 28 milhões no ano passado, mas nada adianta se boa parte do dinheiro que entra já está comprometida. O Vasco paga pelo menos R$ 2,5 milhões por mês em acordos judiciais firmados. Isso vai consumindo os recursos e ainda temos que pagar as despesas. O passivo é o nosso grande problema. Seríamos completamente equilibrados se isso não ocorresse. Mas precisamos pagar o que o clube deve independente do que as gestões anteriores fizeram. A dívida é do Vasco, não de A ou B. Vamos ver como resolver essa parte final dos recursos para pagar os salários em sua totalidade na semana que vem. São operações complicadas e isso não é do dia para a noite”, afirmou Nelson Rocha, vice-presidente de finanças do Vasco.
Para tentar resolver parte dos problemas, o clube reativou o acordo com o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) para acertar os passivos, alguns inclusive da atual gestão. Além das dívidas, a questão envolvendo a ausência de patrocínios em lugares como ombro e omoplata dificultam o processo. Como o Vasco não tem as certidões negativas de débito - pois ainda possui dívidas tributárias junto ao governo, não consegue receber a verba da Eletrobrás. O pagamento só acontece a cada três meses através de uma ação movida pelo Sindicato dos Clubes do Rio de Janeiro.
A dificuldade cresce ainda mais em razão de outros pontos. A diretoria já antecipou algumas luvas do contrato atual de TV. O UOL Esporte apurou que o repasse inferior do programa de sócios “O Vasco é meu” traz um prejuízo de quase R$ 1,5 milhão por ano. Fornecedora de material esportivo, a Penalty repassa apenas R$ 75 mil por mês em royalties de acordo com o último levantamento realizado pelo Conselho Fiscal.
Aníbal Rouxinol, vice-jurídico, admite os problemas levantados acima. Entretanto, foi mais um integrante da diretoria a bater na tecla dos erros anteriores para explicar os impasses salariais. Segundo o dirigente, o nervosismo faz parte do atual momento.
“Esses pontos são realidades e problemas que estamos lidando. Mas a grande questão é realmente a dívida. Por isso, a situação do Vasco é muito difícil. Ninguém se conforma e todos estão um pouco nervosos para resolvê-la. O presidente está dando soco na mesa, literalmente. Ele quer que jogadores e funcionários recebam logo. Nos reunimos o dia inteiro e estamos fazendo milagres para manter determinadas situações”, comentou.
Responsável por uma série de acordos judiciais, Rouxinol citou dívidas do ano 2000 como problemas corriqueiros no Vasco. Na ocasião, o clube tentou formar um projeto olímpico, que não alcançou sucesso. Com isso, deve a atletas de basquete, vôlei, atletismo e natação prioritariamente.
“O Vasco arrecada bem, mas não conta em nada por essas dívidas. As pessoas entram na Justiça e procuramos fazer uma série de acordos. Pegamos a herança de um projeto olímpico fracassado. Todas as dívidas estão explodindo agora. O dinheiro entra, mas é insuficiente ainda para honrar com todos os compromissos. São problemas de 2000, 2002, 2003, uma bola de neve. A Fernanda Venturini é um dos exemplos. O Gustavo Borges é mais um. Teve atleta que passou um mês no clube, nem sequer jogou, e cobra R$ 500 mil de indenização. Não tem quem se segure desse jeito”, encerrou.
Fonte: UOL