Até anteontem o Vasco sonhava com a conquista da Libertadores. Ontem, teve de acordar para a realidade, que não é nada animadora. Financeiramente o clube está em crise. Se não conseguir entrada de novos capitais terá dificuldades em manter o elenco, a nova prioridade da diretoria.
O tempo não é muito longo em alguns casos. Os contratos de Éder Luís, Fellipe Bastos, Renato Silva se encerram no fim do mês. Juninho Pernambucano tem vínculo até 4 de julho e pode ter feito contra o Corinthians uma das últimas partidas pelo Vasco ou até mesmo na carreira.
— Precisamos equacionar a questão financeira. Não temos como manter um time forte sem isso e brigarmos pelo Brasileiro. A diretoria está correndo atrás disso, com novos patrocínios, outras fontes de recursos. Precisamos viabilizar essa manutenção — afirmou, com sinceridade, o diretor de futebol do clube, Daniel Freitas.
Com dois meses de salários atrasados completados ontem, até seis meses sem pagar direitos de imagens a alguns jogadores como Diego Souza e Alecsandro, sem recolher o fundo de garantia dos atletas, o Vasco conta com o comprometimento do elenco. Nesta situação, qualquer um deles poderia entrar com ação na Justiça contra o clube. Como Bernardo fez no início do ano e tantos outros pensaram em fazer o mesmo, mas foram demovidos da ideia pelos companheiros mais experientes.
Em campo, os jogadores têm feito a parte deles. Disputaram títulos e fases decisivas de todos os campeonatos que jogaram. Na maioria das vezes, não chegou mais longe por causa de detalhes nas partidas.
Agora, a diretoria precisa fazer a dela. É o que espera Juninho. O meia ainda não foi procurado por ninguém do clube. O vice-presidente José Hamilton Mandarino disse que é uma situação específica, que depende muito mais do meia querer continuar do que qualquer proposta do Vasco.
Por Juninho, ele teria condições físicas de jogar até o final de 2013. Mas se não for no Vasco , dificilmente irá para outro clube, e isso pode acelerar sua aposentadoria. No Brasil, ele não quer e pelos 37 anos tem pouco mercado. O exterior, como o Qatar, poderia ser a solução , mas a vontade do meia é permanecer no Rio onde comprou casa e a família está estabelecida.
Jogadores fatiados
Para continuar no clube de São Januário, no entanto, o Vasco terá de cumprir seus acordos. O meia ainda não recebeu nada do contrato do ano passado. Neste ano, foi pago somente por seis dos 22 jogos que esteve em campo.
A situação financeira do clube, bem semelhante à que ele deixou ao sair em 2001, incomoda o atleta. Além da questão estrutural do Vasco, ainda sem um centro de treinamento, e do distanciamento de alguns dirigentes do futebol, como o vice Mandarino.
Para manter Éder Luís, Fellipe Bastos e Renato Silva, o Vasco terá de arrumar dinheiro rapidamente. Os três casos são de empréstimo e seus clubes só negociam para compra definitiva. A diretoria já enviou proposta ao Benfica, que detém os direitos de Éder e Bastos, aguarda da resposta dos portugueses e garante que terá dinheiro para adquiri-los. Em relação ao zagueiro, as conversas estão mais atrasadas.
Há ainda o interesse de outros clubes brasileiros por Fágner cujo contrato termina em dezembro, mas já pode assinar pré-contrato mês que vem. A diretoria ainda vai se reunir com os representantes do lateral para tentar mantê-lo. Em caso de venda, o Vasco não receberá nada.
Uma das saídas seria a venda de um jogador para gerar receita imediata. Os mais cotados são Rômulo e Dedé, jovens jogadores da seleção brasileira, com sondagens do exterior. O volante Allan já foi negociado mas restou ao Vasco apenas 20% dos R$ 7,5 milhões pagos pela Udinese, da Itália.
Na proposta orçamentária, o clube prevê uma receita de mais de R$ 10 milhões oriundos de negociações. Por ser ídolo, a saída de Dedé seria mais difícil pelo desgaste da diretoria com a torcida. O Vasco já recebeu proposta de US$ 10 milhões do Manchester City, da Inglaterra, cujos representantes estiveram no Rio e assistiram a alguns jogos do Carioca com membros da diretoria. Mas o clube recusou e vem montando um projeto para mantê-lo. A multa rescisória do zagueiro é de R$ 20 milhões, mas apenas 40% dos direitos econômicos são do clube. O restante pertence a investidores e ao Villa Rio. De Rômulo, o Vasco detém 75%.
— Claro que a negociação de qualquer atleta ajuda financeiramente. Mas não pensamos em nos desfazer de nenhum jogador — disse Daniel Freitas.
Alguma mudança na situação financeira do clube deve acontecer depois de junho. O Vasco pretende fechar patrocínio com uma empresa multinacional por três anos e meio. Por enquanto, tem pagado os custos imediatos de logística das partidas com os patrocínios por jogo, como aconteceu contra o Corinthians.
Fonte: O Globo