Alex Teixeira está de férias no Brasil desde sábado passado, mas a voz, em plena tarde, é de quem acabou de acordar. Trouxe na bagagem os títulos de campeão da Liga e da Copa da Ucrânia, com direito a gol na final, mas ainda não fez muita questão de vencer o fuso de seis horas. À noite, ao menos, estará desperto para acompanhar o jogo decisivo entre Vasco e Corinthians pela Libertadores. Formado em São Januário, de onde saiu após a conquista da Série B para defender o Shakhtar Donestk, apostou US$ 300 na classificação do time de coração com o companheiro Dentinho, cria do Parque São Jorge. A confiança é tanta que já marcou até data para receber o pagamento, dia 9 de junho, no casamento do atacante, na capital paulista.
— Aproveito que vou no casamento para pegar a minha grana — brinca Alex.— O time do Vasco hoje é bem melhor do que o da minha época, chegaram Juninho, Felipe... Não deu para ganhar no Rio, mas acredito que vamos nos classificar lá.
Alex foi ao primeiro jogo, na semana passada, para torcer e rever os amigos. De sua época, reencontrou Fernando Prass, Fágner, Nilton, Carlos Alberto e Fellipe Bastos, este um antigo companheiro das seleções de base sub-15 e sub-17. Esteve no vestiário antes da partida, matou as saudades, mas não pensa em voltar tão cedo. Aos 22 anos, sua realidade hoje é a gelada Donetsk. No fim do ano passado, renovou contrato por mais quatro anos. Hoje, está totalmente adaptado, ao contário dos primeiros meses, quando o frio e uma lesão muscular lhe causaram certo receio daquela aventura. A legião de brasileiros do time também ajudou. Com duas aulas de russo por semana, já consegue se virar no dia a dia, mas quem tem Fernandinho ao lado acaba relaxando com o idioma. O meia convocado constantemente por Mano Menezes para a seleção está na sua sétima temporada no clube e já domina completamente a lingua.
— Ele já fala tudo, é quem nos representa quando precisamos de alguma coisa —explica Alex.
Proposta de 20 milhões de euros do Chelsea
Fernandinho é também que costuma abrir as portas de casa para o churrasco dos brasileiros, entre março e setembro, quando a temperatura no país esquenta. Como quem compra a picanha é o tradutor do grupo, Alex, nascido e criado em Duque de Caxias e vizinho do meia Ilsinho, nem se preocupa com a origem da carne. Entre risos, só diz que a maciez e o paladar agradam a todos. Os encontros, que às vezes também acontecem no CT do clube, servem, é claro, para a turma armar uma rodinha de samba.
— Não poderia faltar. Nesses churrascos juntamos os amigos e as famílias — explica o jogador, que normalmente tem a companhia da noiva e dos pais.
De certa forma, o técnico romeno do Shakhtar, Mircea Lucescu, também ajuda a amenizar as dores da distância. Ex-treinador da seleção romena, ele arranha o “portunhol”, que diz ter aprendido num giro pelo Brasil anos atrás. É também um brincalhão. Após a vitória sobre o Metallurh Donetsk por 2 a 1, na prorrogação, na final da Copa da Ucrânia, ele se virou para o atacante Luiz Adriano no vestiário e disse que lhe pagaria US$ 5 mil caso desse um banho de champanhe no presidente Rinat Akhmetov, o empresário bilionário que, além do time, é dono de quase toda a cidade. O banho aconteceu e Akhmetov reagiu com extremo bom-humor. Agora, falta o pagamento.
O presidente é visto como uma pessoa dedicada ao clube e humilde no trato com os jogadores. Ele, por sinal, é o principal responsável por William, atacante revelado pelo Corinthians, em 2005, estar até hoje no Shakhtar. Em janeiro, Akhmetov rejeitou proposta de 20 milhões de euros (R$ 52,1 milhões)do Chelsea pelo jogador, que apareceu na lista dos 50 jogadores mais cobiçados do momento na Europa publicada pela revista inglesa “World Soccer”.
Desde 2007 na Ucrânia, William - revelado pelo Corinthians dois anos antes - já conquistou dez títulos e a camisa 10 do time, um prêmio pelo seu desempenho. Se não tivesse renovado em 2009 até 2014, se contrato antigo estaria se encerrando em junho. William não esconde que gostaria muito de disputar uma liga mais competitiva e de maior visibilidade do que a ucraniana, mas como o presidente não admite liberá-lo, quer aproveitar da melhor forma o tempo no país. Assim como Alex Teixeira, ele também está de férias, só quem em São Paulo. E hoje, aposta que o Corinthians leva a vaga para a semifinal.
— Nos últimos anos o Corinthians tem sido um time regular, está sempre chegando. Não faz muitos gols, mas é consistente, tem um elenco bom. O Vasco tem uma excelente equipe também, mas o Corinthians jogará em casa, diante da torcida. Por isso, leva um ligeiro favoritismo, mas tem que pôr em prática quando a bola rolar.
Fonte: Globo Online