Dívida dos clubes aumenta mesmo com receita maior
Dos 18 times analisados, 11 apresentaram aumento no nível de endividamento entre 2011 e 2012. Em pior situação está a Ponte Preta, com avanço de 53,09 pontos percentuais no indicador.
A maior parte dos clubes que disputarão a série A do Brasileirão 2012 registrou aumento do endividamento no ano passado, incluindo grandes times, como São Paulo e Corinthians.
Esta é a conclusão de um levantamento feito pelo Brasil Econômico a partir do balanço financeiro de 18 das 20 equipes que participarão do campeonato. As outras duas - Sport e Bahia - não divulgaram seus resultados anuais.
De todas as equipes, 11 apresentaram elevação no endividamento geral em relação aos ativos líquidos.
O maior aumento foi verificado pela Ponte Preta: 53,09 pontos percentuais, para 335%. Com essa proporção, a macaca também lidera o ranking de endividamento, seguida pelo Botafogo (254,40%) e pelo Vasco (209,36%).
Contudo, esses dois clubes fazem parte da curta lista de equipes que conseguiu reduzir o endividamento entre 2011 e 2010, com quedas de 183,35 e 9,33 pontos percentuais, respectivamente.
Na outra ponta, estão o Atlético de Goiás e o Náutico, cujas dívidas representam 34% e 36% do total de ativos líquidos.
Dentre os grandes paulistas, o Santos teve o maior nível de endividamento, com 164,92%, mesmo com a redução de 21 pontos percentuais.
Por outro lado, São Paulo e Corinthians, aumentaram a taxa, embora permaneçam com dívidas menores em relação aos seus ativos, de 54,68% e 91,09%.
O panorama mostra problemas na gestão dos grandes clubes nacionais. Outro exemplo disso é o resultado em futebol, com 14 dos 18 times registrando déficit. Os únicos que escapam dessa lista e apresentam superávit são o Corinthians (R$ 16,64 milhões), o Santos (R$ 7,39 milhões), o Vasco (R$ 3,42 milhões) e o São Paulo (R$ 220 mil).
Para o economista e fundador da Pluri Consultoria, Fernando Pinto Ferreira, alguns clubes estão com a situação bastante grave.
"A preocupação é menos com tamanho da dívida e mais com a trajetória que os clubes deram para o caixa. Esses que estão com situação ruim tiveram oportunidade e saíram gastando acima das receitas", explica Ferreira.
Também segundo a consultoria BDO Brazil, o endividamento dos clubes de elite brasileiros está em um nível preocupante. Este é um dos problemas que devem ser o foco das gestões dos times neste ano, já que gera despesas financeiras pesadas e compromete as receitas.
"Os dados financeiros dos clubes indicam que seria um excelente momento para que as entidades que se beneficiam dos novos recursos gerados, também buscassem uma redução de seus déficits e grau de endividamento", diz Amir Somoggi, diretor da área de esportes da BDO."
A consultoria parte da informação de que, em termos de receita, o conjunto dos 18 clubes que divulgaram seus dados somou R$ 1,9 bilhão.
Quase todos os times elevaram suas receitas, à exceção de Grêmio e Ponte Preta, com quedas de 0,48% e 14,39%, respectivamente.
De acordo com Ferreira, esse aumento deve-se aos direitos de transmissão de TV, além da bilheteria e dos patrocínios. E é um indicativo de que os clubes do Brasil podem se tornar internacionalizados no futuro. Um objetivo que será acelerado pela Copa do Mundo de 2014.
"O que percebemos é que, já desde o ano passado, essa evolução na receita vem causando uma mudança de patamar estrutural no futebol brasileiro. Está vindo de fora para dentro do campo, acompanhando a melhora da economia brasileira.
Ou seja, agora os clubes têm poder de fogo para manter jogadores como Neymar, Leandro Damião e Dedé", explica o economista Ferreira. Segundo ele, o futebol brasileiro tem um papel crescente no cenário mundial. "A seleção brasileira sempre foi temida, mas os clubes brasileiros sempre foram vira-latas. Isso está mudando", completa.
Quem pensaria, há cinco anos, que o quarto jogador mais valioso do mundo continuaria jogando no país? No futebol moderno, o Brasil não teve isso; os melhores eram rapidamente vendidos.
Agora, o Neymar continua no Santos para provar essa evolução. E não apenas ele: boa parte dos jogadores convocados para a seleção neste ano atua em clubes nacionais. A questão agora é conseguir manter essa evolução e reverter isso para uma maior profissionalização da gestão no esporte.
Fonte: Brasil Econômico