No fim de 2008, Fagner e Nilton se reencontraram nos corredores do Parque São Jorge. Recém-saído do PSV, da Holanda, o lateral-direito contou ao amigo que estava perto do acerto com o Vasco. O volante desejou sorte ao companheiro que, assim como ele, foi formado nos campos das categorias de base do Corinthians, apelidada de Terrão. No entanto, pouco depois se juntava ao amigo em São Januário, no elenco que conquistou o Brasileirão da Série B, em 2009. No Rio de Janeiro, a amizade fortaleceu, e no dia em que enfrentam o clube que os formou, pelas quartas de final da Libertadores, relembram histórias que marcaram suas vidas.
Fagner define Nilton como bruto. Nilton define Fagner como calmo. Mas ambos concordam que começar a carreira no Corinthians os deu a base necessária para suportar os diversos tipos de pressão que surgiriam ao longo de suas carreiras.
- A pressão da torcida do Corinthians é enorme, mas se você consegue levá-la para o lado positivo, fica muito motivado e amadurece rapidamente. O Zé Augusto, que foi meu treinador no time B, costumava dizer que se o atleta suporta a pressão no Corinthians, consegue jogar em qualquer outro clube - recordou Fagner.
Foi exatamente no time profissional B que Fagner e Nilton jogaram juntos pela primeira vez no Corinthians. O lateral-direito pulou diretamente dos juvenis para o elenco adulto e logo foi alçado à equipe principal pelo técnico Leão, na reta final do Campeonato Brasileiro de 2006 - disputando apenas sete partidas para depois ser negociado com o PSV. No primeiro dia de treinamentos, recebeu do roupeiro Edízio a instrução de colocar suas roupas no armário de Carlos Alberto, que havia sido afastado após discussão com o treinador. Foi então que levou um susto.
- Estava arrumando minhas roupas no armário, quando ouvi uma voz atrás de mim dizendo: "Quem colocou esse juvenil no meu lugar?" Olhei para trás e era o Carlos Alberto, e eu fiquei assustado. Mas ele logo sorriu e disse que estava brincando. Hoje, aqui no Vasco, relembramos essa história - diverte-se Fagner, que começou a treinar no Corinthians aos 9 anos.
Nilton foi 'olheiro' do amigo no Corinthians
Segundo Nilton, foi ele quem avalizou a ascensão do lateral-direito ao elenco profissional B do Corinthians. Por morar no alojamento das categorias de base do clube, em Itaquera, o volante observava treinos e jogos do companheiro e incentivou sua presença duas categorias acima.
- O técnico Paulão disse que precisava de um lateral-direito para o time e me perguntou se o Fagner era bom. Eu disse que ele tinha talento e que merecia uma oportunidade. Logo se destacou e passou para o time principal do Corinthians - lembrou Nilton, que chegou ao clube aos 13 anos.
O volante, por sua vez, não fica atrás quando se trata de histórias no Parque São Jorge. Fagner conta que Nilton era notório no clube, não apenas pelo chute pontente, mas pela enorme força física. Maior do que os jogadores de sua idade, que não escondiam o temor de enfrentá-lo.
- Acho que o Nilton jogava no Corinthians porque os outros tinham medo dele (risos). Ele era maior do que todo mundo e era meio doido. Antes de alguns jogos, batia a cabeça na parede. Era um monstro. A força física dele sempre foi impressionante - disse o lateral, sem esconder o sorriso.
Nilton estreou nos profissionais do Corinthians em 2005, atuando os 90 minutos do São Paulo contra o São Paulo no Morumbi. Vinte e quatro horas antes havia disputado uma partida em Mirassol-SP pelos juniores do Timão. Em 2007, sofreu uma lesão nos ligamentos do joelho direito durante uma partida contra o América-RN. No intervalo, levou uma injeção para amenizar a dor mas continuou em campo, tendo tempo de dar o passe para um gol. Seis horas depois da cirurgia já caminhava sem muletas e dobrava o joelho quase que totalmente.
Em 2008, Nilton precisou ser retirado de um treino pelo técnico Mano Menezes depois de garantir que poderia seguir em campo mesmo com a testa sangrando por causa de um choque com um companheiro num treino. A força física e a vitalidade são qualidades que acompanham Nilton desde que nasceu. Mas no Corinthians, o volante lembra que adquiriu características que considera fundamentais para sua formação como atleta.
- Na base do Corinthians fiquei mais malandro dentro de campo. Antes eu era muito inocente e não tinha tanta tranquilidade durante as partidas. Os garotos formados no clube recebem muito apoio da torcida. Eles valorizam os moleques do Terrão - ressaltou.
O espírito de competição muitas vezes fala mais alto do que a amizade. Na concentração, a disputa de ambos é no vídeo game. Fagner costuma levar a melhor no futebol, enquanto Nilton se diz superior nas corridas de carro.
Curiosamente, Fagner e Nilton colocarão em prática os valores adquiridos em Itaquera agora em São Januário, exatamente contra o clube que os formou.
Fonte: GloboEsporte.com