A trajetória de Aída dos Santos em Olimpíadas fugiu do padrão de glamour que o evento costuma ter. Machucada e sem equipamentos em suas duas participações (Tóquio-1964 e Cidade do México-1968), ela teve de literalmente se sacrificar para saltar.
Para chegar ao Japão, além de precisar confirmar o índice para o salto em altura (que era de 1,65m) seis vezes, a ex-atleta lidou com a falta de uniforme oficial e até de treinador na preparação. Na Vila Olímpica, foi apelidada de "turista" pelas outras esportistas, por treinar sem acompanhamento.
- Isto aconteceu porque sou mulher e negra, e naquela época isso era bem complicado aqui no Brasil - relembrou Aída, de 75 anos.
Ela também relatou ter enfrentado dificuldades com o isolamento (já que ficou sozinha em um quarto) e com a língua oriental. Sensibilizado, um cubano comprou para ela um tênis usado nos 100m rasos, diferente do salto, o que não prejudicou sua performance.
Com o calçado, Aída avançou na eliminatória. Uma torção no pé quase tirou-a da decisão, mas ela ficou a uma posição do pódio.
Quatro anos depois, na Cidade do México, ela mudou de modalidade e competiu no pentatlo moderno. Isto ocorreu porque Aída dominava amplamente tudo o que disputava no atletismo nacional.
Mas a participação no México também teve apuros. Lá, durante um treinamento, a brasileira sofreu distensão muscular ao saltar uma barreira. Acabou carregada e, depois, levada para tratamento.
Sua presença na final chegou a ser vetada por médicos, mas ela conseguiu competir após assinar um termo de responsabilidade. Terminou na 20ª colocação.
Apesar dos contratempos, Aída afirma que seus momentos nos Jogos foram prazerosos. A partir desta experiência surgiu a ideia de criar o Instituto Aída dos Santos, que promove a inclusão social de crianças por meio do esporte.
- Não ganhei dinheiro, mas isto já vale. Quero passar para as crianças o que não tive - disse Aída, mãe da central Valeskinha, ouro em Pequim-2008 com a Seleção de vôlei.
Bate-Bola com Aída dos Santos
DUAS PARTICIPAÇÕES NOS JOGOS OLÍMPICOS, EM ENTREVISTA AO LANCE!
Qual foi a reação quando você se classificou para os Jogos?
Pouco antes eu nem tinha noção do tamanho da competição, eu ajudava uma outra atleta. No dia em que garanti a vaga, estava arrumando a casa antes de ir competir.
Como foi conviver com as dificuldades nos Jogos de Tóquio?
Eu chorava muito, ficava sozinha na vila, não tinha nem técnico.
E como você lidou com as contusões que teve?
É complicado, ainda mais sem apoio, tinha de me virar sozinha. No México, em 1968, foi mais difícil. Caí depois de tentar passar pelo obstáculo. Fui carregada pelo médico e ele quis me vetar.
Como vai o trabalho no Instituto Aída dos Santos?
Muito bem. Eu fico feliz ao ver as crianças sendo formadas.
Participações de Aída nas Olimpíadas
Tóquio-1964
Para disputar a competição, Aída teve de confirmar por seis vezes o índice de 1,65m. Chegando lá, enfrentou dificuldades por não ter uniforme, tênis e nem treinador. Os dois primeiros problemas foram resolvidos e ela terminou o salto em altura na quarta posição, após ter se contundido na eliminatória por conta de uma queda
Cidade do México-1968
Na segunda participação, ela teve uma seletiva tranquila e foi competir no pentatlo moderno, pois já tinha experiência em diversas modalidades. Em um treino, Aída sofreu uma distensão muscular e foi vetada da final pelo médico. Mas, ainda assim, competiu ao assinar um termo de responsabilidade. Ficou no 20º lugar.
Fonte: Lance