O martelo usado nas obras da Copa de 2014 não é o mesmo dos leilões que põem o dinheiro acima de tudo. Comunista de carteirinha desde 1979, o cientista político Luís Fernandes forma com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, a dupla de zaga da presidente Dilma Rousseff na defesa dos interesses nacionais, em meio ao grande acordo comercial para a realização do evento. Num momento em que o Brasil não pode mais cometer faltas, “o interventor” do governo no Comitê Organizador Local é um técnico conhecido pela capacidade de conciliar rigidez de princípios com flexibilidade para o debate.
Grande benemérito do Vasco e professor de Relações Internacionais, o secretário-executivo do Ministério do Esporte tem a oportunidade de pôr em prática as paixões pela diplomacia e pelo futebol. Na recente reunião entre Fifa, CBF e COL, na Suíça, Fernandes chegou antes para pavimentar o caminho do diálogo.
— Ele não tem nenhuma pretensão eleitoral, o que é ótimo para esse trabalho — disse a deputada federal Manuela D'Ávila (PCdoB-RS), ao apresentar as credencias do colega. — É um quadro super técnico, respeitadíssimo. Não é político, mas tem experiência no Poder Público e sabe muito bem mediar conflitos
Formado na universidade de Georgetown, estudioso da antiga União Soviética, Fernandes é um dos 102 membros do comitê central do PCdoB. Sem os muros de outrora a separar doutrina do mercado, cultiva a boa convivência entre contrários.
Contra o clube empresa
Descendente de portugueses, ex-vice de Relações Externas do Vasco na gestão Eurico Miranda teve papel importante para mediar crises internas e externas numa fase em que o clube ficou marcado pela intolerância. Responsável à época pela comissão que estudava a reforma de estatuto do clube, trabalhou contra a criação de uma sociedade anônima para manter o propósito social e jurídico da instituição
O discurso pela preservação da identidade é vivenciado pela sua prática de torcedor. Frequentador de São Januário, dá palpite na escalação, não foi à final da Copa do Brasil em Curitiba, mas se uniu à grande festa da colônia portuguesa diante de um telão no Rio.
— Ele tem um viés nacionalista como nós — disse Pedro Valente, ex-vice presidente do Vasco e ex-secretário estadual de Saúde do governo Brizola. — Sempre estive na linha de Getúlio e Jango. O Fernandes foi mais para lado do socialismo.
Ex-secretário-executivo do Ministério da Ciência e Tencologia e ex-presidente da Finep, Fernandes é professor da PUC-Rio, da UFRJ e ex-comentarista do canal Globonews. Na última eleição do Vasco, seria o primeiro vice da chapa encabeçada por Valente, mas a oposição desistiu do pleito por alegar fraudes no processo que antes eram atribuídas à estratégia do antigo regime. Do apogeu à queda, Eurico afrontou ídolos e instituições e acabou sufocado política e economicamente. Nesse período, o Vasco precisou do tom conciliador de Fernandes para resistir.
No Ministério, sua chegada também foi apaziguadora após a queda de Orlando Silva, acusado de receber propina. Apesar da mesma bandeira do PCdoB, houve mudança na relação com os dirigentes esportivos. No lugar da proximidade cultivada pelo antecessor, Aldo trouxe certo distanciamento. A ligação do ministro é mais estreita com seu secretário, a começar pelo nome. Luís Manuel Rebelo Fernandes é companheiro de Aldo desde o movimento estudantil. Qualquer que seja a orientação ideológica, o martelo está nas mãos dos operários que têm menos de um ano para entregar os estádios para a a Copa das Confederações.