Enquanto o futebol português vive profunda crise financeira, o Estoril acaba de garantir o acesso à elite com um modelo pioneiro no país. É o primeiro clube sociedade anônima desportiva de portugal administrado por capital estrangeiro. E é do Brasil. A Traffic tem 74,5% das ações do clube.
Modelo que o presidente do clube e do conselho europeu da empresa, Tiago Ribeiro, vê como vencedor. E que poderia ser seguido.
– Fizemos uma aposta que apesar da crise dá certo. Cumprimos tudo, não atrasamos salários e saldamos as dívidas – disse Ribeiro.
Foi um processo. A Traffic queria entrar na Europa, e chegou ao Estoril por já ter este modelo. A empresa entrou em 2009 como gestora, e comprou as ações em 2010.
– Queremos solidificar o projeto na Europa. Não é só o processo financeiro que interessa – disse Ribeiro.
Europa é um sonho longe
Quando a empresa Traffic exerceu o poder de compra do Estoril, tinha o técnico Vinícius Eutrópio como gerente do projeto. Além disso, levou vários jogadores brasileiros.
Como não conseguiu o acesso em 2010/11, trocou o técnico, contratou mais portugueses e africanos de ex-colônias lusitanas.
O novo objetivo: se manter na elite, mas o sonho para o futuro é grande.
– Montaremos um elenco sem cometer loucuras, vamos nos consolidar na Primeira Divisão, e quem sabe no futuro, a gente não vai para torneios europeus?
Tiago Ribeiro garantiu ainda que a torcida sempre demonstrou apoio em sua gestão.
– São poucos, mas fiéis. Demonstramos logo que nossas intenções não eram apenas financeiras, mas também esportivas – diz o brasileiro, que vai celebrar o título da Segundona em uma festa no estádio do clube nesta semana.
Crise no Leiria
Atrasar os salários foi o problema que agravou a situação do União de Leiria. Jogadores rescindiram os contratos e o time chegou a atuar com oito atletas.
O goleiro Fernando Prass, do Vasco, não se surpreende com a situação do ex-clube, que pode anunciar o fim do futebol profissional nos próximos dias. E ele diz que a federação tem parcela de culpa:
– Ela cria mecanismos para os clubes cumprirem, isso não acontece. Aí ela dá um jeitinho nos documentos, depois fecha os olhos.
Mudanças na Liga
Alargamento
Na última semana, a Liga Portuguesa divulgou que a Primeira Divisão vai passar a ter 18 clubes, dois a mais do que a edição deste ano. Opção criticada pelo presidente do Estoril, que acredita que a atual composição sozinha não se sustenta.
Rebaixamento
Para ter dois clubes a mais, a Federação Portuguesa de Futebol determinou que haverá uma repescagem. Os dois últimos da Primeira Divisão (Feirense e União de Leiria), jogarão contra o terceiro e o quarto da Segundona. Hoje seriam Aves (que ainda pode passar o Moreirense e ir direto) e Naval (que pode ser superado pelo Leixões).
COM A PALAVRA: Tiago Ribeiro
Presidente do Estoril e do conselho da Traffic na Europa
Desde que assumimos o Estoril, sabíamos que tinha tudo para ser um projeto vencedor. A crise que o país e o continente vivem não chegou a ser um empecilho, acreditamos na recuperação e Portugal é um país apaixonado por futebol.
O processo passava pelo acesso, a receita era baixa, tivemos que ver os erros que vinham de antes, corrigi-los, e depois reconhecer os nossos próprios erros do primeiro ano. Conseguimos, e agora queremos crescer.
COM A PALAVRA: Fernando Prass
Goleiro do Vasco, ex-União de Leira
Tenho acompanhado a situação do Leiria, e nada disso me surpreende. Tudo que acontece agora, aconteceu comigo da mesma maneira, ficar três meses sem salários, eles dizem que pagaram, e nada, falam que os jogadores não são profissionais. O presidente não bate muito bem da cabeça.
A saída de vários jogadores foi uma decisão coletiva. A situação já começava a ficar insustentável, foi uma decisão coletiva, e do jeito que estava, eles fizeram certo.
Fonte: Lancenet