Vascaíno até as entranhas da alma e locutor oficial do Estádio de São Januário por 54 anos consecutivos (recorde mundial, segundo o Guiness Book), até morrer, em 2001, Walter Miceli, o Jaguaré, está prestes a ser homenageado em um logradouro público de São Cristóvão, bairro onde nasceu e passou a vida inteira: o vereador Roberto Monteiro (PC do B) já tem pronto um projeto de lei que, caso seja aprovado, mudará o nome da Praça Dom Pedro II, vizinha à Quinta da Boa Vista, para Praça Walter Miceli-Jaguaré.
Gerações de torcedores se acostumaram à voz rouca de Jaguaré, mas o locutor fazia também sucesso animando blocos e bailes de São Cristóvão, especialmente o "Carnaval da Cancela". Nos dias de festa do Momo, ele promovia o 'Bloco das Piranhas', o 'Fala Meu Loiro' e outros que desfilam no bairro imperial, anunciando-os pelo auto-falante de sua velha Kombi.
Jaguaré era funcionário público estadual e trabalhava na VII Administração Regional (São Cristóvão). A dona de casa Rosa Fagundes Miceli, de 53 anos, viúva do locutor, com quem foi casada 12 anos e teve um filho, recorda que zelar pelo bairro era uma preocupação constante:
Ele sempre buscava soluções para problemas como buracos no asfalto, falta de segurança e outros. Amava São Cristóvão. Por isso, considero a homenagem mais do que justa. Sem contar que era muito querido por todos que tiveram a chance de conhecê-lo.
BAIRRO IMPERIAL - Fonte de inspiração para o nome de cidades, ruas, logradouros públicos e até colégios, o carioca Dom Pedro II era querido pelo povo e deixou o trono em 1889 para se exilar em Paris após o golpe militar que instaurou a República.
Filho de italianos, o locutor costumava ser goleiro nas "peladas" de rua, e seu ídolo na infância era Jaguaré. Gostava tanto dele que, aos seis anos de idade, adotou o nome do arqueiro do Vasco como apelido para a vida inteira. Ainda criança, certa vez ele visitou São Januário na companhia dos pais e sentenciou: "Um dia vou trabalhar aqui". O plano se concretizou em 1947, quando foi contratado como primeiro locutor pelo vice-presidente Álvaro Ramos.
"Atenção vascaínos!", era como Jaguaré iniciava as mensagem. Às vezes, raramente, perdia a cabeça ao vivo. Foi o que aconteceu em 1996: o Vasco derrotava o Grêmio por 1x0, pelo Campeonato Brasileiro, e o juiz paulista Oscar Roberto de Godoy dava um acréscimo no tempo de jogo que parecia não ter fim. Até que de tanto insistir o time gaúcho empatou e o locutor, furioso, reagiu ao microfone: "Agora pode acabar, seu muquirana".
Como não aplaudi-lo!?
Fonte: O Meu Vascão