Artilheiro do Sul-Americano Sub-15, Mosquito quase trocou o Vasco pelo São Paulo na última quinta-feira. Quase. Só não o fez porque, no último momento o presidente Juvenal Juvêncio foi convencido de que investir tamanha soma financeira em um jogador tão jovem e com dúvidas sobre seu potencial futuro iria contra toda a filosofia de formação que o clube adotou nos últimos anos e poderia ser muito prejudicial ao andamento das coisas em Cotia.
Trocando em miúdos, Mosquito é a antítese de tudo o que se apregoa no Morumbi. Já com traços de adulto, é bem mais desenvolvido fisicamente do que Joanderson, Bruno e Ewandro, atacantes tricolores já convocados para a seleção sub-15, tem a força de um jogador dos juniors. Muitas pessoas que trabalham na base de diversos clubes do país suspeitam até que seja gato (o que jamais foi comprovado). Mesmo que não seja, é mais “maturado” do que os outros, o que significa que crescerá menos, e quando a parte física se equiparar, aí sim começaremos a saber o real potencial dele.
No São Paulo, o discurso foi sempre de priorizar atletas técnicos ao invés de buscar jogadores mais bem desenvolvidos fisicamente. Foi assim, por exemplo, que Lucas, um jogador com desempenho mediano em campeonatos sub-15 e sub-17 (prova disso é que não foi convocado para a seleção sub-17 em 2009), teve espaço para crescer e mostrar o seu talento, assim como outros que ainda não estouraram, como Henrique Miranda.
Outra regra que poderia ser quebrada é a do teto salarial. No São Paulo, jogadores da base não recebem salários de superstars. O problema é que Mosquito, depois de encher os olhos de Ney Franco com os dez gols do Sul-Americano Sub-15, quis também encher o bolso de dinheiro, ao que consta. O Vasco, sem recursos para pagar, tentou negociar, mas não obteve resposta e afirma que ele sumiu, fato que o jogador nega.
Em entrevista recente ao “Globoesporte.com”, o atacante se dizia angustiado para voltar a jogar, coisa que não acontecia já há cinco meses e, de acordo com o padrasto, escolheu a melhor proposta, cuja soma certamente envolveria mais do que dois cafezinhos e três pães com manteiga. Fala-se até em R$ 500 mil de luvas, valor que supera muito o oferecido aos melhores jogadores do próprio clube e faria com que outros jogadores pedissem mais, inflacionando os custos operacionais de Coria.
Com o recuo são-paulino de última hora, Mosquito e seu padrasto e agente Jeverson Faria seguem desesperados procurando um clube que seja capaz de pagar o que eles acham que merecem receber. Poucos se mostram interessados, pelos mesmos motivos que o São Paulo refugou. Ao Vasco, que quer a renovação, a reclamação de aliciamento de Roberto Dinamite publicada em entrevista ao “Blog do Menon” não procede, pois o São Paulo foi procurado pelo jogador, e não o contrário. Ainda assim, o clube carioca é também vítima dessa hiperinflação que ocorre no mercado da base e que os próprios clubes ajudaram a criar.
Se não calçar as sandálias da humildade e reduzir a pedida, Mosquito corre o risco de passar o ano inteiro sem jogar e perder ainda mais prestígio no futebol brasileiro. Afinal de contas, quem vai investir em um jogador caro, com histórico problemático e que passou um ano sem jogar? A ambição, nesse caso, precisa ser freada, sob pena de um futuro inteiro ser comprometido. E aí os 10 gols pela seleção poderão apenas pintar como lembranças de mais um que ficou pelo meio do caminho.
Fonte: Coluna Pedro Venâncio - Olheiros.net