Futebol Americano Feminino: Jogadoras falam sobre a prática do esporte

Sábado, 28/04/2012 - 22:43

Domingo é dia de Botafogo x Vasco, às 10h, na Praia do Leme. Mas não se trata da decisão da Taça Rio do Estadual de futebol, e sim da abertura do Carioca Bowl, o Campeonato Estadual Feminino de Futebol Americano de Praia, entre Botafogo Flames e Vasco Big Riders. Neste jogo, que é um clássico assim como o confronto do futebol, as meninas apaixonadas pela bola oval darão início à temporada nas areias do Rio e também de Saquarema.

A competição vai ter prosseguimento no dia 6 de maio, em Saquarema, com Vasco x Fluminense Guerreiras. As jogadoras do tricolor, por sinal, são as que haviam ganho em 2010 e 2011 o bicampeonato estadual pelo clube de São Januário e se mudaram para o das Laranjeiras. A última rodada do primeiro turno será no dia 20 de maio, na Praia de Copacabana, em frente ao Hotel Copacabana Palace, entre Fluminense e Botafogo. As praias de Botafogo e Copacabana são os principais palcos, com destaque para o chamado "Siqueirão", o trecho em frente à Rua Siqueira Campos. As finais costumam ser em frente ao Copacabana Palace.

Talvez pouca gente saiba, mas a modalidade vem crescendo no Estado do Rio de Janeiro, seja na versão praia — masculina e feminina —, seja na versão disputada em gramados por times masculinos. Nas areias, jogadoras e jogadoras dão os primeiros chutes e fazem as primeiras jogadas. Mas, à medida que evoluem tecnicamente e obtêm recursos para importar dos EUA o kit de segurança que inclui capacete e equipamento de proteção para o tórax, ombros, região genital e pernas — avaliado em US$ 1 mil — os atletas começam a sentir o gostinho de jogar no campo, tal e qual seus ídolos na National Football League, a NFL, cujo maior evento anualmente é o Super Bowl, no fim de janeiro ou começo de fevereiro. Este ano, o campeão foi o New York Giants.

— Troquei a dança pelo futebol americano. Chegava em casa toda roxa, e minha mãe ficava preocupada — conta Nathalia Gonçalves, middle linebacker (uma espécie de zagueira) do Fluminense. — Mas é algo viciante!

Reunidas pelo GLOBO durante a semana, as meninas concordam. Não duvidam de que basta começar a jogar para se apaixonar.

— Você se vicia e começa a acompanhar tudo — diz Gabriela Negreiros, full back e linebacker (jogadora de defesa) do Vasco Big Riders.

— E não é só praticar. É seguir tudo sobre o nosso esporte. Todo mundo que joga tem um time na NFL — acrescenta Rachel Jabo, quarterback (armadora) do Fluminense. — Quando acontece o Super Bowl, todo mundo procura se reunir para assistir junto em algum pub ou restaurante.

E se há preconceito contra atletas femininas de outros esportes, não é difícil imaginar que isso ocorra com uma modalidade em que há contato intenso e choque.

— Minha mãe ficou chocada quando me viu de cadeira de rodas, porque eu havia sofrido uma lesão na patela esquerda — conta Vanessa Cardoso, defensive liner (defensora) do Fluminense, que chegou a ficar seis meses parada em 2009. — Minha mãe sempre me liga durante os jogos, para saber se não me machuquei.

No caso de Gabriela, que já sofreu uma fratura no nariz, não faltam os conselhos da mãe, que teme que a filha acabe se "estragando" toda. Embora alguns torçam o nariz para as atletas, chegando até a desconfiar de sua feminilidade, as jovens não deixam de lado artigos como protetor solar; protetor bucal, para evitar dentes quebrados; luvas, para poderem manter as unhas grandes, sem cortar; calças compridas, para evitar marcas de shorts nas pernas. Quem tem cabelão, não dispensa uma trança. E, claro, não faltam a vaidade e a criatividade tipicamente femininas: antes dos jogos, elas pintam as unhas e usam xuxinhas de cabelo nas cores de seus times.

Curiosamente, segundo elas, quem tem mais preconceito são as amigas.

— Na minha faculdade, os garotos acham o máximo eu jogar futebol americano — diz Rachel.

Embora elas tentem trazer amigas para o esporte, muitas temem o contato físico, e de cada dez que chegam, duas ficam.

— As meninas que não jogam e que têm mais preconceito — acrescenta a quarterback tricolor.

Para Mariana Eloy, cornerback (lateral) do Botafogo, que antes tentara a sorte na natação, vôlei e futsal, seu esporte tem algo de muito especial, o fato de ser universal:

— Você não tem de ser alto, baixo, gordo ou magro. Qualquer tipo físico encontra sua posição em campo. Jogo rúgbi no Guanabara, e com as Olimpíadas do Rio, em 2016, as pessoas vão ver estes esportes com outros olhos.

Apesar dos preconceitos, mas talvez por abrir espaço para pessoas de diferentes tipos físicos, a modalidade vem crescendo e no Rio é gerida pela Fefarj. (Federação de Futebol Americano do Rio de Janeiro). Além dos três times que vão jogar o Estadual, estão surgindo as equipes do Wolves, do Flamengo; dos Falcões, da Barra; e do Hammerhead Girls, de Araruama. No caso do masculino, a modalidade já está presente no estado há pouco mais de dez anos. Há dez times na praia, e alguns atletas dessas equipes atuam nos times do Vasco da Gama Patriotas e Botafogo Mamutes (que jogam o Torneio Touchdown) e Fluminense Imperadores (da Liga Brasileira). Esses ttrês times são os únicos do Estado do Rio que já atuam em campo gramado. Calcula-se que pouco mais de 500 jovens já praticam o esporte no estado, sendo 130 mulheres.

Jogadoras do Vasco e do Botafogo treinam na Paia de Copacabana


Fonte: O Globo online