Fim de mais um treino em São Januário. Às vésperas da semifinal contra o Flamengo, ovada e farinha para festejar o aniversário de Éder Luís. Banho tomado, carros ligados e parte do elenco deixa o estacionamento junto, rumo ao almoço de comemoração dos 27 anos do atacante. Cena comum entre os jogadores do Vasco que resume bem o ambiente do time. Todos estão juntos, para o bem e para o mal.
Festejos para um, mau momento de outro, contusão de um terceiro. A união é a mesma, assim como o prazer de estar junto. No Vasco de hoje, um compra a briga do outro. Dentro e fora de campo.
— A gente formou aqui uma família muito unida — concluiu o meia Felipe.
Problemas fora do campo
Neste domingo, é difícil definir de quem é o Vasco que disputa a final da Taça Rio com o Botafogo no Engenhão. De Felipe, de Juninho, de Dedé, de Diego Souza, de Alecsandro? A resposta chega em uníssono: não é de um só, é de todos.
O pensamento coletivo reflete-se no vestiário, como se diz no futebol. E um bom vestiário pode ser o pilar de um time campeão. A qualidade técnica continua insubstituível. Mas, a longo prazo, o ambiente saudável e maduro é capaz de sustentar uma equipe vencedora por mais temporadas.
Presente em diferentes elencos do clube ao longo dos quase 20 anos de carreira, Felipe criou-se no Vasco em ambiente bem menos ameno. Como o grupo em constante atrito com as presenças de Romário e Edmundo.
— Acredito que este é o melhor grupo do Vasco que trabalhei, sim. Cada time que joguei aqui tem a sua particularidade. Neste, não tem uma estrela, são várias estrelas e pouca vaidade. O primeiro objetivo é ganhar, acaba sendo bom para todo mundo — disse.
Do lado dos mais jovens, a visão é a mesma. Rômulo cita o respeito mútuo, em um grupo grande no qual a intimidade e a amizade têm níveis diferentes.
— Todos estão conscientes de que assim o time vai bem. Que não só o grupo está acima das questões individuais. O Vasco está acima de tudo isso — disse o volante.
Na família unida citada acima os problemas também existem. Discussões, brigas, desentendimentos, mal entendidos. Em pouco mais de um ano, o time conviveu com o afastamento e retorno do próprio Felipe, que já reclamou publicamente da reserva e recebeu um puxão de orelhas. Deu o aval para a volta de Carlos Alberto, que passou a última temporada fora do clube por ter brigado com o presidente Roberto Dinamite e voltou após pedir perdão.
Em meio à conquista da Copa do Brasil ano passado, inúmeras crises financeiras, que culminaram com a mais grave no início desta temporada. Salários e direitos de imagem atrasados, o não recolhimento do FGTS, que acabou na saída de Bernardo, e determinou o cancelamento da concentração antes dos jogos até o pagamento. Os mais experientes e bem remunerados socorreram os menos abastados e tomaram a frente da situação.
Ídolo do clube, Juninho também se vê na eterna polêmica com o companheiro Felipe, se podem ou não podem jogar juntos. Além do mal estar gerado pelos números do seu contrato terem vindo a público.
Desgaste com a diretoria contornado com muita dificuldade pelo diretor-executivo Daniel Freitas, que deixa bem claro que o dia a dia do clube não é só alegria.
— O elenco tem jogadores de idades diferentes, vivências diferentes, uns já consagrados e outros aparecendo e deu liga. O principal é a franqueza, quando querem questionar me procuram ou ao Cristóvão. Não tem um jogo de cena, esse é o segredo da manutenção do bom ambiente.
As tormentas, no entanto, praticamente não têm respingado no rendimento em campo. Se jogou bem ou mal, não foi por motivos extracampo, mas técnicos. A derrota ou a vitória veio pelo ocorrido nas quatro linhas. E, na média, sob o comando de Ricardo Gomes/Cristóvão Borges o Vasco vai bem. Um título, uma semifinal da Copa Sul-Americana, duas finais de turno e presença nas oitavas da Libertadores. E agora a busca pelo Carioca.
Fonte: Globo Online