Cristóvão, sobre o futuro: 'A minha carreira já está solo'

Sábado, 28/04/2012 - 12:18

Oito meses depois de assumir o Vasco em uma emergência, Cristóvão Borges está a 90 minutos de realizar um sonho até pouco tempo inesperado. Caso o Vasco derrote o Botafogo , domingo, no Engenhão, o clube conquistará a Taça Rio – segundo turno do Campeonato Carioca -, feito que não acontece desde 2004. E ele experimentará sua primeira conquista pessoal como treinador.

Como treinador, sim, porque vida de auxiliar para ele é coisa do passado. Cristóvão diz que já vem fazendo carreira solo neste período, tomou o gostinho de dirigir e quer seguir a rotina de treinador. Em entrevista ao iG, ele revela que, mesmo com Ricardo Gomes voltando (se recupera de um AVC hemorrágico), não pretende mais fazer o papel de coadjuvante.

A volta de Ricardo, por sinal, é um grande mistério. Falou-se no fim do ano passado que o técnico assumia a equipe em fevereiro. Depois, o prazo foi ampliado para março, depois para abril e agora segue indefinido. Em intenso trabalho de fisioterapia, o técnico campeão da Copa do Brasil não tem data prevista para voltar.

Cristóvão, melhor amigo e fiel escudeiro até Ricardo sair de cena em 28 de agosto de 2011, não tem um feedback sobre assunto. Segundo o ex-auxiliar, nem ele e nem os médicos.

Cristóvão Borges e Ricardo Gomes, representado pelo filho, recebem o prêmio de melhor técnico do Brasileiro


Oito meses depois de assumir inesperadamente a equipe, você está próximo da primeira volta olímpica. Qual o filme que passa na sua cabeça?

Já parei para pensar nisso. Foi um período que começou muito complicado por causa da obrigação de se manter um trabalho. Por toda dificuldade que foi a situação de surpresa do Ricardo. Era um desafio enorme você manter aquilo. Difícil chegar e dar sequência, porque o Vasco em um ano está brigando na ponta. E você conseguir manter isso é a consolidação de tudo. Particularmente, estou adorando. Vamos brigar para que isso aconteça. Esse grupo merece isso, e eu estou buscando este reconhecimento pessoal também.

O que foi mais difícil nestes oito meses?

O pensamento era continuar o que vinha sendo feito. Assumi a equipe dentro de um quadro de urgência. Já estava aqui, estava ambientado, conhecia o grupo e me pediram para ir dando sequência ao trabalho. Aceitei sem saber o tempo que levaria até o Ricardo voltar. E o meu medo o tempo todo foi não deixar que a equipe desse um passo atrás. Nós estávamos andando sempre lá na frente. Convivi com vaias, desconfianças, cobranças, críticas…

Qual o amadurecimento que esta experiência lhe trouxe?

Bastante, porque a dinâmica do futebol é acelerada. Aqui dentro, você vai a cresce. E com isso melhora a visão das coisas. A visão do treinamento, das opções de jogo, do trabalho de uma forma geral. Você lida com os setores do lado de fora que lá dentro vão te trazer um resultado. Ou seja, a convivência com este elementos internos e externos, gerir tudo isso, te traz conhecimentos novos. E nisso eu amadureci muito. Fui jogador, capitão das equipes, auxiliar. Estou há muitos anos no futebol. Já conhecia muita coisa, mas ficar ali dentro me trouxe muito conhecimento. Mudou muita coisa e acrescentou muita na minha maneira de ver e de pensar.

Antes, você dizia que não pensava em ser técnico, que esperaria o Ricardo voltar para ser auxiliar novamente. Mantém este pensamento?

O que aconteceu foi o seguinte. Eu explico. Eu não tinha era a preocupação de dar esta resposta, a minha preocupação, repito, era manter (o trabalho desenvolvido por Ricardo). Mas eu sabia que se os resultados viessem, as coisas poderiam mudar.

Então você já pensa em seguir a carreira de treinador?

É claro que penso em fazer carreira solo. São oito meses, passei por muita coisa, aprendi muito, vivi muito. Como eu te disse: a dinâmica do futebol muda muita coisa. Hoje eu quero levar a vida de treinador.

Então se o Vasco for eliminado no Carioca e no Brasileiro, e você cair, amanhã aceitará tranquilamente o convite de um Internacional, de um Cruzeiro, de um Corinthians? Não vai se ver mais vinculado ao Ricardo?

Sim. Claro que não penso nisso, quero durar muito ainda aqui no Vasco, mas amanhã se eu for demitido, meu destino será como treinador. Já está decidido.

Enquanto isso, você se mantendo empregado aqui e com o Ricardo voltando, os dois trabalhariam juntos novamente, sendo você novamente auxiliar dele?

Esta é uma resposta que eu não sei te dar. Vai depender de muita coisa. Vamos esperar o momento, quando vai ser, o que o clube estará vivendo, como estará o meu momento…

Para ficar mais claro: você não pretende mais ser auxiliar dele? Não pensa mais em trabalhar junto com ele?

Difícil te responder. Entendo a tua dúvida, mas não quero falar isso agora. A gente também não sabe quando ele volta…

Você, por ser muito amigo dele, tem ideia de quando a volta dele aconteceria?

Não sei, ele não sabe. Olha, nem os médicos sabem quando ele volta. Havia uma previsão para o meio do ano, mas que não deve se concretizar. Não sei, o médico não sabe. Pode ser este ano, pode ser ano que vem…Não sabemos. Ele está em tratamento rigoroso.

O que parece é que apesar da relação de amizade entre vocês dois (ele interrompe para dizer “somos como irmãos”), você está deixando claro que auxiliar nunca mais…

A minha carreira já está solo.

Fonte: IG