Ainda não deu tempo para o torcedor do Figueirense sentir saudades dos laterais Juninho e Bruno, destaques do Campeonato Brasileiro do ano passado e negociados, respectivamente, com Palmeiras e Fluminense. Isso porque as posições rapidamente ganharam novos donos e ótimos números. Guilherme Santos e Pablo, desde que estrearam juntos na equipe, estão invictos: em dez partidas, eles acumulam oito vitórias e dois empates, e chegam como amuletos do Alvinegro nas finais do Campeonato Catarinense. Neste domingo, às 16h (de Brasília), na Arena Joinville, o time faz o primeiro de dois duelos contra o Joinville, valendo uma vaga na decisão do estadual.
Amigos desde as categorias de base, os dois laterais têm uma trajetória semelhante no futebol. Companheiros nos juniores do Vasco, em 2006, eles foram negociados dois anos mais tarde para a Espanha, onde viraram rivais pelo Almería e Zaragoza. De volta ao Brasil, tornaram-se novamente adversários na temporada passada, dessa vez em Minas Gerais, por Atlético-MG e Cruzeiro. Este ano, Guilherme Santos e Pablo se reencontram na mesma equipe e tentam repetir o sucesso de seus antecessores, que se destacaram pelo Figueirense no cenário nacional: além dos exemplos recentes de Juninho e Bruno, passaram por lá André Santos e César Prates, que chegaram à Seleção Brasileira, Lucas, que está no Botafogo, entre outros.
- Quando vim para cá, não sabia disso (do retrospecto do time na posição). Lembrava do André Santos, mas, depois que cheguei, prestei mais atenção. É porque alguma coisa boa tem ali (nas laterais), graças a Deus (risos). Antes de vir, já sabia que o Pablo estava aqui. Não sei o dia de amanhã, mas estamos trabalhando para as coisas darem certo, como deram para esses outros atletas também - observou Guilherme.
Palavras que ganharam, na fala de Pablo, o mesmo tom de otimismo e admiração pela oportunidade da dupla.
- A gente fica feliz que o clube está sendo bastante visado, ainda mais com a última campanha no Brasileiro (terminou em sétimo lugar). Se a gente jogar bem, vai ter esse reconhecimento também. Os que estiveram aqui no passado fizeram um grande papel. Mas eles saíram, e agora é com a gente. As coisas estão indo bem, mas ainda falta muito para atingi-los. Estamos procurando firmar o nosso nome - afirmou.
Volante de origem, Pablo mudou de posição a pedido do técnico Cuca, no Cruzeiro. Já como lateral-direito, ele chegou ao Figueirense em junho de 2011, porém, como reserva de Bruno, pouco jogou no ano passado. Aos 22 anos, o jogador ganhou espaço no time neste estadual e renovou contrato até o fim da temporada. Mas apesar do bom momento, ele refuta comparações com seu antecessor.
- Não jogo pensando em substituir o Bruno. Sou totalmente diferente. Quando fui para a Espanha, me tornei um jogador muito tático. Prefiro ajudar meu time atrás a ir para frente. Mas, com o tempo, vou pegar mais confiança e ir mais vezes ao ataque - confessou o atleta, que tem um gol marcado pelo time, o terceiro do Figueira no empate por 3 a 3 contra o Joinville, no dia 11 de março.
Enquanto um tenta se acostumar ao ataque, o outro busca se adaptar à defesa. Meia de natureza, Guilherme se tornou lateral-esquerdo ainda na base, mas sempre com o estilo ofensivo. Contratado por empréstimo de um ano junto ao Atlético-MG, ele desembarcou no Figueirense no início da temporada.
- A lateral foi uma posição que me adaptei muito bem, encaixou com meu ritmo de jogo, com minha velocidade. Sempre joguei mais avançando, na força física, mas de um tempo para cá, depois que saí da Espanha, melhorei muito na marcação. Estou tentando colocar as duas coisas em prática aqui - contou o jogador, que balançou a rede duas vezes pelo clube: fez o quarto da goleada por 4 a 0 sobre o Marcílio Dias, no dia 29 de fevereiro, e o terceiro da vitória por 3 a 0 sobre o Chapecoense, no dia 25 de março.
O dinâmico mundo do futebol pode separar os dois laterais num futuro não muito distante. Mas enquanto residem na mesma cidade, em Florianópolis (SC), os dois aproveitam para reforçar a amizade e relembrar os tempos de infância no Vasco, ao lado de então jovens promessas como Phillipe Coutinho, Alan Kardec, Alex Teixera, Madson, entre outros.
- O destino às vezes vai nos separando e nos unindo quando a gente menos espera. O Pablo sempre foi um menino descontraído, brincava com todo mundo, e logo criamos um ciclo de amizade. Na concentração do Vasco, se não me engano, eu ficava na cama de baixo do beliche, e ele na de cima. A gente passou por muita coisa juntos, sofremos juntos, isso é que tem que dar valor. Hoje, cada um tem sua família, mas ainda temos contato: às vezes saímos, jogamos videogame, a mulher dele se dá bem com a minha namorada... - revelou Guilherme, que ainda não pensa na próxima vez que vão se reencontrar como adversários e já se enrolou todo ao ser questionado sobre quem leva vantagem no confronto direto entre eles.
- Na Espanha, joguei uma e ganhei, só que na outra eu perdi. Acho que está empatado. Mas em Minas a gente venceu o primeiro, então acho que eu estou um jogo na frente. Ah, mas teve a final, que perdemos para o Cruzeiro. O Pablo ficou no banco nesse jogo, mas como conquistou um título em cima de mim, vou dar um crédito para ele (risos).
Fama da lateral se expande até fora de campo
Coincidência ou não, a ligação recente do Figueirense com a posição de lateral vai até para fora das quatro linhas. Os últimos dois técnicos do clube, Jorginho e Branco, atualmente no comando da equipe, são justamente ex-jogadores da posição que chegaram à Seleção Brasileira.
- Dois caras que jogaram Copas do Mundo, são conhecidos no mundo todo... A gente já teria que respeitá-los só pelo fato de serem treinadores, mas por terem jogado na nossa posição, faz a gente ouvir e levar com carinho o que eles falam - explicou Pablo.