Os maiores clubes do Brasil já perceberam há anos que os campeonatos estaduais estão definhando, como mostrou levantamento do LANCENET! publicado na última quinta-feira. O problema é que os próprios clubes, os maiores interessados, não conseguem criar alternativas para mudar o calendário do futebol brasileiro. Um dos motivos da discórdia é a falta de uma entidade que fale por eles. O Clube dos 13 ainda existe no papel, mas não tem mais nenhum poder de decisão. Por isso, sobram reclamações. Faltam alternativas.
Diante da inércia dos dirigentes, surgem propostas de empresas especializadas em pesquisar o futebol. Uma delas vem da Pluri Consultoria, que estuda os números de público e renda dos estaduais. Depois de avaliar em 2012 os maiores campeonatos, a empresa concluiu: os estaduais acabaram.
– Esse negócio de campeonato estadual é uma aberração. Não existe em nenhum lugar do mundo. Os existentes estão aí há quase 100 anos. É um produto morto – diz o economista Fernando Pinto Ferreira, diretor-presidente da Pluri e autor do estudo.
Para ele, o modelo ideal seria um Campeonato Brasileiro forte durante todo o ano. Isso, por enquanto, não seria possível. Por isso, a sugestão mais adequada, na visão do economista, seria resgatar os campeonatos regionais para os clubes grandes e deixar os estaduais exclusivamente para os pequenos.
– Até maio, os grandes disputariam os regionais com jogos mais interessantes para o torcedor. Teríamos, por exemplo, Flamengo contra Santos. E os pequenos ficaram só nos estaduais, com chances reais de vencer, o que também atrairia mais público – observa.
Apesar de reclamarem nos bastidores, poucos dirigentes vêm a público discutir um novo calendário para o futebol brasileiro. Peter Siemsen, presidente do Fluminense, vem insistindo na reformulação dos estaduais, mas encontra pouco apoio entre a cartolagem.
– Temos que fazer um campeonato mais atrativo, mais rentável. O problema é que falta unidade entre os clubes – reclama Peter.
Estaduais sem os grandes?
Mudança - Um estudo da Pluri Consultoria sugeriu que os Estaduais fossem mantidos, mas somente com os times pequenos. Assim, os pequenos teriam chance de ser campeões estaduais, o que poderia deixar a competição mais interessante para eles.
Regionais - Os grandes clubes disputariam as competições regionais (Rio/São Paulo, Sul-Minas, Copa do Nordeste). Assim, os regionais teriam jogos mais atrativos nos primeiros meses do ano. Isso não mudaria o calendário do Brasileirão, que seguiria nos mesmos moldes.
Pequenos mais fortes - Com Estaduais sem os grandes, diz o estudo, os pequenos teriam mais torcida (devido à chance de título), o que ajudaria a fortalecê-los. Pela proposta, os campeões dos estaduais teriam vaga nos regionais, mais um estímulo para não acabar com os clubes pequenos.
Nordeste - A retomada da Copa do Nordeste, prevista para 2013, está no caminho proposto pela Pluri Consultoria. A Copa será organizada pela CBF, mas os clubes inscritos também jogarão os estaduais. O evento pode ser um teste para retomada dos outros regionais.
Movimento pela Copa Sul
Apesar da inércia em boa parte do país quanto a mudanças nos Estaduais, no Paraná um movimento pelo retorno da extinta Copa Sul começa a se desenvolver. Capitaneado pelos paranaenses, o projeto será discutido com mais profundidade assim acabar a edição-2012.
– Nós, o Atlético-PR, Londrina e o Paraná já deram seu apoio. Vamos levar a proposta para os outros estados em breve – afirmou Joel Malucelli, presidente do Corinthians-PR e membro da família de empresários que exerce forte influência no futebol do estado.
Caso a proposta entre os sulistas seja bem aceita, a intenção é levar a ideia para os mineiros e então revitalizar a Copa Sul-Minas.
– Hoje, recebemos pouco com o Paranaense. R$ 130 mil por campeonato. Os grandes, R$ 500 mil. É um campeonato pobre. R$ 500 mil era o que o Malutrom ganhava na Sul-Minas em 2003 – diz Malucelli.
Cariocas só no discurso
Os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro chegaram a ensaiar uma rebelião no início deste ano contra a atual fórmula do Carioca. Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo afinaram o discurso de que era preciso diminuir o número de clubes do Estadual. A principal sugestão era que os pequenos times disputassem uma fase preliminar para esperar os quatro grandes nas finais.
No encontro com a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj), no entanto, os clubes recuaram. Falaram que a redução simplesmente não seria a alternativa para mudar a realidade do Carioca, que tem média de público de 2.440 pagantes.
Em São Paulo também há reclamações em relação ao Paulistão, considerado um campeonato longo demais por ter 20 clubes. Mas ocorre o mesmo problema do Rio. Os dirigentes não apresentam alternativas de mudança.
Fonte: Lancenet