Ninguém mais pode negar que está estabelecida uma guerra pelo poder na Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Nesta entrevista ao LANCENET!, o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj), Rubens Lopes, expôs as entranhas dessa disputa.
Ao mesmo tempo que clama por união em prol do futebol brasileiro, Lopes adotou um discurso bélico e até utilizou o termo golpe ao falar sobre a possibilidade de concentração de poder da CBF nas mãos de dirigentes paulistas.
Líder do grupo rebelde (ele repudiou o termo) que queria nova eleição na CBF, Lopes se mostrou conformado com a posse de Marin. Sua briga, no entanto, não terminou. Ancorado em um acordo de cavalheiros, frisou que cabe ao Rio indicar o vice-presidente da Região Centro-Sul da CBF.
Na quarta-feira, indicou o nome de Zagallo para a vice-presidência. A ala paulista da CBF pode aceitar e cumprir o acordo verbal ou lançar um candidato e impedir que a paz vigore na entidade.
Há uma reflexão coletiva acerca do papel dos estaduais. Em que isso se relaciona com o momento político da CBF?
É coincidência e não parte da CBF. Os estaduais vão continuar. Por quê? Porque o Brasil não vive só de 20 clubes e nem vive só do Brasileiro. Os clássicos regionais dos estaduais têm média de público maior do que quando ocorrem nas competições nacionais. Por que isso? Por causa da cultura e da rivalidade regional que existem. Estaduais são importantes porque servem como laboratório para entrar numa competição maior. Agora, o fato de ser campeão estadual não significa que está forte para disputar uma competição nacional. Está tudo bem? Claro que não. Precisa mudar? Até acho que precisa, mas com fundamento técnico.
Ao falar em mudança, o senhor se referiu ao Carioca ou ao Brasileiro?
Temos de rever tudo. Para que ter a Série D? Não serve para nada. Devia iniciar pela C.
O presidente da CBF, José Maria Marin, tem respaldo jurídico para estar no cargo. Mas há federações insatisfeitas. Ainda é possível termos uma nova eleição à presidência?
Possibilidade de mudança é muito remota. Ele diz que vai cumprir o mandato até o fim. Quanto a isso ninguém duvida. Se vai acontecer, não sabemos. Mas há boatos.
Que boatos?
De que estaria sendo construída uma situação para que a vice-presidência da Região Centro-Sul (posto ocupado anteriormente por Marin e vago desde que ele assumiu a CBF), fosse assumida pelo presidente da Federação Paulista (Marco Polo Del Nero). No caso, o Marin renunciaria em prol do presidente da Federação Paulista, que assumiria a presidência por ser o vice mais idoso. Não sei se isso fica no terreno do boato ou se evolui para hipótese e, depois, seria concretizado.
E o Rio? O vice-presidente da região Centro-Sul é eleito pelas federações fluminense e paulista.
Historicamente há um acordo. Existe uma alternância (de indicação) entre o Rio e São Paulo. E, agora, a indicação é do Rio. Se não for assim, é golpe. Aí, estará sendo quebrado todo o acordo histórico. E se isso ocorrer não sei como efetivamente podemos conduzir o caso.
CBF, Rio e São Paulo já discutiram o assunto?
Acho que não temos muita coisa para discutir. A não ser que queiram descumprir e quebrar um acordo histórico. O importante é que a indicação do vice da Região Centro-Sul é do Rio. E, na época em que o Marin foi eleito, era para ter sido o Rio a indicar um nome.
E por que o senhor abriu mão da indicação a favor de São Paulo?
Nem sei o motivo. Tinha acabado de chegar na federação, quando me fizeram esse pedido. Estava tateando e não queria me indispor com uma coirmã e com a própria CBF. Agora, será uma situação anômala, esdrúxula e completamente distante do que tem sido cumprido e foi acordado se São Paulo lançar candidato. E vai ser uma surpresa.
O Rio de Janeiro está alinhado às federações que pedem mudanças. Quais são elas?
Legalmente, Marin é o presidente. Mas, conceitual e filosoficamente, algumas federações entendem que deve haver eleição. Por quê? A prorrogação do mandato foi dada especificamente ao Ricardo Teixeira. Se ele abdicou do mandato, não tem necessidade de prorrogação. Rio, Rio Grande do Sul, Minas, Bahia e Paraná pensam assim. Outras federações também, mas têm medo de expressar a sua opinião.
O senhor, acompanhado por outros presidentes, se reuniu com o Marin. O que foi discutido?
Fomos convidá-lo a comparecer às federações. E não somente à paulista, onde ele vai constantemente. Ele já ia antes de ser presidente da CBF. Ele é um habitué da FPF e continua indo. Fazia parte de sua rotina. Mas pedimos que ele vá até as demais federações e para que seja observado o equilíbrio político na CBF em relação às 27 federações. Não pode só uma ser privilegiada.
De que forma está retratado esse desequilíbrio?
Pelo fato de que os principais cargos da CBF são de São Paulo. Imagina se, aqui, colocasse todos os diretores do Flamengo. Seria inaceitável perante os filiados. Mas também não queremos distribuição de cargos. Agora, ingerência política na CBF de uma única federação todos rejeitam e vão se insurgir contra.
E qual foi a reação do Marin?
Tranquilo, porque a questão foi colocada de maneira amistosa. Ele já disse que vai governar para todos, mas é preciso que saia do discurso e passe para a prática. Atravessamos um momento de necessidade urgente de união na CBF.
Mas mesmo que diga o contrário, essa discussão passa por distribuição de cargos...
Nem sempre. Passa por ocupação de postos-chave, não só isso. Existe uma situação incômoda, que é essa de estabelecimento de dependência, hierarquia e subordinação que hoje está se estabelecendo com o presidente da FPF, sem que tenha cargo na CBF. Nas vezes em que Marin vem ao Rio, Marco Polo vem junto. E não é aceitável. Marin nos entendeu e acho que vai tomar as medidas necessárias para contornar a situação. A CBF tem de estar na página de esporte e não na primeira página, na página de confusão. Finalidade é estabelecer harmonia.
Fonte: Lancenet