Conhecido nacional e internacionalmente por seus títulos com a bola redonda, como o Sul-Americano de 1948, a Libertadores de 1998, a Mercosul-2000, quatro Brasileiros e uma Copa do Brasil, o Vasco quer fazer história também a bola oval. Já que seu estádio, inaugurado em 1927, mas ainda em plena atividade, foi escolhido como futura sede da modalidade rúgbi de sete nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, o clube de São Januário quer agora fazer história neste esporte.
No próximo dia 18 de abril, vai se completar um ano que os vascaínos vêm mantendo — nas quadras de grama sintética — uma escolinha deste tradicional esporte, que voltará ao programa olímpico em 2016. Totalmente gratuito, o projeto tem atraído crianças e adolescentes em especial de São Cristóvão e da Barreira do Vasco, mas está aberto a crianças e adolescentes de toda a cidade. O vice-presidente de Esportes Olímpicos e Responsabilidade Social, José Pinto Monteiro, quer abrir outros núcleos em Mangueira, Jacarepaguá e São Gonçalo, tudo grátis.
- No fim deste mês, vamos visitar colégios próximos, para convidar os alunos para conhecerem nossa escolinha - explica Daniel Gregg, jogador da seleção brasileira, do Niterói Rugby e coordenador da escolinha vascaína. - Nossa intenção é pôr os meninos para jogar uma vez com pólos de escolinhas do Niterói Rugby e do Vila Real. Seriam seis equipes por fim de semana, para eles não ficarem só treinando.
Embora a modalidade ainda não seja tão conhecida do grande público no país e no estado, já há pesquisas que dão conta de que o rúgbi e o MMA são os esportes que mais crescerão no Brasil nos próximos cinco anos. O rúgbi está organizado em 23 estados brasileiros. No Estado do Rio, há 18 times em duas divisões, sendo seis na primeira: Niterói Rugby (único que disputa o Brasileiro Adulto), Rio Rugby, Guanabara Rugby, Friburgo Rugby, Itaguaí Rugby e Campos Rugby. Com o apoio dos professores Robledo Mesquita, Yohan Gaertner e Victor Possobom, Gregg traça algumas metas para o projeto vascaíno.
- A longo prazo, nossa meta é formar um time capaz de jogar o Brasileiro. Já a curto prazo, a intenção é ter no fim deste ano ou começo de 2013 é formar uma equipe juvenil masculina. No caso do feminino, precisamos de mais meninas - diz Gregg.
Que o diga a estudante Larissa Pereira, de 14 anos, aluna do oitavo ano do Colégio Brasileiro de São Christovão, que conheceu a modalidade graças a uma palestra dos professores vascaínos em sua escola.
- Eu nunca havia visto nada de rúgbi. Mas estou aqui desde o primeiro dia. Chamo as colegas, mas elas têm medo, dizem que têm unhas grandes... - diz ela, que concilia o esporte com a feminilidade. - Eu tinha unhas grandes, comecei a usar esparadrapo, mas a bola escorregava. Tive de cortar. Eu nem ligo para o fato de ser a única menina. Vai chegar uma hora em que o feminino vai crescer e eu sonho estar nos Jogos de 2016!
Em termos de resultados, a seleção feminina do Brasil é mais bem sucedida. No mês de março, no Sul-Americano, no Flamengo, na Gávea, elas asseguraram o octocampeonato invicto.
- No masculino, o rúgbi é bem desenvolvido na América do Sul, mas no feminino, foi o Brasil que cresceu mais rapidamente, até porque em outros países há um certo machismo - explica Gregg, que começou no esporte em 1997, por influência do irmão Márcio e o amigo Rafaelli. - Comecei em 1997, depois de sair da escolinha do futebol de praia, em Niterói. Em 1999, já disputei o Mundial Juvenil, no País de Gales, e no fim do mesmo ano, já estava na seleção adulta.
Um dos aspectos mais interessantes desse esporte, segundo Gregg, é o fato de que nele há espaço para quem costuma ser deixado de lado em outros esportes coletivos, como os baixinhos, os gordinhos ou os muito magros.
- O rúgbi é muito democrático. Tem baixo, alto, gordo, magro, cada qual com sua função. Isso é importante, principalmente, porque nessa faixa dos 14, 15 anos, se discrimina o gordinho e o baixinho. O rúgbi serve para integrar - explica. - E projetos sociais como o do Vasco põem as crianças em atividade, fazem com que elas se ocupem, desenvolvam a coordenação motora, a visão periférica. Elas melhoram a auto-estima, porque em situações de jogo elas têm de tomar decisões.
Para Igor Luís Sestari, de 15 anos, aluno de primeiro ano do ensino médio do Colégio Brasileiro de São Christovão, o rúgbi o tem ajudado em sua vida pessoal.
- Eu sempre me interessei por esportes de contato. Antes, eu tinha pensado no handebol, mas estou na escolinha há quase um ano - relata.
- O esporte envolve disciplina, e melhorei como pessoa. Era muito agitado, nervoso... Até melhorei minhas notas. Se Deus quiser, estarei no grupo para os Jogos de 2016. Vai ser a grande chance de divulgar nosso esporte e despertar o público.
Outro que espera poder estar na equipe nacional em 2016 é Alexsandro Matos, de 16 anos, do segundo ano de ensino médio no Colégio Vasco da Gama, dentro do próprio clube:
- Gosto deste esporte. É mais coletivo porque sempre temos de passar a bola para um companheiro. Como sou leve, jogo em velocidade. Este projeto é muito bom para o clube, e esperamos ter jogadores do nosso time na Rio-2016.
Um apaixonado pelo rúgbi, Gregg está satisfeito por estar lançando em terra nova sementes de seu esporte.
- Aqui, começamos o projeto do zero, indo aos colégios, chamando os alunos. O grupo foi crescendo. Hoje, são cerca de 15 alunos. Isso mostra que estamos no caminho certo,porque eles estão interessados, e esta faixa de 11 aos 17 anos é ótima para se começar - vibra.