O futebol ao longo dos anos se transformou num negócio que envolve cifras milionárias. O futebol brasileiro movimenta por ano 11 bilhões de reais, segundo dados da FGV, e pode chegar a R$ 62 bilhões. Diante deste cenário, os clubes, em particular os brasileiros, começaram o processo de profissionalização de suas estruturas, ainda debutantes, mas num caminho sem volta, tendo em vista os valores envolvidos neste novo mercado.
A Copa do Mundo em 2014 no Brasil só fortaleceu esse novo papel dos clubes e das instituições. A cada dia se exige mais e mais dos clubes e de outros atores no futebol, mais profissionalização. Os patrocinadores querem reciprocidade na relação que mantêm com os clubes. A televisão exige mais e mais condições adequadas para transmissão dos jogos. Os sócios e a torcida exigem times mais competitivos. Estádios modernos estão sendo construídos. Enfim, vivemos uma nova fase de resgate do futebol brasileiro, que proporcionará novos horizontes e uma atividade muito mais profissional.
Na contramão dessa revolução, ainda mantém-se estruturas arcaicas e amadoras, como a arbitragem, que atua com pessoas que se dedicam a outras profissões, sem dedicação exclusiva, para fazer face a essa nova estrutura profissional que esse segmento econômico está a demandar. Resultado desse amadorismo são árbitros despreparados, incompetentes para atuar nesse novo futebol, exigente e profissionalizado.
O erro do árbitro traz consequências sérias e danosas aos clubes, ao espetáculo, aos patrocinadores, à credibilidade do campeonato, a toda a cadeia produtiva do futebol, e o que acontece ao árbitro? Absolutamente nada! Ao contrário, os clubes devem acatar passivamente os absurdos que são cometidos, causando-lhes prejuízos enormes, além da frustração da perda de um título ou uma derrota descabida. Os jogadores não podem reclamar, pois são punidos com cartão amarelo, ou mesmo vermelho.
Recente trabalho efetuado pelo site Placar Real demonstrou que, caso os erros dos árbitros fossem corrigidos no campeonato brasileiro de 2011, o resultado da competição seria outro. O futebol, como um todo, perde.
Até quando no futebol brasileiro teremos que conviver com arbitragem amadora? Até quando a Fifa insistirá em achar que é muito charmoso e faz parte da mística do futebol não poder rever o lance, para que o árbitro possa dirimir a dúvida? Como o desafio no tênis ou no futebol americano. Inexoravelmente a tecnologia deve estar presente no futebol, pelo bem e pela justiça. As instituições organizadoras das competições (Fifa, CBF e Federações) têm o dever de profissionalizar a arbitragem com os próprios recursos, já que recebem, e bem, para manutenção de suas estruturas.
Não podemos continuar à mercê de uma pessoa que tudo pode e tudo decide em questão de segundos, como se tivesse um poder especial. Um Deus soberano. Precisamos tratar de forma definitiva uma nova postura de atuação dos árbitros, de tal forma que se profissionalize, também, esse setor, para que os clubes não continuem perdendo recursos com erros primários dos amadores do apito.
Nelson Rocha é segundo vice-presidente do Clube de Regatas Vasco da Gama.
Fonte: O Globo