A última aula de futebol de Carlinhos Papada, também conhecido como Carlinhos da Feira, foi na segunda-feira. A repercussão do novo gato saído de sua escolinha o deixou preocupado. Carlos Araújo Mendes pegou a família e se mandou para a roça, como avisam os vizinhos do professor que há mais de 10 anos trabalha com garotos de quatro categorias no campo do "Peladão". O celular do professor esteve desligado durante toda a semana. Nem os amigos de futebol conseguiam falar com ele.
— Carlinhos não tem maldade nenhuma. Ele é tão abestalhado que não deve nem saber como tira documento — diz João Luis, de 31 anos, ex-jogador da escolinha, que já passou por Catuense-BA e Atlético-MG.
Alertado que a história do segundo gato da conexão Camacan-Rio — o primeiro foi Jórbison, do Flamengo — estava sendo investigada pela 17 DP do Rio, Carlinhos confidenciou a amigos:
— Meu nome está ficando manchado com essas coisas. Só porque saíram da minha escolinha. Parece até que estou montado na grana. Agora ninguém mais vai querer jogador de Camacan — disse para um ex-aluno o professor, que não recebe mensalidade da escolinha Novos Talentos, que conta com quase 70 crianças em treinos à tarde, três vezes por semana.
No estádio Ribeirão, o zelador do campo Ronaldo Caetano fala sobre o assunto em tom de brincadeira.
— O chefe dos gatinhos é o Carlinhos. Ele que leva os meninos para fora - conta.
Policial teria cobrado R$ 10 mil para ficar quieto
Em cidade pequena, a história corre mais que um ágil felino. O fim da farsa de Jórbison, ex-Flamengo, que na verdade era Maxwell Batista da Silva, teve influência externa. Um policial civil conhecido na cidade ameaçou contar a verdade sobre o jogador. Segundo um morador da cidade, que pediu para que ficasse resguardada sua identidade, o policial teria cobrado R$ 10 mil à família do menino para ficar quieto.
Amigo de Maxwell, que hoje está no Corinthians-AL, Luan Silva dos Santos confirma a história da ameaça de extorsão. Luan, de 21 anos,também tentou a sorte no futebol do Rio, no Artsul, junto com Maxwell. Aluno de Carlinhos desde os 10 anos, o atacante viajou com um empresário de São João do Paraíso, cidade vizinha a Camacan.
— Quando cheguei para treinar só tinha gato. Voltei depois e, sinceramente, pensei em fazer o gato. Sabia de gente que tinha feito, o Café mesmo, que morreu de medo, mas meu pai não deixou, disse que era tirar a chance de outro garoto — conta Luan, que, como outros ex-jogadores de Carlinhos, isenta o antigo professor de responsabilidade sobre outros gatos. — Acho que isso é coisa de empresário. Mas o que se comenta por aqui é que quem fez, fez. Quem quer fazer agora, não vai dar mais.
Estádio Ribeirão, em Camacan, onde acontecem os jogos de futebol locais | Jovens adolescentes da escolinha de Carlinhos, em Camacan |