O Botafogo sempre teve tradição de grandes goleiros negros. Entre outros nomes de destaque, dois deles, Manga e Wagner, brilharam intensamente com a camisa alvinegra. O primeiro, destacou-se no supertime de Garrincha, Didi e Nílton Santos e disputou a Copa do Mundo de 1966; o segundo foi peça fundamental no título brasileiro de 1995. Esta tradição vem sendo resgatada com talento por Jéfferson, que enfrenta o Fluminense neste domingo, às 18h30m, no Engenhão.
Ele não só é apontado como um goleiro com desempenho muito acima da maioria no país, como caminha a passos largos para ser titular da seleção brasileira durante a Copa do Mundo de 2014.
Jéfferson de Oliveira Galvão, 29 anos, paulista de São Vicente, do alto dos seus 1,88m, distribuído por 80kg, canhoto de pele negra, e uma confiança imensa em seu talento, assegura:
— Sou um iluminado.
Um final diferente na Copa
A luz a que se refere Jéfferson vem do trabalho sério, da certeza de que, a cada dia, é preciso melhorar em algum ponto, e que este trabalho passa por dose intensa de concentração e estudo. E foi assim que soube um pouco da história de Manga.
— Não o vi jogar, mas estive com ele no Equador. O interessante é que o uniforme que usei na conquista do Estadual de 2010, quando defendi o pênalti do Adriano contra o Flamengo, tinha o mesmo desenho — comentou Jéfferson, sem esquecer de citar Wagner, ídolo nos anos 90:
— Sempre tive admiração pelo Wagner. Um goleiro que se impunha na área com grandes defesas e segurança.
Mas os olhos do goleiro brilham mesmo quando o assunto é Barbosa, antigo goleiro do Vasco e que defendeu o Brasil na Copa do Mundo de 1950. Barbosa foi apontado por muitos como um dos culpados pela derrota do Brasil para o Uruguai, por 2 a 1, em pleno Maracanã lotado.
Detalhe: Barbosa era um negro em uma época em que jogadores negros na posição de goleiro eram contados nos dedos das mãos. Em outras posições, era fácil encontrar jogador negro. Logo, foi fácil transformar Barbosa no grande vilão da derrota.
A personalidade de Jéfferson pode ser medida pelo seu comentário sobre o assunto.
— Meu desejo é que haja novamente uma final entre Brasil e Uruguai na Copa de 2014. Quero estar no gol da seleção brasileira, e mudar de vez esta história. Não é possível que uma pessoa leve a culpa em um time constituído por 11 jogadores — diz, referindo-se a Barbosa.
Em sua segunda passagem pelo Botafogo (esteve no clube em 2003, emprestado pelo Cruzeiro, e voltou em 2009 definitivamente), Jéfferson é exemplo de quem sabe que a carreira é curta e deve ser bem aproveitada:
— Tenho que trabalhar duro a cada dia. Melhorar a cada dia. Fazer mais do que o possível a cada dia. Sempre digo: vivo o futebol hoje para amanhã poder viver dele.
É esta consciência que faz de Jéfferson um líder nato, respeitado por companheiros e adversários. Capaz de honrar a tradição dos grandes goleiros que o Botafogo sempre soube acolher, e projetar para o Brasil e o mundo.
Fonte: O Globo online