Necessidade de renovar a seleção brasileira, ocaso de astros consagrados e ascensão de jovens, em especial no meio-campo e no ataque, fazem dos Jogos de Londres um vestibular para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, quando o time deverá ter um número inédito de remanescentes do grupo olímpico. Mano Menezes vê carência de revelações na defesa e diz que bom desempenho nas Olimpíadas pode credenciar a nova geração.
A receita é simples: uma seleção brasileira com muitas posições sem um dono absoluto; astros consagrados que saíram do auge de suas carreiras antes do que o imaginado; a certeza de que o Brasil precisará dos jovens em posições chave de seu time na Copa do Mundo. O resultado é que os Jogos Olímpicos, que historicamente foram um fardo para o futebol brasileiro e, em especial, para técnicos, agora serão um vestibular para os jogadores que pretendem chegar ao Mundial de 2014, no Brasil.
— Os jogadores vão precisar muito de um bom desempenho nas Olimpíadas, para que possam se afirmar naturalmente na equipe principal — disse o técnico Mano Menezes, em entrevista ao GLOBO.
A obsessão por jamais ter ganho a medalha de ouro olímpica, único título que falta ao futebol brasileiro, torna a pressão ainda maior para os jovens. Mas o fato é que, quem for a Londres, terá uma oportunidade rara na história da seleção brasileira. Os cinco últimos times olímpicos do Brasil são um exemplo. Da equipe que foi a Pequim, em 2008, só Thiago Silva e Ramires chegaram à Copa do Mundo de 2010, na África do Sul. Em 2004, do time que jogou o pré-olímpico e não se classificou para Atenas, só Robinho sobreviveu até o Mundial da Alemanha, dois anos depois. Em 2000, nos jogos de Sidney, Lúcio e Ronaldinho Gaúcho participaram da campanha olímpica e chegaram à Copa de 2002, na Coreia e no Japão. O recorde recente de coincidências entre o time olímpico e o do Mundial seguinte ocorreu em Atlanta, em 1996, quando o Brasil mandou um time experiente às Olimpíadas. Dida, Roberto Carlos, Aldair, Rivaldo, Bebeto e Ronaldo participariam, dois anos depois de ganharem a medalha de bronze, do vice-campeonato mundial na França. Em 1992, o time que caiu no pré-olímpico e não foi a Barcelona revelou somente Cafu e Márcio Santos para a campanha do tetracampeonato mundial nos EUA.
Thiago Silva, do Milan, pode conseguir um feito raríssimo na história olímpica da seleção brasileira: jogar pela segunda vez as Olimpíadas e, mais do que isso, resistir novamente até o Mundial seguinte. O técnico Mano Menezes deverá ser obrigado a usar pelo menos duas das três vagas para jogadores com mais de 23 anos na zaga, já que nova geração não oferece grandes opções. O gol pode ser a outra posição preenchida por um jogador mais experiente. Jéfferson, do Botafogo, e Júlio César, apesar do momento instável no Internazionale, disputam lugar.
— Temos uma dificuldade no setor defensivo quando olhamos os jogadores abaixo de 23 anos, mas é uma coincidência, não vejo um problema crônico no país — diz Mano.
Para o Sul-Americano Sub-20, no Peru, que serviu como pré-olímpico, o técnico Ney Franco convocou quatro zagueiros: Bruno Uvini, Juan, Romário e Saimon. Este último, sequer está na pré-lista de 52 jogadores que Mano Menezes enviou ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Nela, há nove zagueiros, quatro deles com idade acima de 23 anos, evidenciando a preocupação do treinador. Os experientes que podem ir a Londres como opções para a defesa brasileira são David Luiz, do Chelsea; Dedé, do Vasco; Luisão, do Benfica; e Thiago Silva, do Milan.
A situação é bem diferente do meio-campo para a frente. Dos 20 meias e atacantes que estão relacionados na pré-lista que Mano Menezes mandou ao COI, apenas quatro jogadores têm mais de 23 anos: Hernanes, Jonas, Hulk e Ronaldinho Gaúcho. Estes, no entanto, só irão aos Jogos de Londres em situações especiais. Hernanes, Jonas e Hulk só deverão ser chamados caso haja uma sucessão de problemas com jogadores sub-23 de suas posições. Já Ronaldinho Gaúcho, em quem Mano Menezes chegou a apostar como uma espécie pilar para dar sustentação à geração mais nova, liderada por Neymar, vem decepcionando o treinador com suas mais recentes atuações. Se não mostrar no Flamengo um progresso técnico e, acima de tudo, um bom comportamento, pode ser descartado também da seleção principal do Brasil.
Fonte: O Globo online