Ídolo, craque e polêmico, daqueles que estão em extinção atualmente no futebol. Nesta quarta-feira à noite, Edmundo, que chegou a ser condenado por três mortes no trânsito, será o dono da festa em São Januário. E, como sempre, abriu o coração ao falar sobre o momento especial que vive. Ao MARCA BRASIL, ele agradeceu a homenagem, declarou amor ao Vasco, reconheceu que cometeu erros ao longo da carreira e não deixou de cutucar Romário, com quem garante ter se entendido após o episódio do ‘Rei, o príncipe e o bobo’.
MARCA BRASIL: Esse clima de despedida do amistoso tem mexido contigo?
Edmundo: Lógico que passa um filme pela cabeça. Será mais um momento especial que vou viver com a camisa do Vasco. Tenho medo de me sair mal. Será a chance que vou ter de fechar uma linda história que tive com chave de ouro.
MB: Seu último momento como profissional, quando o Vasco foi rebaixado em 2008, incomoda?
Edmundo: Naquele dia perdi como profissional e como torcedor. A frustração dura até hoje. Preciso dessa despedida para ficar em paz. Vou entrar em campo em busca da vitória para tirar esse fantasma de perto. Depois eu comemoro a festa.
MB: Quando se tornou profissional, achou que chegaria tão longe?
Edmundo: Não tinha essa pretensão de ser ídolo. O que queria era jogar bola com a camisa do Vasco. O que veio depois foi consequência do trabalho. Mesmo tendo errado muito, nunca faltou dedicação. Por ser vascaíno, acho que sempre soube o que a torcida esperava de mim. Entre pênaltis perdidos, gols sobre o Flamengo, rebaixamento e títulos, vejo que o meu saldo com eles é positivo.
MB: Você se arrepende de alguma coisa?
Edmundo: No geral, não sou de me arrepender, mas têm muitas coisas que não teria feito. Principalmente fora de campo. Se pudesse escolher, teria jogado a minha vida inteira no Vasco. Sempre fui feliz aqui e não sabia.
MB: Como ficou a sua relação com Romário após o episódio do ‘O Rei, opríncipe e o bobo’, em 2000?
Edmundo: A gente era muito próximo antes daquilo, mas nunca brigamos pessoalmente. Somos burros velhos, acabamos nos entendendo novamente, mas, infelizmente, nós nos afastamos muito. Tenho a minha vida e o Romário tem a dele. Sempre fui fã do Romário, mas acabamos virando concorrentes. A gente disputava tudo.Concorríamos até fora de campo, principalmente.
MB: Você acha justa a estátua dedicada a Romário?
Edmundo: A estátua para o Romário, que marcou mais de mil gols na carreira, é merecida. No entanto, acho que ele deveria ter mais carinho com o Vasco. Na vida a gente recebe aquilo que dá. Por isso que ele não tem a mesma idolatria que outros. Joguei seis meses no Flamengo, fui mal e nunca tive raiva do clube. Romário foi um grande centroavante, conquistou muitos títulos, mas, no Vasco, não tem o mesmo carinho que outros, que fizeram menos que ele, têm. É lamentável.
MB: Ficou frustração de não ter sido titular na final da Copa do Mundo de 1998?
Edmundo: Dei uma entrevista por telefone na concentração defendendo o Romário após o corte e Zagallo, quando soube, ficou p... comigo. Ali eu vi que não entraria mais e que o Bebeto seria o titular. Mesmo com aquele episódio do Ronaldo (convulsão), não criei expectativas. Mas não guardei mágoas do Zagallo.
MB: O que significa aquele Brasileiro de 1997?
Edmundo: Foi o meu grande momento na carreira. Fui vendido para o Fiorentina após a Copa América e muita gente achou que eu ia jogar o Brasileiro de sacanagem. O Vasco perdeu dois jogos e empatou um no começo. Mas o Antonio Lopes acreditou em mim e montou um esquema que me facilitou muito. A gente precisava daquele título e o buscamos até o fim.
MB: E o gol sobre o Flamengo, o seu 29º naquele campeonato. O que representou na sua vida?
Edmundo: Na época ninguém tinha conseguido marcar tantos gols em um Brasileiro. Mas foi uma tarde sensacional. Maracanã lotado, contra o nosso maior rival. Marquei três gols e o último foi com um lindo drible sobre dois zagueiros antes do chute.
MB: O que dizer do pênalti desperdiçado na final do Mundial de Clubes contra o Corinthians?
Edmundo: Muita gente não sabe, mas me machuquei no fim de 1999. O médico disse que eu precisaria de uns 40 dias para voltar, mas trabalhei intensivamente para me recuperar, perdi Natal e Ano Novo. Infelizmente, minha participação terminou daquele jeito. É muito triste, mas são provações que Deus guarda para a gente.
MB: O que faltou para coroar a sua carreira?
Edmundo: Um título Mundial. Seja com a camisa da seleção brasileira ou do Vasco. É uma coisa que faz falta quando olho para trás, pois pude disputar uma final de Copa do Mundo e uma final de Mundial de Clubes. O que mais me revolta é saber que, pelo que joguei, eu merecia. Tem gente que jogou menos, bem menos, que não merecia, mas tem essa conquista no currículo.
MB: O que vai passar pela sua cabeça quando o árbitro apitar o fim do jogo?
Edmundo: Esse tipo de sentimento já passou. Quero curtir, receber a energia dos torcedores e ter o carinho dos meu familiares, amigos e ex-companheiros.
MB: Oficialmente ex-jogador, como você gostaria de ser lembrado?
Edmundo: O futebol é muito dinâmico e toda hora surgem novos ídolos. O clube sempre estará em primeiro lugar. Por isso, quero ser lembrado como um atacante que respeitou demais a camisa do Vasco e fez tudo para conquistar títulos. Sou torcedor e, se extrapolei, foi por gostar demais do clube e querer sempre o melhor. Sei que os vascaínos me entendem.
Fonte: Marca Brasil