A pesar de ter números positivos no comando do Vasco - fato que o faz ter confiança de deixar de ser auxiliar e seguir como técnico - as críticas vindas da arquibancada vêm incomodando Cristovão Borges. Em entrevista exclusiva ao LANCE!, ontem, em São Januário, o comandante desabafou, mostrando descontentamento com os seguidos questio- namentos feitos por parte dos torcedores vascaínos. Vaias e gritos de "burro" tem se tornado rotina nos jogos. O que ele considera perseguição sem sentido.
Durante o bate-papo, Cristovão mostrou certo incômodo também com os seguidos questionamentos quanto à utilização de Juninho e Felipe juntos, feitos, em grande parte, pela própria imprensa.
Você se sente incomodado com as vaias da torcida e questionamentos ao seu trabalho?
O incômodo acontece, sim. Eu gosto de carinho, como todos gostam. Compreendo a pressão, as críticas da torcida, mas fico tranquilo para trabalhar e seguir na direção que apontam as minhas convicções. No dia que fui chamado de burro pelo estádio inteiro, eles queriam que eu colocasse o Bernardo. No jogo, estávamos sendo dominados pelo Nacional (URU). Coloquei o Tenório, que nos deu mais poder de fogo, e ainda assim conseguimos diminuir o placar, chegando perto do empate. Sai de São Januário convicto de ter feito o certo.
Mas você percebe essa falta de confiança por parte de toda a torcida?
Hoje, existem tipos distintos de torcedores e alguns podem não analisar bem as escolhas que tenho. Engraçado que, quando estou fora do Vasco, sou cumprimentado e parabenizado por torcedores de outros clubes. Os rivais me parabenizam pelo meu trabalho. No entanto, não tem um jogo que eu não seja questionado por determinada ação que eu tenha. Aqui sou chamado de burro. Seja por fazer ou não uma substituição. Mas agora estou mais confiante. Tranquilo quanto às escolhas que faço.
Juninho e Felipe: juntos ou não. Como analisa as opiniões nesse quesito?
A torcida lida com algo chamado ídolo e a imprensa ajuda muito nos questionamentos. Eu corro risco por pensar diferente de todos. Corro o risco diante de algo cultural. Por exemplo, eu dou a mesma resposta, sobre a mesma pergunta desde o ano passado e isso não é o suficiente. São jogadores da História do clube. Então é muito mais importante ficar discutindo o porquê de Juninho ou Felipe não jogarem juntos, do que explicar às pessoas o que eu penso. Não sou teimoso ou maluco. Mas acredito naquilo que faço. Eu seria burro se fizesse a escolha errada e o Vasco perdesse. Quero continuar como treinador. Mas vou explicar isso para quem? Então tenho que trabalhar para o time vencer e ganhar. Isso acalma tudo.
As críticas foram justas por deixar o Juninho fora da partida contra o Libertad?
Temos que analisar o tipo de jogo que faríamos. Era melhor deixá-lo no Rio para ficar se preparando para o próximo compromisso, ganhando condição física. Ninguém analisa nada e querem saber se Juninho e Felipe podem jogar juntos. Aí é duro para mim. É algo condicionado e a torcida chega aqui me criticando. Eu me pergunto se estou vendo o mesmo jogo que eles. Engraçado que, quando empatamos com o Libertad, escreveram que o Diego Souza tinha sido o responsável por não termos vencido. Antes, a gente não iria ga nhar pois o Juninho não tinha viajado. E não vi ninguém falando sobre isso após o empate. Ele vai jogar ou não ao lado do Felipe por alguns motivos que nós levamos em consideração na preparação. Agora, usar isso para me crucificar, por ter uma determinada escolha, não acho certo. Eu sempre respondo às perguntas. Mas agora sempre vou pensar: Irão perguntar isso sempre?
Tem conversado com os jogadores sobre essa pressão excessiva?
As pessoas esquecem algumas coisas. Hoje, por exemplo, o Fellipe Bastos sofre com as críticas. Mas converso muito com ele, com o Allan. O caso do Allan é especial. Ambos possuem muitas qualidades, mas o Allan é muito elogiado. Quando fui para São Paulo receber o prêmio do Brasileirão (melhor técnico ao lado de Ricardo Gomes), as pessoas me perguntavam sobre ele. O Ney Franco o elogiou bastante. Não posso deixar um jogador de fora por ter jogado um tempo ruim.
Fonte: Lance