Futebol Americano: Vascaíno relata semana de treinos e jogo nos EUA

Terça-feira, 20/03/2012 - 10:50

Depoimento: Caio Lima no World Team da IFAF

Acredito que hoje o que vivemos é único no cenário esportivo brasileiro, um esporte ganhar tanta visibilidade em tão pouco tempo, incrível, não?! Mais incrível ainda, é saber que com essa evolução, não só na mídia, ela é visível em outros aspectos. A organização tem sido cada vez melhor, o nível dos atletas vêm sendo cada vez maior, e isto está aí escancarado para todo mundo ver, o FABR tem tudo para explodir e se tornar um dos esportes mais queridos da nação brasileira.

Enfim, desde 2006 quando comecei minha jornada nas areias cariocas, não tinha noção de onde o esporte me levaria, e as experiências que me proporcionaria, os valores que me ensinaria, e várias outras coisas.

Depois de 2 anos e meio jogando na base do extinto Niterói Corsários, ter ajudado na fundação de um, ainda pequeno, time de flag footbal no interior de São Paulo, me deparei com a chance de integrar uma das equipes mais tradicionais no Futebol Americano nacional, e ser treinado por um dos mais respeitados treinadores do Brasil: Danilo Muller; e ter jogado ao lado, que hoje em dia são, jogadores da seleção brasileira foi uma das melhores coisas da minha vida. Depois me mudei para o Rio de Janeiro estudar, e o esporte permaneceu em minha vida agora de forma ainda mais presente. Integrei a equipe do Vasco, e lá fui treinado pelo treinador e amigo, Rodrigo Hermida. O qual me incentivou e me ajudou sempre no que precisei, nessa mudança, comecei a freqüentar os treinos da seleção carioca sub19 também.

Mas, vamos ao que interessa: como foi o processo de seleção para a seleção mundial sub 19 de futebol americano?

Um dia voltando da faculdade recebo o convite por parte da AFAB para participar do processo de seleção dos jogadores para a seleção mundial, e eu prontamente aceitei. A partir daí preenchi vários questionários, e recebi minha senha no web coach (site onde semanalmente temos que postar nossos números na academia: supino, agachamento, arremesso, 40yd Dash, e muitos outros resultados). Nesse momento eu só dependia de mim e do meu trabalho para estar entre os melhores 90 jogadores do mundo. Além disso, nos precisávamos ter um vídeo com os melhores momentos e foi onde eu pensei que minhas chances acabariam ali. Meu pai me ajudou muito nesse momento gravando todos meus treinos e jogos, e por fim consegui fazer meu vídeo. Enviei à IFAF e continuei meus trabalhos na academia.

No dia 25 de dezembro, recebi um dos melhores, se não foi o melhor, presente de natal da minha vida, a estimada convocação. E foi só alegria, no mesmo dia recebi a noticia que o Paulinho (Storm) e o Gabriel Chalfun também tinham sido convocados, além do querido Pitbull que já estava confirmadíssimo para ir. E assim foi escolhida a delegação que iria representar o Brasil na seleção mundial, e os primeiros jogadores brasileiros a participar integralmente de um evento da Federação Internacional de Futebol Americano.

Dia 25 de Janeiro embarcávamos rumo à Austins, Texas. Uma “agradável” viagem de 10:30h de duração até Dallas, onde pegaria uma conexão para Austin. No aeroporto existiam várias lojas do Dallas Cowboys, e a partir dalí comecei a viver o futebol americano como se deve ser. No avião para Austin, tinha um dos principais nomes do jogo: Shingo Maeda, um dos talentosíssimos Running Backs da seleção mundial. E chengando no aeroporto de Austin, fomos recebidos por dois rapazes da IFAF, que nos levaram para o hotel.

No hotel me senti como um profissional, credenciais, testes físicos, fotografias, roupas e mais roupas, uma sala SÓ de equipamentos (capacetes, jerseys, luvas, etc) foi emocionante.

No primeiro dia tivemos um panorama geral de como as coisas iriam funcionar dali pra frente, junto com todos os jogadores e técnicos. No dia seguinte os treinos começavam, as expectativas eram altas, afinal, como seria o nível técnico e físico dos treinos e dos outros jogadores, tudo era um mistério, acredito que para todos ali. E o que eu esperava se confirmou, o nível técnico era realmente MUITO melhor que o nosso, mas o preparador físico sueco, hoje amigo, me disse uma coisa a respeito dos brasileiros: “Os brasileiros podem não ter a condição técnica que os outros jogadores têm, mas uma coisa os brasileiros tem mais, força de vontade e coração pra superar os outros.” E isso realmente mexeu comigo, e levei essa frase pra toda minha semana lá.

A semana correu muito bem, com 2 treinos por dia (um pela manhã e um pela parte da tarde) e 2 reuniões por dia (uma a tarde e uma a noite), e no fim dos treinos, eu e os outros brasileiros só pensávamos em uma coisa, trabalhar mais duro ainda pra voltar no próximo ano como aqueles que nós vimos e treinamos com. Antes do jogo principal, tivemos um coletivo, estilo “ataque-defesa”, onde todas as jogadas foram filmadas, e posteriormente analisadas junto com os jogadores. Nesse confronto, quem levou a melhor foi a defesa, com um placar de: 14×13.

No dia seguinte, era o momento mais aguardado da semana: O jogo, que foi realmente “top”, chegamos nos três usuais ônibus, que sempre nos levavam para os treinos, com 3 horas de antecedência ao jogo. O vestiário era uma mistura de ansiedade e vontade de pisar logo em campo e esmagar os americanos e seu ar arrogante que sempre se mostrava no hotel.

E assim, deu –se inicio a partida, vocês podem assisti-la na internet. Dá para ter uma noção que o Canadá acompanha de perto os EUA, e que no México existem ótimos jogadores, assim como na Europa também.

No fim, o que realmente importou, acredito que para a maioria do Development Team, e principalmente para os brasileiros, é que é sim possível ser melhor que os EUA, basta treinar e ter um objetivo. E isso foi provado mais uma vez.



Fonte: Site da AFAB