- Foram dois clubes muito importantes na minha carreira. Um me levou à Seleção Brasileira e me deu a possibilidade de ir para a europa. No outro, foi o final como jogador e conquistei o Campeonato Brasileiro de 1974.
É dessa forma que ex-atacante Amarildo relatou ao LANCENET! suas lembranças do clássico Botafogo x Vasco, que terá mais um capítulo neste domingo, às 18h30, no Engenhão, pela Taça Rio, com cobertura em tempo real. Personagem importante da história dos rivais, ele recorda com saudade e alegria das tardes de domingo em que era saudado no Maracanã pelas torcidas empolgadas e apaixonadas.
- Naquele tempo, os clubes tinham verdadeiras seleções, nós dávamos espetáculo e isso contagiava a torcida – relata o Possesso, apelido cunhado por Nelson Rodrigues para traduzir a sua entrega dentro de campo e também para retratar o brilhante desempenho na Copa do Mundo de 62, no Chile, quando teve que substituir ninguém menos que Pelé e acabou fazendo um gol na final contra a Tchecoslováquia.
Amarildo é crítico com os jogadores atuais que, segundo ele, não têm amor aos clubes que defendem.
- Nós tínhamos vínculos com nossos clubes, vestíamos literalmente a camisa. Hoje, os profissionais do futebol só pensam em dinheiro. Não tem futebol, é só correria e pancadas. E a culpa pelo mau futebol é dos treinadores. Eles pregam o futebol do resultados a todo custo.
O ex-atacante começou como profissional no Botafogo em 1959, clube que defendeu por cinco anos. Em 63, transferiu-se para o Milan (ITA). Do Alvinegro, Amarildo fala com orgulho dos títulos, dos craques e também dos amigos que fez.
- No Botafogo fui campeão de tudo, fui artilheiro, fui feliz lá. Joguei com craques como Nilton Santos, Didi, Quarentinha, Garrincha e Zagallo. Só tinha craque – recordou ele que, quando perguntado sobre a preferência por alguma das tantas estrelas daquele tempo, esquiva-se com a mesma agilidade que usava para driblar os seus marcadores.
- Não posso escolher um. Eram todos excepcionais. Na verdade eles me ajudaram a me formar. Foram eles que me criaram.
Já do Vasco, sua principal lembrança é o título brasileiro de 1974. A parceria com Roberto Dinamite, hoje o presidente cruz-maltino, é o que Amarildo mais destaca.
- Ele já fazia muitos gols, mas também com os passes que eu dava para ele... (risos). Ele era jovem, mas já dava para ver que seria o grande jogador que foi. Hoje, como presidente, acho que tem feito um bom papel – elogiou.
Amarildo enaltece Juninho Pernambucano e Loco Abreu, ídolos das equipes atuais de Vasco e Botafogo, respectivamente. Para ele, ambos são profissionais incomuns e que merecem toda a reverência dos torcedores.
- O Juninho é um profissional raro. Sigo o trabalho dele há muito tempo. O trabalho dele na França foi muito lindo. Se todos os profissionais do futebol fossem como ele nossos clubes seriam muito melhores, teriam um ambiente de paz. Prefiro ele com seus 37 anos a muitos jovens que vão para o campo fazer pose. É um treinador dentro de campo. O Loco Abreu, infelizmente, não conheço pessoalmente. Mas vi suas declarações a respeito dos ídolos do Botafogo, o tratamento, o respeito que tem pelo clube, por sua história. O quanto ele se dedica e respeita a torcida. A estima que tem por seus companheiros. Para mim, se ele tiver 100% tecnicamente tem que jogar. E o Oswaldo (de Oliveira, técnico botafoguense) sabe disso.
A ausência do Maracanã nos últimos clássicos por conta das obras para a Copa do Mundo de 2014 causam amargura no ex-jogador. Ele lamenta o fato de o estádio que lhe deu tantas alegrias estar passando por mudanças estruturais para a competição.
- Eu sinto dor e tristeza por ver o Maracanã assim, desfigurado. Passei grandes momentos no estádio.
Comparações entre passado e presente
Amarildo refuta qualquer comparação de grandes jogadores atuais, como Neymar e Messi, com os craques do passado. Para ele, Garrincha e Pelé são insuperáveis.
- As pessoas falam muita bobagem sobre o que não viram. Deixem o Pelé e o Garrincha em paz. Eles não entram nessas comparações. Nunca teremos outros como estes dois. O Messi é craque. O melhor do mundo. Grande profissional, artilheiro, jogador de equipe e fantástico, mas não é Pelé. O Neymar é outro talento. Cada um tem que ser o que é – afirmou.
Aos 72 anos, ele abre mão da modéstia quando fala de suas virtudes como jogador.
- Eu fui Amarildo, o Possesso. Joguei 16 anos e nunca sentei no banco de reservas. Me garantia 100%. Eu sou um vitorioso.
Fonte: Lancenet