Ainda adolescentes, Antônio Carlos e Diego Souza se conheceram. O futuro ainda era incerto. O período em Xerém, nas divisões de base do Fluminense, se dividia entre os treinos, as brincadeiras e as longas conversas sobre uma possível vitória pessoal na árdua carreira de jogador de futebol. Ambos cresceram, tomaram rumos diferentes, mas obtiveram sucesso no profissional. A forte amizade ainda se mantém, assim como as boas lembranças.
- Conheci o Tonhão (Antônio Carlos) quando tinha mais ou menos 17 anos, lá em Xerém. Apesar de ele ser quase dois anos mais velho que eu, nos tornamos amigos rapidamente. Vivíamos sempre juntos: eu, ele e Rodolfo (zagueiro do Vasco). Éramos bem moleques, passávamos o dia fazendo brincadeiras com os outros. Nos divertiamos bastante - recorda Diego Souza.
A parceria é tão forte que envolve até os familiares. Como os pais sempre acompanharam de perto a carreira dos filhos, o laço acabou se estendendo.
- Me identifico muito com o Diego porque, assim como eu, ele sabe de onde veio (Diego é da Ilha do Governador) e não nega suas origens e não mudou por ser o que é hoje. Conheço a família dele, ele também conhece meu pai - destaca o zagueiro botafoguense.
A amizade, porém, costuma ficar de lado por, pelo menos, durante 90 minutos. Ambos destacam que, neste domingo, a rivalidade entrará em campo.
- Nossa boa relação fica completamente de lado na hora do jogo. Somos muito competitivos. Não gostamos de perder nem par ou ímpar. Vamos nos cumprimentar antes do jogo e depois o bicho vai pegar. É cada um para o seu lado. Ele não vai aliviar, muito menos eu. Estamos empatados nos duelos que tivemos aqui no Rio. Ele ganhou um jogo e eu outro. Espero que o desempate seja a meu favor - diz Antônio Carlos.
Diego Souza, por sua vez, levanta a suspeita dos dados do alvinegro, e diz levar vantagem sobre o amigo:
- Nos confrontos entre nós aqui no Rio, realmente estamos empatados. Mas no placar geral, eu levo vantagem. Devo ter umas quatro vitórias a mais, no mínimo. Mas não sei precisar o número - provoca.
RELÓGIO DA URUGUAIANA VIRA MOTIVO DE PIADA
Bem sucedidos na carreira, Antônio Carlos e Diego Souza nem sempre tiveram do bom e do melhor. No início, a grana era curta e o dinheiro suado era bem valorizado. No primeiro ano de profissional, por exemplo, continuaram recebendo como juniores. Um episódio, porém, virou motivo de gozação quando o vascaíno tentou "tirar uma onda" com os companheiros de Fluminense.
- Aprontávamos muito quando éramos mais novos. Tem tanta história, tanta molecagem, que fica até difícil de lembrar a mais engraçada. Uma vez ele comprou um relógio todo sofisticado na Uruguaiana (mercado popular tradicional do Rio), gastou uma nota e ficou tirando onda com todo mundo. Chegamos no clube, treinamos e, quando ele foi tomar banho, acabou com o relógio. Entrou água, os ponteiros caíram... Ríamos tanto que não nos aguentávamos em pé. Ele teve que aturar as gozações para o resto do ano - recorda Antônio Carlos.
Diego Souza não só confirma a história como revela que levou um golpe do vendedor:
- A história do relógio é isso mesmo que ele falou. Ele só esqueceu de dizer que quem jogou meu relógio embaixo d'água foi o Rodolfo. E outro detalhe: Comprei o relógio por R$ 50 e, no dia seguinte, vi na barraca ao lado da que eu comprei o mesmo relógio por R$14,90. Eles ficaram me zoando por um bom tempo. Mas faz parte. É com essas coisas que você vai pegando experiência - se diverte.
O camisa 10, porém, fica feliz pelo bom destino que os dois tiveram na carreira.
- Temos uma história parecida, com trajetórias e obstáculos parecidos para ultrapassar. Fico feliz e orgulhoso de ver que nós dois conseguimos construir carreiras vitoriosas até aqui, e sempre que a gente se enfrenta é uma coisa especial por esse motivo. É bacana você ver aquele amigo que lá atrás estava com você, sonhando em um dia se tornar um jogador de futebol reconhecido, estar te enfrentando num clássico como Vasco e Botafogo.
Fonte: Lancenet