A Timemania surgiu como uma forma de melhorar a vida financeira dos clubes brasileiros, às voltas com dívidas que beiram os R$ 4 bilhões de reais. A arrecadação do jogo nas lotéricas do país, contudo, tem encolhido a cada ano e um projeto lançado de forma promissora dá sinais de que ainda está longe do seu objetivo inicial.
Criado em 2008, ainda sob o mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Timemania foi lançada com o intuito de arrecadar dinheiro na forma de apostas em partidas de futebol para amortizar as dívidas dos clubes brasileiros com o governo federal. O montante arrecadado não passa pelos cofres dos clubes.
Quatro anos depois do lançamento, porém, o quadro de arrecadação do jogo é agonizante. Mesmo somada à Loteca e à Lotogol, jogos que também envolvem times de futebol, a renda da Timemania representa atualmente apenas 3% do total arrecadado pela Caixa Econômica nas loterias do país.
Apenas a última Mega-sena da Virada arrecadou seis vezes mais que toda a renda do jogo em 2011. Em 2008, o governo previa arrecadar R$520 milhões com as apostas, previsão que baixou para R$200 milhões em 2012.
Para o pesquisador Pedro Trengrouse, da Fundação Getúlio Vargas (RJ), o dinheiro previsto em termos de arrecadação pela Timemania em seu lançamento teria sido capaz de liquidar a carga tributária devida pelos clubes ao Estado, o que não ocorreu.
- A dívida dos clubes hoje é estimada em menos de R$4 bilhões, incluindo todos os clubes brasileiros. Desse montante, metade é dívida tributária, é uma dívida que já estaria equacionada pela Timemania se a arrecadação prevista inicialmente tivesse sido concretizada - diz.
Vantajoso para os clubes por um lado, a loteria também deveria ser favorável ao torcedor, segundo a análise do diretor executivo de Marketing do Internacional, Jorge Avancini. Ele defende que a Timemania deve oferecer benefícios aos apostadores para aumentar o interesse e valor arrecadado no jogo.
- A Timemania não pode ter um preço maior que a Mega-sena, ela tem que estar a um preço mais abaixo e ser um produto que pague uma premiação maior. Se não será sempre um produto que perde para o carro-chefe, que é a Mega-sena - diz.
A Caixa Econômica Federal, responsável pelas loterias do país, prevê mudanças na Timemania. A instituição financeira aponta, contudo, que falta empenho por parte dos clubes.
- Os clubes precisam buscar incentivar e acirrar a rivalidade, no bom sentido, entre as torcidas, para ter o produto sendo colocado nas mentes dos torcedores - diz o superintendente Nacional de Loteria da Caixa, Gilson Cesar Pereira Braga.
A opinião do superintendente parece ser confirmada nas filas de apostadores que frequentam semanalmente as casas lotéricas. Perguntados pela reportagem se conheciam a Timemania, muitos torcedores revelaram ainda sentir desconfiança em relação à destinação da renda aos clubes. Grande parte deles, inclusive, disseram desconhecer o sistema que beneficia os times para os quais torcem.
- Já ouvi falar, mas nunca joguei não. Mas não sabia (do benefício aos clubes) - revelou um apostador.