Carlos Alberto fala da angústia de treinar sozinho esperando definição
Carlos Alberto não disputa uma partida oficial desde 27 de novembro de 2011, quando entrou em campo pela última vez vestindo a camisa do Bahia. Devolvido ao Vasco, ele conta os segundos para voltar a jogar futebol enquanto treina afastado do elenco cruzmaltino. A solidão só é amenizada pela companhia do filho Lucca, de 2 anos, e pelo apoio constante dos torcedores pedindo a sua reintegração.
Aos 27 anos, o meia coleciona títulos e polêmicas. No ano passado, foi dispensado do Vasco após discutir com dirigentes. Na sequência, passou por Grêmio e Bahia sem destaque. Um ano para ser esquecido. O objetivo de momento? Mudar o rumo da prosa. Com contrato até agosto de 2013, Carlos Alberto estará pronto para jogar em sete dias. Ele ainda não sabe qual camisa vestirá, mas é difícil esconder a possível preferência estampada diariamente no uniforme.
Na última quarta-feira, após um treino na Praia da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, o jogador concedeu entrevista exclusiva ao UOL Esporte. Durante o bate-papo, admitiu erros, tristezas, e não escondeu o principal desejo na etapa de vida que atravessa. “Voltar a jogar. Esse é o combustível do atleta. Quando você não faz isso é angustiante, triste, e espero que tudo seja resolvido o mais rápido possível”, afirmou. Confira abaixo a entrevista completa com Carlos Alberto:
Como é treinar sem ter a perspectiva de qual clube vai atuar na temporada? Pode ser o Vasco ou qualquer outro...
É complicado. Cada dia você tem que buscar uma motivação diferente. Procuro ocupar esse tempo trazendo o meu filho para dar força e ajudar na sequência do treinamento. Mas tenho o apoio da fisiologia, preparação física, todos estão sempre me incentivando. É muito difícil fazer as coisas sozinho, já que o ser humano sempre precisa de estímulo. Não sou diferente. Graças a Deus estou contando com o apoio dessas pessoas que estão sendo importantes nas horas difíceis.
O carinho dos vascaínos também impressiona. Jogador costuma dizer que sempre é bom atuar onde se tem carinho ao lado. É o caso do Vasco?
Com certeza. Tudo o que aconteceu no Vasco nada vai apagar. Aquilo realmente foi verdadeiro, principalmente na hora que o clube precisava, e fui feliz com a ajuda de todos. Conseguimos resultados e fico satisfeito em saber que a maioria da torcida tem valorizado e reconhecido o que foi feito. Me dá certa tranquilidade.
E a campanha da torcida pedindo a sua reintegração imediata?
É muito bom. Estou aguardando o meu empresário e uma definição. A princípio, teríamos uma conversa essa semana, mas não aconteceu. Vamos ver se acontece na semana que vem e conseguimos resolver essa situação. Fica chato treinar sozinho. Tem dias que você não acorda tão bem para trabalhar, mas estou fazendo a minha parte, cumprindo tudo o que o Vasco determinou.
Como você se sente no momento?
Me sinto bem, clinicamente bem, e fisicamente melhorando a cada dia. Creio que estarei pronto em mais uns sete dias. Hoje, já faço tudo normal, treino em dois períodos. O nosso objetivo é acelerar isso. Tenho que treinar mais mesmo.
Tem acompanhado as notícias publicadas sobre você nos últimos dias?
Alguma coisa acabo lendo, não tem como. Fico em casa, ansioso, ocioso, e esperando as coisas acontecerem. Mas procuro não ficar muito vidrado nisso. Gera sofrimento também ver as coisas acontecerem e o que os outros estão dizendo. Algumas situações não são tão legais.
Quantas vezes você já respondeu se “está mais maduro” durante a carreira?
Essa pergunta já foi feita várias vezes mesmo (risos). Faz parte.
Pelo o que está enfrentando talvez seja o momento em que se sinta mais nessa condição, não?
O ser humano vive em busca de evolução. Acho que ninguém no mundo está suficientemente maduro. Estamos em processo de maturação constante. Estou caminhando todos os dias e sempre tentando melhorar. Estou sujeito a chuvas e trovoadas como qualquer um. Já falei isso outras vezes. Aprendemos com as dificuldades e ganhamos fortalecimento. Mas não quer dizer que qualquer pessoa será perfeita daqui para frente.
Qual é o seu sonho atual?
Voltar a jogar é o principal. Esse é o combustível do atleta. Quando você não faz isso é angustiante, triste, e espero que tudo seja resolvido o mais rápido possível. Fico feliz pelas pessoas que me conhecem terem o exato conhecimento de como penso, do meu coração, as situações que também me fragilizam, tudo isso... Ninguém é super-homem. Não vou falar para você que estou feliz da vida e forte. Isso não é verdade. Estou procurando buscar forças e trabalhar. Aos fins de semana, fico em casa vendo os jogos pela televisão e realmente não é legal. Tenho família, dois filhos, e o pessoal que tem orgulho do que faço queria me ver jogar. Tomara que possa ser resolvido da maneira mais tranquila.
A última temporada [passou por três clubes sem destaque e colecionando dispensas] pode ser colocada como a pior da sua carreira?
Foi um ano péssimo. Sou um cara que sei do meu potencial e muito crítico. Acho que a maior cobrança sempre será a minha. Não tenho vergonha nenhuma de falar que 2011 foi um ano profissionalmente horrível. Fiz dois gols o ano inteiro. Um pelo Grêmio na Libertadores e outro em disputa de pênalti. Na verdade, nem sei se posso considerar esse último (risos). Isso é muito complicado. Tirei um aprendizado importante e tenho a certeza de que cresci ainda mais com essas coisas ruins. Tenho observado muito no momento e tentado aprender o máximo possível.
As discussões com dirigentes do Vasco ficaram marcadas no ano passado. Você errou?
As pessoas sempre erram. Não fujo nunca aos meus erros e também faço questão de lembrar quando acerto. Sou uma pessoa que reconhece as situações. Sei que errei em algumas coisas, mas nada que possa apagar o que já fiz pelo Vasco.
E as pessoas que te chamam de maluco, jogador problema, essas coisas?
Essa coisa do maluco é um negócio interessante. Se você for pegar na história, os grandes malucos que existiram no mundo foram os caras mais sábios, que inventaram, criaram coisas importantes. Maluco até de certa forma não é ruim. Sou um cara do bem, embora muita gente me julgue dentro de campo pela forma com a qual atuo. Pelo fato de ser competitivo, mas isso não posso mudar.
Em razão dessa situação, sente-se pré-julgado no que envolve a possibilidade de voltar ao dia a dia do Vasco?
Vi uma enquete recentemente sobre isso. É uma minoria que fala alguma coisa e temos que entender. Ninguém é unanimidade. Nem Jesus Cristo foi. Não me sinto pré-julgado. No mundo em que vivemos não precisamos nos preocupar em ficar dando satisfação para muita gente. Desse jeito você fica pirado. Procuro fazer o meu melhor quando estou em campo para quem gosta de mim, os torcedores do Vasco que sempre me apoiaram, os meus familiares, meus filhos, amigos. E são essas pessoas que tem me dado força no momento. Treino e sempre tem um grupo de torcedores dando força e pedindo que me esforce para voltar. Isso é bacana.
A relação com o presidente Roberto Dinamite [jogador e dirigente se desentenderam no ano passado antes da sua saída do Vasco] seria um problema para isso?
A relação hoje é a melhor possível. Nos falamos em São Januário algumas vezes já. Não tivemos a oportunidade de conversar longamente ainda, pois tinha muita gente. Mas isso é passado. Sei que ele tem muita vontade de resolver isso. Eu também tenho e vamos solucionar da melhor forma.bustível do atleta. Quando você não faz isso é angustiante, triste, e espero que tudo seja resolvido o mais rápido possível. Fico feliz pelas pessoas que me conhecem terem o exato conhecimento de como penso, do meu coração, as situações que também me fragilizam, tudo isso... Ninguém é super-homem. Não vou falar para você que estou feliz da vida e forte. Isso não é verdade. Estou procurando buscar forças e trabalhar. Aos fins de semana, fico em casa vendo os jogos pela televisão e realmente não é legal. Tenho família, dois filhos, e o pessoal que tem orgulho do que faço queria me ver jogar. Tomara que possa ser resolvido da maneira mais tranquila.
Fonte: UOL