Nem Neymar ou Messi. O artilheiro do último fim de semana não joga a Libertadores e muito menos a Liga dos Campeões. Celsinho Ferrão é atacante do Queimados e marcou todos os oito gols da vitória de sua equipe sobre o CSE Arthurzinho por 8 a 2, pela Série C do Campeonato Carioca. Após o feito histórico, o jogador de 28 anos, que é formado e dá aulas de educação física em escolas da Baixada Fluminense, evita comparações, mas quer aproveitar os 15 minutos de fama para crescer no mundo da bola.
- A brincadeira do momento é que Messi fez cinco gols e Neymar três, então a soma dos dois dá os oito gols que fiz. Mas é brincadeira dos outros. Foi engraçado porque aconteceu na semana que eles fizeram os gols (Messi marcou cinco sobre o Leverkusen, pela Liga dos Campeões, e Neymar marcou três na vitória sobre o Inter, pela Libertadores). Sem comparação. Eu jogo a Série C do Carioca - disse o atacante, com os pés no chão.
Morador do município que dá nome ao clube que defende, Celsinho até gosta de ver os craques Messi e Neymar jogando, mas é fã mesmo do futebol de um atacante que já pendurou as chuteiras: Edmundo. Curiosamente, com os oito gols que marcou domingo, ele superou seu maior ídolo, que balançou a rede do União São João seis vezes, em 1997, ano em que o Vasco se sagrou tricampeão brasileiro. Aliás, é do Animal o recorde de gols em uma só partida da principal competição nacional.
- Sou vascaíno e fã do Edmundo. Muito bom ter superado o meu ídolo. Lembro os gols que ele marcou contra o União São João. Tenho foto com o Felipe e agora só falta tirar uma com o Juninho - admitiu Celsinho.
Mas a trajetória do homem-gol do Queimados é bem diferente da percorrida por seus ídolos. Formado em Educação Física, Celsinho foi “obrigado” pela mãe a concluir os estudos antes de se dedicar ao futebol. Assim, ele não passou por divisões de base e se destacava apenas nos campeonatos amadores da região. Mesmo nos dias de hoje ainda não vive a rotina de um jogador profissional. Quando não está treinando ou jogando, o novo artilheiro do pedaço dá aulas em escolas da região onde mora. E apesar das muitas atribuições, garante que tem fôlego de sobra.
- Minha mãe queria que eu estudasse e fosse alguém. Nunca tive oportunidade de jogar em clube grande, porque ela preferiu que eu estudasse. Mas hoje sou professor de educação física e trabalho em escolas de manhã, porque a maioria dos treinos é à tarde. À noite volto a trabalhar. Mas dá para conciliar sim. Tanto que antes do jogo de domingo trabalhei em uma empresa de eventos esportivos. Não faltou fôlego, daria até para mais gols naquele jogo, só que a bola não entrou - brincou o jogador que ainda vive com a mãe.
Sobre os oito gols, Celsinho não vê o feito como tão incrível assim. Ele garante que já havia atingido a marca em um campeonato amador e diz que eles saíram naturalmente.
- Os lances foram surgindo e os gols foram saindo. O adversário não era fácil, mas o nosso time pegou o rival de surpresa e tornou o jogo fácil. Os gols foram saindo naturalmente - garantiu.
Apesar da idade, Celsinho não desanima e quer aproveitar a chuva de gols desse domingo para conseguir um contrato melhor, quem sabe até no clube do coração, o Vasco...
- Tenho sonho e almejo algo melhor. Se for no Vasco, fico feliz, mas se for outro clube, vou ficar também. A vontade é seguir a carreira aproveitando tudo isso que está acontecendo.
No Queimados ou em qualquer outro clube, a verdade é que Celsinho já faz parte de um seleto grupo, que além de Edmundo e Messi, tem ainda o rubro-negro Durval, que fez sete gols na vitória do Fla sobre o Campos por 13 a 1, em 1950, e Dadá Maravilha, que marcou surpreendentes dez gols no triunfo do Sport sobre o Santo Amaro por 14 a 0 em 1976.
- Quando fui ver, estava fazendo história - afirmou o até então desconhecido Celsinho.