No dia 20 de março de 1993, em Sydney, na Austrália, a Seleção Brasileira Sub-20 foi a campo para enfrentar Gana, na final do Mundial da categoria. Os africanos saíram na frente. Yan, formado no Vasco, empatou. E a dois minutos do fim, outro vascaíno, Gian, fez o gol da virada. Gol de um título mundial. Gol de um garoto que, na época, colecionava elogios e parecia ter um futuro promissor.
Não foi o que aconteceu. Giancarlo Dias Dantas, o Gian, "bateu na trave". Ainda fez relativo sucesso pelo Vasco, mas na principal conquista do clube, a Libertadores de 1998, ele já havia perdido espaço para Juninho Pernambucano, Pedrinho e os experientes Ramon e Vagner. Não fez nem parte do elenco. E começou a perambular até parar no Independente, de Tucuruí, cidade a mais de 300 quilômetros de Belém, capital do Pará.
Aos 37 anos, ele é o jogador mais conhecido num elenco modesto que mede forças com o São Paulo nesta quarta-feira, no Mangueirão, na estreia da Copa do Brasil.
– É o dia de fazer história. Temos consciência do que essa partida representa para o nosso torcedor. Temos de estar na melhor noite das nossas vidas e torcer para que falte inspiração a eles. Mas, acima de tudo, é preciso entrar em campo e acreditar – disse o jogador.
Gian surgiu para o futebol no Matsubara, em 1989. Dois anos depois, foi contratado pelo Vasco e passou a colecionar convocações para as Seleções Brasileira sub-17 e sub-20.
A história dele no futebol é longa. Mas até hoje, sem dúvida nenhuma, guarda com mais carinho os anos que viveu no Vasco.
– Não tem como não ser dessa maneira, foram muitas alegrias, amigos que fiz para a vida inteira. Até hoje converso com vários atletas da minha época, como o Valdir e o Yan, que já pararam. Eu estou aqui, com um gás extra, me preparando para pendurar a chuteira em no máximo dois anos – afirmou.
Enfrentar o São Paulo fazia parte da rotina de Gian quando jogador do time carioca. Ele até já marcou contra o adversário desta quarta-feira. Foi no dia 3 de novembro de 1994, em jogo realizado no estádio do Maracanã e válido pelo Campeonato Brasileiro
– De falta, fiz um dos gols da vitória por 2 a 0. O outro, se não me engano, foi marcado pelo Valdir Bigode. Lembro muito daquele jogo, nosso técnico era o Sebastião Lazaroni e o Telê Santana comandava o São Paulo. Hoje a situação é diferente, não há comparação entre a realidade deles e a nossa aqui no Independente, mas espero que a minha canhotinha ainda possa fazer a diferença – disse, bem humorado.
Gian saiu do Vasco em 1998, ano em que o Gigante da Colina levou o caneco da Libertadores. O meia aceitou uma proposta do Lucerna, da Suíça, onde permaneceu por três temporadas. Quando voltou, passou pela Portuguesa Santista e Remo. Em 2005, voltou a jogar pelo Vasco, onde disputou apenas três partidas e, na sequência, retornou ao futebol paraense, onde defendeu o Remo e Paysandu. Passou ainda por Santo André, Ceará e Goiás, onde, em 2008, decidiu parar de jogar.
– Estava cansado, já tinha jogado bastante, achei que era hora de procurar algo para fazer. Só que em 2009, um amigo meu, gerente do Remo, Abelardo Sampaio, me fez um convite para voltar a treinar. Resolvi aceitar e, em 2010, joguei no Castanhal. No ano passado, vim para o Independente e conquistamos o inédito título paraense. Nunca uma equipe do Interior havia vencido o campeonato. Até hoje me lembro da festa que foi feita na cidade – contou.
Quando já era atleta profissional do Vasco, Gian ainda figurava nas categorias de base da Seleção Brasileira. Foi campeão sul-americano sub-17 em 1991 e mundial sub-20 em 1993. Em 1995, uma fratura na tíbia e no perônio o tirou do grupo que disputou o Pré-Olímpico e a Olimpíada de 1996.
– Lembro que vivia uma grande fase nessa época. Era o vice-artilheiro do Campeonato Carioca, atrás apenas do Túlio Maravilha. Eu me machuquei em um jogo contra o América e fiquei um ano todo parado para me recuperar. Na época, fiquei frustrado, arrasado, mas as lesões também fazem parte da carreira de qualquer jogador.
Com o fôlego renovado, Gian acredita ter caixa para mais um ou dois anos. No entanto, mesmo quando parar, a ideia é continuar trabalhando no futebol paraense. Comprar um terreno para construir um centro de treinamento e revelar garotos é uma das ideias do jogador, que espera poder contribuir para melhorar o nível do futebol do estado.
– Hoje, o estado do Pará não tem nada a oferecer para o futebol dentro de campo. Não há investimento, a estrutura é precária demais – disse Gian.
– O que existe é um torcedor apaixonado que, mesmo sem ver o time que gostaria, gasta seu dinheiro e vai ao estádio. Precisamos mudar essa realidade – emendou.
E esse sonho, para Gian, passa por uma vitória contra o São Paulo. Como nos velhos tempos de Vasco.