A promessa é de que em fevereiro de 2013 o carioca receba um estádio novinho. Do lado de dentro, apesar da modernidade e da maior comodidade, a nova arena pouco lembrará o antigo Maracanã. Enquanto o novo cenário terá de construir suas próprias glórias - o que pode acontecer já em 2014 -, parte importante da história do futebol brasileiro ficará apenas na memória do torcedor. Ou não.
Fatiado, o velho Maracanã não ficará apenas nas lembranças dos torcedores, mas também terá os mais variados e inusitados destinos. Em busca do certificado verde, exigido pela Fifa e pelo BNDES – financiador das obras de nove dos doze estádios para a Copa do Mundo de 2014 -, o consórcio que toca os trabalhos no Maracanã busca desviar de aterros e lençóis freáticos 75% dos entulhos gerados durante toda a reforma.
Da lama à picanha
Grande parte da lama retirada do estádio, por exemplo, é reaproveitada e está nas casas de muitas pessoas, mesmo que elas não saibam. Quatro toneladas já foram retiradas e doadas para uma fábrica de cerâmica, em Tanguá, município localizado a 65 km da capital fluminense. O próprio consórcio custeia o transporte. Da lama, que no processo de fundação chega a ser retirada de uma profundidade de até 20 metros, já foram gerados 1.750 telhas e 465 mil tijolos que, em sua maioria, viraram churrasqueiras.
- O processo de fundação normalmente gera muita lama. A solução que achamos foi essa, para evitar que a lama fosse para o aterro e gerasse poluição. É algo inovador. A característica da lama do Maracanã também ajudou e proporcionou sua reutilização como cerâmica. A lama do Maracanã, assim como o próprio estádio, é especial. E leva um pouco da emoção dos jogos – brincou o geólogo Felipe Drummonut, um dos responsáveis pelo processo.
Se da lama saem churrasqueiras, o solo do Maracanã é reaproveitado para uma causa ainda mais nobre e pode ajudar a salvar vidas. Doado para a secretaria municipal de Meio Ambiente do Rio de Janeiro, ele está na Ilha de Guaratiba, em um viveiro de mudas de árvores da Mata Atlântica. Segundo os técnicos, o solo do Maracanã é rico, pois foi tratado durante anos com biofertilizantes. As mudas são tratadas numa espécie de berçário de árvores e depois plantadas nas encostas do Rio de Janeiro, no programa “Mutirão Reflorestamento”, diminuindo, por sua vez, o risco de deslizamentos.
O material recebido das obras do Maracanã, até o momento, foi de 958 m3 de solo arenoso, que já foi transportado e depositado na Fazenda Modelo, em Guaratiba, onde a secretaria de Meio Ambiente conduz a produção de mudas. O solo vem ajudando a secretaria a manter o trabalho de mais de 20 anos de reflorestamento nos morros cariocas.
A grama do Maracanã, no entanto, não pôde ser reaproveitada, uma vez que tem data de validade e enfrentava problemas com pragas.
O que mais gera entulhos são as britas e ferros da destruição das arquibancadas. Alguma coisa deu para ser reaproveitada na própria reforma do Maracanã, mas a maior parte foi doada. Foram 90 toneladas, que geraram aço e ferro, cedidos para uma grande indústria de aço brasileira, que conta com o certificado ecológico.
- Um equipamento separa automaticamente a brita dos ferros – revelou o técnico em meio ambiente do Maracanã, Rafael Kyoshi.
Traves com o futuro incerto
Já as cadeiras do Maracanã tiveram 40 destinos diferentes. Quem mais recebeu foi a prefeitura de Petrópolis, que cedeu 8 mil assentos para o estádio Atílio Marotti, onde joga o Serrano. O estádio Cláudio Moacyr de Azevedo, em Macaé, vem em seguida, com 7 mil. Diversos clubes pequenos, como Bangu, São Cristóvão, CFZ, Nova Iguaçu, Olaria, Bonsucesso, Boavista, Americano, entre outros, também receberam assentos. Até times grandes, como Botafogo, Fluminense e Flamengo também foram beneficiados. O Rubro-Negro, por exemplo, ganhou mil cadeiras. Boa parte delas foi instalada no estádio de basquete, na sede do clube, na Gávea.
Por fim, as antigas traves do Maracanã. Elas não são tão velhas, mas já acumulam histórias. Instaladas em 2007 para a disputa dos jogos Pan-Americanos, estavam lá quando Elano marcou após a incrível jogada de Robinho, apelidada de “vai pra lá, que eu vou para cá”, na vitória da Seleção Brasileira por 5 a 0 sobre o Equador, em 2007, pelas eliminatórias da Copa. A outra trave, que ficava localizada à direita das cabines de imprensa, viu de perto a cabeçada de Ronaldo Angelim, que deu o título brasileiro ao Flamengo, em 2009, após 17 anos de fila.
Se têm muita história para contar, as traves ainda não têm um destino certo. Estão encostadas em um canto num galpão, no ginásio do Maracanãzinho. A idéia inicial é que sejam reaproveitadas em um possível museu do Maracanã. O projeto, porém, ainda é embrionário.
As traves do Maracanã, instaladas em 2007, esperam destino
Antigas cadeiras do Maracanã estão espalhadas por diversos estádios do Rio