Magrão, goleiro do Sport, relembra milésimo gol de Romário

Domingo, 04/03/2012 - 10:05

Central e Sport estavam em campo há exatamente uma semana, quando aos 31 minutos do primeiro tempo o atacante Waldson foi derrubado na área pelo zagueiro Tobi. Ele próprio teve a incumbência de tirar o zero do placar na cobrança do pênalti. Mas, acabou se deparando com Magrão, ídolo inquestionável do Leão. Sem falar nada, olhando pouco para o cobrador, prestando atenção na bola posicionada na marca da cal, o goleiro rubro-negro ia para mais um pênalti da carreira. Não ficou de um lado para o outro, apenas estático, esperando a cobrança, que poderia abrir mais uma enxurrada de perguntas por mais um tropeço do time. Waldson bateu no canto esquerdo e o camisa 1 pulou encaixando a bola, colecionando mais uma defesa.

A descrição acima é o comportamento padrão que o capitão leonino tem ao encarar uma penalidade. Raramente fala com o cobrador, a sua concentração é totalmente focada na bola. Apesar de não se considerar um especialista, Magrão tem um bom aproveitamento e defesas importantes para na história do Sport.

- Eu só conto pênalti em que eu influenciei diretamente no resultado. Quando defendo, mas meu time não ganha, eu descarto. É assim com aquela defesa pela Libertadores de 2009, quando a gente foi desclassificado nas oitavas de final contra o Palmeiras, na Ilha do Retiro. Peguei a primeira cobrança da série, a de Mozart, só que perdemos por 3 a 1 - disse Magrão.

Das inúmeras defesas, algumas Magrão conseguiu evitar um resultado negativo. Apesar das últimas décadas os goleiros se aventurarem no ataque e marcarem seus gols, tradicionalmente, para um goleiro, a sensação equivalente a de um artilheiro explodir de alegria por mais um gol marcado, é a de segurar um pênalti numa partida. Imagine então se essa penalidade acontece aos 45 minutos dos segundo tempo? É o gol da vitória.

- O pênalti mais importante que defendi foi na Ilha do Retiro, contra o Fluminense, em 2008. Estávamos ganhando por 2 a 1, quando foi marcado um pênalti de César em cima Léo. Dodô, que no minuto anterior, tinha feito um gol de falta em cima de mim, foi cobrar. Tudo isso ao 45 minutos do segundo tempo. Foi um silêncio no estádio. Quando ele bateu, defendi, parecia que tinha sido gol. A torcida gritando, meus companheiros me abraçando. No minuto seguinte, o juiz terminou a partida. Garanti o resultado - lembrou Magrão, da partida realizada nas vésperas das semifinais com o Vasco, pela Copa do Brasil.

Magrão diz que não dá para visualizar nenhum semblante da torcida, mas que o peso, o clima de tensão impregnado no ar é sentido por quem está embaixo das traves.

- Não tem essa de "entrar" em um universo paralelo. Você escuta tudo que vem da arquibancada, sente a tensão dos torcedores. Mas não fico nervoso, porque a responsabilidade é do cobrador. Ele tem tudo a favor. A barra imensa e a distância é curta, por isso nunca fico pensando na hora "tenho que pegar, tenho que defender". Esse peso é com ele - explicou.

O camisa 1 já sentiu esse peso. Na semifinais da Copa do Brasil, no jogo em o atacante vascaíno Edmundo se aposentou, após isolar a sua cobrança, Magrão mudou de lado. Ele bateu a terceira penalidade da série que acabou 5 a 4 para o Leão. Bateu no alto, a bola raspou o travessão do goleiro Thiago, quase que perde.

- Nem pensei na forma como ele defendia. Fui para a cobrança sabendo como iria bater. Nos treinamentos, eu estava entre os cinco melhores aproveitamentos. Então, durante a semana, o técnico Nelsinho Baptista me disse que se tivesse disputa de pênalti, eu seria um dos escolhidos. Aceitei - revelou o veterano de 34 anos.

Milésimo gol de Romário não deu para evitar

E foi em um pênalti contra o Vasco que Magrão entrou para história do futebol brasileiro. Só que neste caso, ele ficou marcado em ter levado o gol, mas não foi qualquer gol, foi o milésimo do atacante Romário, em 2007, no ano anterior ao jogo citado acima.

- Quando Romário entrou nos 999 gols, fui logo ver a tabela do Campeonato Brasileiro e o Vasco iria enfrentar o Sport na segunda rodada. Pensei, pronto, é bem fácil ele ainda estar faltando o milésimo contra a gente. Dito e feito. Sabia que ele sempre batia rasteiro, na minha esquerda. Só que caí na besteira de conversar com meu pai, na véspera do jogo. Quando ligo para ele da concentração, meu pai me diz ‘já sabe, né, se tiver pênalti, pula na direita, que ele só bate lá’. ‘Ná direita? É na esquerda’, respondi. ‘Nada, vá por mim, é direita’. Quando aconteceu a falta dentro da área, fiquei numa tremenda dúvida. ‘E agora? é direita ou esquerda, esquerda ou direita’. Fui na do meu pai e Romário bateu rasteiro, no canto esquerdo. Levei esse gol por causa dele - lamentou Magrão, que não tem problema em conversar sobre o assunto.

Defesas sobre a LDU na primeira fase da Libertadores de 2009 e sobre Rogério Ceni , goleiro do São Paulo, também ficaram marcadas. E apesar de ter a intuição na hora da defesa, Magrão disse que o estudo dos cobradores é o que faz a diferença.

- Assisto vídeos dos principais batedores. Waldson, do Central, na semana passada pelo Pernambucano, foi assim. Pulei sabendo que ele iria bater no canto esquerdo, rasteiro. Quase todos os pênaltis que pego são dessa forma. Lógico que às vezes tem a intuição de perceber que o cara vai mudar - disse Magrão, que é fã de Dida e Taffarel na arte de segurar pênaltis.

O goleiro do Sport explica que não é muito de provocar, mas de vez em quando, gosta de tentar desconcentrar os cobradores.

- Raramente faço, mas quando falo, normalmente é quando conheço o cobrador. Fiz isso com o meia Kássio, do Serra Talhada, neste Estadual. Ele foi segurar a bola, cheguei nele e disse ‘o que é que você tá fazendo aí Kássio? Já cansei de pegar bola tua nos treinamentos, tu sabe que vai perder’. Dei essa provocada, no entanto ele acabou fazendo - revelou Magrão, que é amigo de Kássio, cria das categorias de base do Sport.

Magrão é um estudioso dos penais e não é de provocar, nem de chamar a atenção com movimentos bruscos nos segundos que antecedem ao chute. Considera a batida no meio da barra a mais difícil de defender, já que assim como a maioria dos goleiros, escolhe um canto para pular. Tantos ingredientes e análises para a inevitável pergunta, pênalti é loteria?

- É demais. Tudo pode acontecer. Tem o psicológico, a batida diferente, o estilo do chute. É loteria sim. Só não concordo com uma coisa quando falam de pênalti. Quando o cobrador perde a penalidade com uma defesa do goleiro, falam que o batedor errou, chutou mal. Tá errado, foi o goleiro que defendeu bem. Mérito é para o camisa 1. Nunca se bate mal um pênalti, se pega bem.



Fonte: GloboEsporte.com