O Fluminense saiu da fila e entrou em outra disputa. Agora, a briga é para mudar a fórmula do Campeonato Carioca. Vencer a Taça Guanabara depois de 19 anos foi um alívio imediato na pressão interna e externa por resultados. Mas fora de campo, o clube enxerga na atual fórmula da competição uma das causas de uma asfixia financeira e técnica para os quatros grandes do Rio logo no começo de temporada. O Fluminense terminou em primeiro na tabela e também lidera um movimento, ao lado de Botafogo, Vasco e Flamengo, para a elaboração de um projeto que irá propor à Federação a alteração nas regras do jogo.
A principal é a redução do número de times participantes, que atualmente são 16.A reluzente Taça Guanabara exposta nas Laranjeiras hoje era o reflexo do sucesso do time em campo. Na sala ao lado do pedestal, o presidente Peter Siemsen estava debruçado em uma planilha repleta de números na qual não havia brilho algum. Só a cor vermelha saltava aos olhos.
Depois de nove jogos na Taça Guanabara, o campeão ficou com um lucro total de R$ 185.401,22. Somente com o pagamento dos salários de Fred, Deco e Thiago Neves, o Fluminense e a Unimed (responsável pela maior parte devido aos direitos de imagem dos jogadores) gastam cerca de dez vezes mais. Os três, juntos, recebem aproximadamente R$ 1,8 milhão. No Flamengo, o salário de Ronaldinho Gaúcho é de R$ 1,3 milhão.
"Há um excesso de times que não têm o poder de contribuir economicamente para o campeonato. Por isto, o Carioca não é rentável. Os clubes grandes pagam para jogar e, no nosso entendimento, é preciso reduzir o número de clubes participantes. Conversamos, os quatro grandes e vamos criar grupos de estudo para achar a solução e encaminhá-la à Federação, que está receptiva à ideia. O ponto crucial é a diminuição das equipes para o aumento da qualidade e receita", disse Siemsen, que hoje à tarde ainda não tinha informações sobre o prêmio a ser pago ao campeão pela Federação.
Na decisão da Taça Guanabara no último domingo, quando o Engenhão recebeu o maior público do campeonato até agora, com 31. 276 pagantes e 36.364 presentes, a renda bruta foi de R$ 1.094.535,00. Como não havia mandante, Vasco e Fluminense receberam, cada um, R$ 232.511,40. As despesas do jogo consumiram a maior parte: R$ 629.512,21. Deste valor, a Federação ficou com uma taxa de R$ 109.453,50.
Com ingressos promocionais foram gastos R$ 145.230,00, mais R$ 24.980,40 para uma cooperativa de Federação (Coopaferj), R$ 40 mil de aluguel do estádio e mais R$ 35 mil de despesas operacionais do Engenhão, entre outros itens, como confecção de ingressos a R$ 98.382, credenciamento (R$ 4.315), R$ 7.500 de taxa de iluminação e até transporte de van: R$ 185.
"Dos nove jogos que fizemos, pagamos para jogar em quatro deles, contra o Boavista, Duque de Caxias, Bangu e Vasco. Até contra o Vasco, na fase de grupos, tivemos um prejuízo de R$ 45 mil. Não é justo. Os clubes de menor porte montam times de empresários para vender jogador. Cobram valores irrisórios para vender patrocínio na camisa e têm a mesma exposição dos patrocinadores dos clubes grandes, que gastam uma fortuna. Não há saída. É preciso diminuir a fase de grupos e valorizar as semifinais e finais para evitar a decadência técnica e econômica. Sem as cotas da TV, estaríamos mortos", declarou Siemsen.
Mesmo com a parceria dos grandes contra os pequenos, o presidente do Fluminense aproveita para fazer uma reivindicação ao amigo Maurício Assumpção, presidente do Botafogo, que administra o Engenhão:
"Não deveríamos pagar taxa para jogar no estádio se geramos receita para o concessionário levando torcida para o estádio, que come hamburguer, paga estacionamento... Mas já recebi este contrato amarrado".
Enquanto o presidente destrinchava os números, os titulares aproveitaram as horas de folga. Apenas os reservas treinaram para o jogo com o Resende, quarta-feira, na estreia da Taça Rio. Campeão de quase tudo ao redor do mundo, Deco valorizou a conquista local. "O Carioca é um campeonato charmoso e lembro que o assitia na TV. Mais ainda temos todo um turno pela frente", disse Deco.
Fonte: Agência O Globo