O ritmo mudou para Daniel Freitas. O diretor executivo de futebol do Vasco ainda vai completar dois meses na função, mas o que viveu no clube até o momento já o deixa com a sensação de uma bagagem interminável. Assim que assumiu, ele precisou comandar a reformulação do elenco após a saída de Rodrigo Caetano. Conduziu o processo e logo em seguida enfrentou turbulências inesperadas.
Os atrasos de salários, interrupções no regime de concentração, além da ação movida pelo meia Bernardo na Justiça foram obstáculos superados pelo dirigente. Como prêmio, a possibilidade de conquistar a Taça Guanabara, o que seria o seu primeiro título na nova função, domingo, às 16h, no Engenhão, contra o Fluminense.
Na última sexta-feira, Daniel Freitas recebeu a reportagem do UOL Esporte em sua sala no departamento de futebol do Vasco. Celulares em punho, computador ligado, papelada em cima da mesa, e a clara noção de que o anonimato ficou realmente no passado.
“Não esperava que todos os problemas acontecessem no mesmo instante. Sabemos que a função envolve lidar com eles, mas geralmente acabam diluídos ao longo do ano. Desta vez tudo se concentrou no mesmo momento. Acho que saio fortalecido”, afirmou.
Confira abaixo a entrevista exclusiva com o diretor executivo de futebol do Vasco:
Decisão da Taça Guanabara
“É uma responsabilidade muito grande. Claro que estou bastante ansioso, uma coisa normal para todo profissional envolvido em uma situação assim. Sei que a torcida espera muito esse título até por conta dos últimos desempenhos que o Vasco teve em Estaduais. Sabemos que é uma competição com valor diferenciado pela rivalidade. A conquista da Taça Guanabara é fundamental para o nosso planejamento do primeiro semestre. Esperamos chegar bem na final do Campeonato Carioca e no decorrer da Libertadores. Isso passa por obter êxito no domingo. Na realidade, nos daria uma vantagem imensa ao longo dos próximos meses e decorrer das competições que teremos pela frente. É um planejamento traçado desde o início do ano”.
Conversa com Rodrigo Caetano antes do jogo
“Não nos falamos e acho que dificilmente vamos nos falar. Apenas antes do jogo no estádio como sempre acontece. Vamos nos cumprimentar, mas na realidade não tem nenhum motivo especial para nos falarmos por conta do jogo”.
Relação atual com os jogadores
“Na verdade, passei a resolver questões que antes não tratava. Elas eram resolvidas pelo Rodrigo Caetano, mas no dia a dia a relação continua a mesma. Uma relação de total respeito. Eles brincam, mas sempre me respeitaram desde quando era supervisor. Hoje, eles sabem que em alguns momentos preciso cobrar de uma forma mais contundente até por ser o responsável pela condução de todo um departamento”.
Série de obstáculos logo no início
“Não esperava que todos esses problemas acontecessem no mesmo instante. Sabemos que a função envolve lidar com eles, mas geralmente acabam diluídos ao longo do ano. Desta vez tudo se concentrou no mesmo momento. Foi uma dificuldade a mais nesse início de trabalho, mas acho que me preparou para desafios ainda maiores no futuro. Ainda vou completar dois meses de trabalho. Acho que saio fortalecido. Deu para mostrar que temos uma boa relação com o grupo. Apesar dos problemas, conseguimos manter todos focados e alcançando os resultados”.
Cobrança dos familiares e amigos
“Alguns amigos vascaínos ligam sempre e falam coisas absurdas. Cobram muito, dizem que precisamos entrar para ganhar. É claro, isso vai ser sempre (risos)... Escuto, mas não muda nada na postura dos jogadores. Não dá para levar em consideração. É um posicionamento de torcedor e não podemos trabalhar assim”.
Mudança na rotina e assédio nas ruas
“O que incomoda um pouco é perder a privacidade. Hoje não tenho mais o anonimato enquanto supervisor, pois estou me tornando uma pessoa pública. Já aconteceu duas vezes de me pararem no meio da rua. Estava com a minha esposa no shopping e um cara perguntou para ela: “Esse é o Daniel Freitas do Vasco?”. Ela respondeu que sim. O cara ficou indignado: “Mas, não pode, aqui em Campo Grande?! (risos)”. Conversamos, expliquei para ele que morava lá. Depois, me desejou sorte. Outro dia, no mercado, foi a mesma coisa. Um torcedor parou e me deu parabéns (risos). Não fico assustado, tento levar na maior naturalidade, mas sei que em alguns momentos não vai ser a coisa mais tranquila”.
Os dois lados da moeda
“O importante é se preparar para isso. Quando as coisas estão indo bem todos dão tapinha nas costas e querem tirar foto. Quando o resultado não acontece as pessoas caem de pau no mesmo instante. Quando perdemos o jogo na Libertadores para o Nacional escutei vários insultos da torcida, mas estou preparado para isso. O futebol tem essas duas faces mesmo”.
Críticas
“Quando são verdadeiras e construtivas não tem problema nenhum. Gosto de ouvir, pois acho que preciso crescer e amadurecer muito ainda na função. O problema é que em determinados momentos leio e escuto críticas infundadas. Isso chateia muito, mas o trabalho precisa seguir”.
Programação do Vasco após a Taça Guanabara
“Independentemente do resultado a nossa prioridade é colocar a questão financeira em ordem no menor espaço de tempo possível. Temos que atacar isso, pois conseguimos sanear parte dos débitos, mas ainda não conseguimos resolver tudo. Estamos trabalhando com os outros setores do clube. O outro passo é focar na Libertadores, que não começou da maneira que gostaríamos. Precisamos nos recuperar nas três próximas rodadas e ter uma primeira fase com êxito”.
Fonte: UOL