No dia em que o Vasco anunciou o jogo de despedida de Edmundo, em homenagem ao ídolo do passado, as atenções foram para Bernardo, suposto candidato a ídolo do futuro, que pode ter feito sua última partida contra o Volta Redonda anteontem. O meia entrou com ação na Justiça do Trabalho para se desvincular do clube, com base nos salários e luvas atrasados e o não recolhimento de 13 meses do FGTS. Até a situação se resolver, a diretoria resolveu afastá-lo para ser preservado em relação à torcida. O próprio jogador alegou não ter condições psicológicas de continuar no grupo neste momento.
Ontem, ele se reapresentou em São Januário, mas não treinou. O meia apenas conversou com o diretor-executivo Daniel Freitas e foi embora, acompanhado pelos pais. O clube deixou claro que não permitirá a saída de Bernardo facilmente.
Sócios emprestam dinheiro
A diretoria confirmou o pagamento dos salários atrasados e espera resolver as outras pendências em breve.
— Recebemos a notificação. O Vasco hoje (ontem) fez o pagamento de janeiro e está dentro da normalidade. Vamos apresentar aquilo que se faz necessário para que as coisas sejam resolvidas. Não acho o melhor caminho. É um jogador importante, que mostrou espírito voluntarioso, fez gols importantes. Por esses motivos, o Vasco fez investimento alto na sua vinda para o clube. Para preservar o atleta, que é um patrimônio do clube, neste momento tomamos esta decisão. Acredito que ele logo estará junto com o grupo — afirmou o presidente Roberto Dinamite, durante a entrevista coletiva de Edmundo.
No final de 2011, o Vasco teve de correr atrás de dinheiro para conseguir comprar metade dos direitos econômicos do atleta do Cruzeiro pelo valor de R$ 3,5 milhões. A verba foi emprestada por torcedores ilustres vascaínos. Apenas no último dia do prazo para garantir a opção de compra, o clube depositou o valor aos mineiros. Durante todo o período, do fim do Brasileiro até o pagamento, Bernardo reafirmou constantemente a vontade de ficar em São Januário. Ele havia sido emprestado pelo Cruzeiro, onde tivera problemas disciplinares — assim como no Goiás, de onde fora dispensado no ano anterior. O jogador assinou contrato com o Vasco até o fim de 2015.
Enquanto a decisão judicial não for tomada, o meia não poderá assinar contrato com outro clube. Caso consiga sua liberação, o Vasco ficaria com o prejuízo, pois não teria mais poder de negociá-lo. Sem comunicar o Vasco, Bernardo entrou em campo contra o Volta Redonda na última quarta-feira, aparentemente, determinado a sair do clube. Na tarde daquele dia, o meia entrara com ação trabalhista na 17ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, pedindo a quebra do vínculo.
— Ele pede antecipação de tutela por conta da mora salarial e o pagamento do que foi combinado. Assim, ele pode se desligar do clube antes mesmo do fim do processo — explicou o advogado de Bernardo, João Marcos Siqueira.
O Vasco foi citado ontem e o departamento jurídico do clube tem cinco dias para apresentar sua posição sobre o caso. Por causa do recesso do carnaval, a Justiça deve tratar da ação apenas a partir do dia 27 de fevereiro. Durante este período, o meia permanece vinculado ao clube.
— Até a decisão do juiz ser tomada, ele tem contrato em vigor a cumprir — explicou o advogado.
A insatisfação de Bernardo com o clube ficou evidente após a derrota do time para o Nacional do Uruguai na estreia da Libertadores. O meia, que ficou no banco de reservas, foi o primeiro a deixar São Januário ao fim do jogo. Pegou suas roupas e material no vestiário, entrou no carro e saiu do estacionamento cantando pneus. Ao ser substituído no final do jogo contra o Volta Redonda, Bernardo foi vaiado pela torcida, xingou e bateu boca com alguns torcedores que estavam nas cadeiras sociais.
Edmundo feliz com reencontros
Não é o primeiro caso de jogador do Vasco que entra na Justiça contra o clube. De volta ao Vasco no ano passado, Juninho Pernambucano saíra de São Januário em 2001 após vitória judicial. Na época, ele já estava sem contrato e não aceitou renovar por mais um ano. O caso foi parar na Fifa. Edmundo, outro ídolo vascaíno, também já processou o Vasco por falta de pagamento. Ontem, ao confirmar sua despedida oficial do clube contra o adversário da final da Libertadores de 1998, comentou o caso.
— É uma situação muito difícil e muito particular. Claro que o jogador tem suas obrigações, e o clube também. Não acredito que ele, em início de carreira, vai ter em outro clube o que o Vasco oferece. Vejo com tristeza a perda de um candidato a ídolo. Não é titular, mas recebe mais carinho dos torcedores do que alguns titulares. Eu já tive a idade dele e já fiz mais besteiras do que ele. Espero que, ao se arrepender, não seja tarde — afirmou.
Ofuscado pelo problema com Bernardo — na semana passada a coletiva de Edmundo já havia sido cancelada por causa da morte do menino Wendel, de 14 anos —, Edmundo reafirmou seu amor pelo clube. E garantiu entrar em forma até a partida, que será disputada com o time titular.
— Foi o jogo mais importante (contra o Barcelona de Guaiaquil), queria muito ter jogado aquele jogo. Quero aproveitar esse jogo, reencontrar a torcida, relembrar e me divertir também com passes de Juninho e Felipe.
Ontem, o Libertad venceu o Nacional por 2 a 1, fora, e chegou aos seis pontos no grupo 5 da Libertadores, contra três dos uruguaios. Vasco e Alianza se enfrentam dia 6 de março, no Rio.
Fonte: O Globo