Em meio aos rumores de que Ricardo Teixeira poderia deixar a presidência da CBF, o clima nos bastidores da entidade é de evidente tensão. Ontem, a convocação da Seleção Brasileira para o amistoso contra a Bósnia, dia 28 de fevereiro, escancarou a situação.
Em um hotel de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro, o costumeiro ambiente leve e descontraído que marca este tipo de evento deu lugar a semblantes sérios e rostos fechados.
O informal relacionamento entre o diretor de comunicação da CBF, Rodrigo Paiva, e jornalistas não foi visto. Paiva, conhecido pelo sorriso aberto, passou o tempo todo com cara de poucos amigos.
A possível renúncia de Teixeira e o clima incomum pautaram as conversas no local. O assunto incomodou funcionários da entidade, que, oficialmente, adotaram discursos uniformes.
Mano Menezes foi o primeiro a tratar a questão. Ao invés do bom humor demonstrado na semana anterior, durante evento de lançamento da nova camisa da Seleção, o treinador esbanjou impaciência. Sua entrevista, inclusive, foi a mais curta desde que chegou à CBF, em julho de 2010: durou apenas 14 minutos.
- Não tenho nenhuma informação (sobre a saída de Teixeira). Se tivesse, não diria. Não cabe a mim. Não analiso hipóteses, especulações. Existem outras coisas importantes para que o técnico da Seleção dê sua opinião. Não vou dar opinião sobre isso - afirmou, irritado.
Também presente, o novo diretor de seleções da CBF, Andrés Sanchez, fez suas as palavras de Mano, repetindo o que dissera no dia anterior, durante visita à sede do Flamengo:
- Não sei e não diria se soubesse.
No entanto, interlocutores da CBF não manifestaram a mesma segurança. Pelo contrário. O sentimento comum nos corredores da entidade é de dúvidas quanto à permanência de Teixeira. Ninguém garante, mas tampouco descarta a saída.
- Estamos nos fazendo a mesma pergunta - disse à reportagem um funcionário da entidade.
O clima de incerteza se acentua pelo silêncio de Teixeira. Desde a última semana, o dirigente esteve reunido com funcionários da CBF, mas não fala sobre a eventual renúncia. Os subordinados, por protocolo, não perguntam a respeito de seu futuro.
JOGO DE XADREZ
Dúvidas sobre o futuro de Teixeira ganham força com recentes trocas no comando da CBF e do Comitê Organizador Local da Copa (COL), também presidido pelo cartola.
Em novembro passado, o então presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, aceitou convite para assumir a diretoria de seleções da CBF. Hoje, o dirigente é apontado como um dos favoritos à sucessão.
No mês seguinte, foi a vez do cartola sair de cena no COL. Nomeou Ronaldo como membro do Conselho de Administração do comitê. A função do ex-jogador, segundo o próprio, é ser a imagem da entidade junto ao povo brasileiro.
Há 12 dias, Marco Antônio Teixeira, tio de Ricardo, foi demitido do posto de secretário-geral. A relação estava abalada desde o Mundial de 2006. Para seu lugar, o cartola nomeou Júlio Avelleda. A troca não surpreendeu presidentes de federações ouvidos pelo LANCE!.
Para dirigentes, a saída da CBF também poderia ser um acordo com a Fifa para impedir a divulgação dos papeis do caso ISL (leia abaixo).
CASO ISL: ENTENDA
Nos anos 90, a extinta empresa de marketing pagou cerca de US$ 100 milhões (R$ 171,9 milhões) a executivos da Fifa em troca dos direitos de TV da Copa. Teixeira teria recebido US$ 9 milhões (R$ 15,5 milhões). Segundo a rede britânica BBC, o dinheiro teria entrado no Brasil ilegalmente através da Sanud, empresa baseada no paraíso fiscal de Liechtenstein. Investigado pela Polícia Federal, Teixeira nega.
DEL NERO E MARIN: REUNIÃO
Futuro presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) caso Ricardo Teixeira renuncie ao cargo, José Maria Marin se reunirá amanhã com Teixeira, Marco Polo Del Nero e José Reinaldo Carneiro Bastos, presidente e vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), respectivamente.
Na pauta do encontro estaria a articulação sobre medidas a serem adotadas após a possível renúncia.
Del Nero aparece como um dos mais fortes candidatos à cadeira da presidência. Sua vinda ao Rio de Janeiro é encarada como o pontapé inicial em seu lobby pelo cargo de presidente da CBF.
À reportagem do LANCENET!, Carneiro Bastos confirmou que terá uma reunião, mas desconversou quando questionado se o assunto seria a sucessão eleitoral:
- Vou tratar da Série B.
Marco Polo não foi encontrado para comentar o assunto.
Fonte: Lancenet