Algo de que o torcedor sempre desconfiou agora é comprovado de forma empírica: árbitros de futebol favorecem times da casa dando a eles mais acréscimos de tempo quando estão perdendo por apenas um gol.
A constatação vale para o Campeonato Brasileiro e foi também comprovada em estudos feitos nas ligas espanhola, alemã e inglesa.
No caso desses torneios europeus, verificou-se até que havia um viés pró-time da casa na distribuição de cartões e marcações de pênaltis.
O estudo brasileiro é de Bruno Rocha e Igor Souza (UFMG), Fábio Sanches (London School of Economics) e José Carlos Silva (PUC-SP).
Ao analisar jogos dos Brasileiros de 2004 a 2008, eles encontram "fortes sinais de que os árbitros brasileiros favorecem os times que jogam em casa" por prolongar as partidas quando essas equipes estão em desvantagem.
O viés caseiro é maior em estádios pequenos e em jogos entre time de maior torcida e outro menos popular.
No modelo estatístico utilizado, eles já consideram o número de substituições e cartões assinalados, fatores que são levados em conta para decidir os acréscimos.
Na média, o resultado mostra que times da casa ganham 14 segundos a mais. Bruno Rocha explica que pode parecer pouco, mas é uma diferença estatisticamente significativa porque, no modelo, eles já consideram outras variáveis que afetariam um acréscimo maior, como o número de substituições.
Essa diferença era maior em jogos em estádios pequenos envolvendo apenas um time de grande torcida e, no caso de jogos que naquela época não foram televisionados, chegava a 43 segundos.
Em partidas em estádios grandes, com transmissão de TV e dois clubes de grande torcida, não se verificou viés no caso brasileiro.
Nas pesquisas em outros países, feitas nas ligas espanhola ou alemã, a diferença média pró-time da casa era ainda mais significativa, chegando a dois minutos.
O estudo sobre o comportamento dos árbitros em jogos de futebol faz parte de linha de pesquisa que investiga como situações de pressão influenciam escolhas.
"É humano. Ele não necessariamente faz isso de forma consciente. Mas, quanto mais o caldeirão estiver fervendo [no estádio], maior é o risco de ele ser afetado", analisa o ex-árbitro e comentarista Arnaldo César Coelho.
Fonte: Folha de São Paulo